31 Agosto 2012
Eis a dieta dos nossos filhos ou netos, se quisermos alimentar o planeta inteiro. A profecia vem de um relatório de ilustres cientistas. Mas trata-se de desejo, de uma exortação mais do que de um prognóstico: os seres humanos lhes darão ouvidos? Ou em 2050 explodirão as guerras dos alimentos, ou, melhor, da água, sem a qual praticamente não haveria nada de comestível para pôr à mesa?
A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 28-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As reservas globais de alimentos diminuem constantemente, afirma o relatório do professor Malik Falkenmark e dos seus colegas do Stockholm International Water Institute, enquanto a população mundial só aumenta. Se a humanidade continuar se alimentando nos ritmos atuais, e principalmente seguindo a dieta atual, por volta de 2050 esperam-se carências alimentares catastróficas. E por catástrofe entende-se algo muito pior do que a nada rósea realidade atual: já hoje, de acordo com dados da ONU, 900 milhões de pessoas vão dormir famintas todas as noites, e 2 bilhões são consideradas desnutridas. Mas, nas próximas quatro décadas, a Terra irá passar dos 7 bilhões de seres humanos para 9 bilhões, um aumento líquido de 2 bilhões, que tornará ainda mais dramática a carência de alimentos. E, então, o que fazer?
A resposta dos estudiosos de Estocolmo, cujo relatório foi antecipado nessa quarta-feira, 29, pelo jornal The Guardian, de Londres, é clara: o mundo deve mudar de dieta. Devemos nos tornar todos vegetarianos, ou quase. Atualmente obtemos 20% das proteínas necessárias à nossa subsistência de produtos derivados de animais, seja de carne ou de laticínios, mas esse percentual deverá cair para 5% ou talvez até menos até 2050, se quisermos evitar fomes e conflitos causados pela escassez de alimentos.
O problema original é a água. Já hoje ela escasseia e, em muitas regiões, é um bem mais valioso do que o petróleo para a sobrevivência da nossa espécie, mas daqui a 40 anos certamente ela não será suficiente para produzir os alimentos necessários para 9 bilhões de pessoas. O alimentos obtido de animais, de fato, consome de cinco a dez vezes mais água do que a necessária para uma alimentação vegetariana.
Mudar de dieta, portanto, permitiria consumir menos água para a agricultura, e não só: hoje, um terço das terras aráveis do planeta são destinadas à produção de sementes e de cultivos destinados a saciar os animais de criação. Se comêssemos menos animais, economizaríamos água e teríamos à disposição mais terras para outros usos agrícolas.
O relatório do Stockholm Institute foi publicado às vésperas da Conferência Mundial da Água, que ocorre todos os anos e que inicia esta semana em Estocolmo, com a presença de 2.500 políticos, representantes da ONU, ONGs e pesquisadores de 120 países. No congresso, serão debatidas também outras opções, como a eliminação dos resíduos alimentares, melhores trocas entre países com excedente de alimentos e países deficitários, investimentos em bombas hidráulicas e tecnologias aquíferas simples para a África subsaariana e para a Ásia.
Mas a proposta mais radical e revolucionária seria, ao mesmo tempo, a mais simples: tornarmos todos vegetarianos (como Bill Clinton, para citar um). Renunciar aos bifes, para ter bastantes frutas e verduras para todos.
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Em 2050, todos vegetarianos: a dieta do futuro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU