Por: Jonas | 20 Julho 2013
O Rio de Janeiro se transformará em uma fortaleza para a visita do papa Francisco (foto), durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), para a qual são esperados 1,5 milhão de participantes, após a revolta social que sacudiu o Brasil em junho.
A reportagem é publicada no sítio Religión Digital, 16-07-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/8In4w |
Mais de 30.000 policiais e militares serão mobilizados, de 22 a 28 de julho, apoiados por helicópteros equipados com câmeras de filmagem. “Será a maior operação policial, jamais realizada na história da cidade”, disse o secretário adjunto de grandes eventos do Rio de Janeiro, Roberto Alzir Dias Chaves.
Um total de “7.000 policiais reforçarão os 12.000 efetivos da cidade, sem contar os 1.700 policiais de elite da Força Nacional, os da polícia civil, rodoviária e federal”, disse.
As áreas turísticas e hoteleiras, estações de metrô e ônibus serão vigiadas pela polícia, assim como as favelas consideradas mais perigosas. “Será muito superior à mobilização (policial) que houve na JMJ de Madri”, em 2011, afirmou Dias Chaves.
Os históricos protestos, convocados através das redes sociais e que muitas vezes terminaram em violência, tiveram seu auge no dia 20 de junho, quando mais de um milhão de brasileiros – incluindo 300.000 no Rio de Janeiro – manifestaram em todo o país para reivindicar o fim da corrupção e mais investimentos em serviços públicos, opondo-se ao investimento no Mundial de Futebol de 2014.
“Estamos esperando um evento pacífico, mas estamos preparados para atos de violência”, destacou Dias Chaves.
Temeroso de que a visita do Papa, que novamente colocará o país em evidência, estimule os jovens brasileiros a voltar às ruas, o exército brasileiro reforçou seus efetivos. O Ministério da Defesa, responsável pela coordenação de segurança, inicialmente previa o trabalho de 8.500 militares. “Porém, o número foi ampliado para 10.266 homens em razão das manifestações massivas de junho”, disse um porta-voz da pasta.
No Rio de Janeiro, o Papa visitará a pequena favela de Varginha, na zona norte. Contudo, “os dois pontos quentes” em matéria de segurança são a célebre praia de Copacabana e a localidade de Guaratiba, a 40 km do centro, onde se movimentará grande parte dos peregrinos. Em Copacabana acontecerá a festa de acolhida dos jovens e a Via Sacra da JMJ.
Cerca de 5.000 soldados cuidarão da segurança de Guaratiba, que em um terreno baldio de 300 hectares acolherá o “Campus Fidei” (“Terra de fé”), a gigantesca vigília de orações na véspera da partida do Papa, assim como a missa final no domingo, dia 28.
O ministro chefe da Presidência, Gilberto Carvalho, e as autoridades eclesiásticas afirmaram não temer uma retomada dos protestos “em razão da natureza” da visita de Francisco. “O Papa estará seguro aqui. E não é graças às forças armadas, é graças ao nosso povo, nossa democracia, em virtude da simpatia que o Papa desperta, porque representa uma nova esperança, não apenas para a Igreja, mas para a humanidade”, afirmou Carvalho.
No Brasil, o Santo Padre não utilizará papamóvel fechado, mas dois jipes abertos para estar mais próximo do povo.
Manifestações como um “beijaço”, em que casais homossexuais beijam-se na boca, ou uma distribuição massiva de preservativos estão previstas durante a visita do Papa.
As forças armadas se ocuparão da defesa em 10 áreas, incluindo o controle do espaço aéreo, a vigilância das fronteiras, armas químicas e bacteriológicas, comércio de explosivos e igualmente a defesa em alto-mar e a defesa cibernética.
A visita à favela
Varginha é uma pequena favela ignorada na denominada “faixa de Gaza” carioca, uma região pobre e violenta do norte da cidade do Rio de Janeiro. O papa Francisco a visitará na próxima quinta-feira, e seus habitantes, tanto católicos como evangélicos, estão aguardando com alegria.
“Aqui ninguém se lembrava da gente, sofremos muito. O Papa é um homem santo e isto vai nos ajudar. Necessitamos de mais projetos para as crianças”, comenta Sonia Curato, uma manicure católica de 47 anos, enquanto grelhava algumas salsichas.
Fonte: http://goo.gl/8In4w |
Sua pequena casa, de paredes sem pintar, fica localizada na entrada da favela, ao lado da pequena igreja São Jerônimo Emiliani (62 lugares), onde o Papa abençoará o novo altar, no dia 25 de julho, antes de fazer um discurso na quadra de futebol vizinha, com a participação de 25.000 a 30.000 pessoas. A calçada da rua principal parece nova após ter sido reformada para a ocasião.
Situada na “faixa de Gaza” do Rio de Janeiro, assim batizada pela quantidade de batalhas armadas violentas, que continuamente ocorriam entre policiais e traficantes, Varginha é uma das favelas “pacificadas” há sete meses pela polícia. Porém, segundo os habitantes, na área ainda há traficantes de droga, embora sejam mais discretos.
Desde 2008, o Rio de Janeiro mantém uma base para “pacificar” os bairros pobres da cidade, que são controlados por narcotraficantes e milícias paramilitares, antes do Mundial de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Em geral, as favelas que atraem os visitantes internacionais, como atletas profissionais, políticos, atores ou estrelas do espetáculo, são aquelas localizadas sobre os morros que dominam os bairros ricos, com uma bela vista para o mar. Em 1980, o papa João Paulo II visitou a favela de Vidigal, situada próxima do Atlântico sul.
O padre Marcio Queiroz, padre de Varginha, considera que a eleição desta favela corresponde à imagem do novo chefe da Igreja católica. “Talvez tenha se sentido muito identificado com esta favela. Uma pequena comunidade pobre”, sem glamour, bem plaina e dominada por uma linha de trem cinzenta.
“Francisco percorrerá a pé os 200 metros que há entre a igreja e a quadra de futebol. No trajeto, parará na casa de oito moradores, como um pai que visita seus filhos”, explica Everaldo Oliveira (42), responsável pela acolhida do Papa em Varginha.
Segundo Oliveira, nesta favela de mil habitantes vivem mais ou menos a mesma quantidade de católicos e evangélicos. No entanto, há apenas uma igreja e uma pequena capela católica de São Sebastião sem terminar, versus quatro templos neopentecostais.
Como em várias favelas, nestes últimos anos, Varginha viveu uma forte presença de igrejas evangélicas. Para o Vaticano, a visita do Papa a este lugar é uma oportunidade para demonstrar que não abandonou o terreno.
Os evangélicos abrirão as portas de seus templos e de suas casas para o Pontífice. “Ele é diferente, parece ser mais humilde com os pobres. Jesus Cristo veio a Terra para isto”, afirma Rogério, um pastor da Assembleia de Deus que trabalha com dependentes do crack na região.
Índio, um mecânico de 68 anos, examina o motor de um carro, com o capô aberto. Enquanto troca o óleo, conta que se tornou evangélico “por necessidade, ou seja, para sair do alcoolismo”. “Estou muito feliz por receber o Papa em casa. Terá repercussões boas aqui, oportunidades que antes não poderíamos ter”, destaca esperançoso.
A maioria dos católicos sonha apenas em poder se aproximar ao máximo do Papa para receber sua benção. “Tentarei pelo menos me aproximar dele. Pedirei para que abençoe todos os brasileiros, que peça paz para todos nós, porque ainda há muita violência, e também mais fé no coração das pessoas”, conta Ana de Souza (76), uma devota de São Sebastião.
Antonio de Sá (68), que tem um ponto de venda de lanches quase em frente à igreja, lamenta ter sido proibido de abrir seu comércio no dia da visita papal. “Seria um bom dia para ganhar dinheiro”, diz este católico que batizou seu negócio como “Relíquia de Varginha”. Por que este nome? “A relíquia sou eu. Sou um dos habitantes mais velhos!” da favela, disse.
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“A maior operação policial da história do Rio de Janeiro” para a visita do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU