22 Abril 2013
Nos ensinamentos do Papa Francisco, o diabo tem planos mais cruéis do que apenas convencer as pessoas a romper com um dos Dez Mandamentos: “o inimigo” quer que o povo se sinta fraco, sem valor e sempre pronto para reclamar ou fofocar.
A reportagem é de Cindy Wooden e publicada por Catholic News Service, 18-04-2013. A tradução é de Ana Carolina Azavedo.
Em seu primeiro mês de papado, o Papa Francisco pregou continuamente o amor e a misericórdia de Deus, mas também mencionou com frequência o diabo e o prazer cafajeste dos promíscuos em situações em que o povo se desvia de Jesus e se foca apenas no que está errado a sua volta.
No livro On Heaven and Earth [Sobre o Paraíso e a Terra, em tradução livre], originalmente publicado na Espanha em 2010, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio disse: “Acredito que o diabo exista” e “sua maior conquista nos dias de hoje foi fazer-nos acreditar que não existe”.
“Seus frutos sempre são de destruição: separação, ódio e calúnia”, disse no livro.
Como Papa, seus comentários sobre o diabo refletem conhecimentos pastorais das tentações e injustiças que oprimem o povo, além de ecoar a espiritualidade inaciana que o formou como jesuíta, disse o padre jesuíta norte-americano Gerald Blaszczak, Secretário para Promoção da Fé da Sede Geral da Companhia de Jesus em Roma.
O Papa Francisco vem de uma tradição — a tradição jesuíta — em que a presença do espírito mau ou do “inimigo de nossa natureza humana” é mencionado com frequência”, disse o Padre Blaszczak.
O jesuíta contou que, em quase todas as homilias do Papa Francisco, o pontífice fala sobre “a batalha” que as pessoas enfrentam entre seguir Jesus, crucificado e renascido, e “tornar-se presa da negatividade, cinismo, desapontamento, tristeza, letargia”—e a tentação da “felicidade negra” em fofocar ou queixar-se de outros.
Nos Exercícios Espirituais do Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e também em suas Regras para Discernimento dos Espíritos, semear pessimismo e desespero “é o modus operandi ‘do inimigo’”, disse o Padre Blaszczak.
Santo Inácio acreditava que seguir Cristo resulta na paz e harmonia dos sentidos, mesmo frente a desafios, disse o Padre. O inimigo não gosta disso e tenta romper com essa paz e harmonia, particularmente ao colocar os cristãos em tentação para focar sua atenção inteiramente em si mesmos e seus próprios problemas—reais ou percebidos—e fazendo-os duvidar de sua própria capacidade ou possibilidade de serem capazes de seguir o Senhor.
“Nestas várias homilias do Papa Francisco, em que adverte o povo para que evite o desencorajamento, para que se agarrem à esperança, para que sigam com coragem e não se deixem cair na tentação da negatividade ou do cinismo, ele está utilizando essa ideia fundamental de Santo Inácio”, disse o Padre.
A explicação dos jesuítas para “o inimigo” na espiritualidade de Inácio pode ser vista em muitas das declarações do Papa sobre o diabo, incluindo:
· Em sua audiência geral semanal, em 17 de abril, o Papa falou sobre Jesus estar sempre próximo, pronto para defender e perdoar. “Ele sempre nos defende do ardil do diabo, defende-nos de nós mesmos, de nossos pecados!”, disse o Papa. “Ele nos perdoa sempre, é o nosso advogado... Nunca nos esqueçamos disso”.
· Em uma reunião com os Cardeais, em 15 de Março, o Papa falou sobre como o Espírito Santo unifica e harmoniza a Igreja. "Não cedamos nunca ao pessimismo, nem à amargura que o diabo nos oferece a cada dia", disse o Papa. Ao invés disso, estejam certos de que o Espírito dá à Igreja “a coragem para perseverar”.
· Em sua homilia no Domingo de Ramos, o Papa Francisco disse: “Um cristão não pode nunca se entristecer.” A alegria cristã vem de saber que Jesus está próximo, mesmo em tempos de prova, em que os problemas parecem insuperáveis. “Nesse momento, o inimigo — o diabo — vem, geralmente disfarçado de anjo, e sorrateiramente fala suas palavras a nós”.
Padre Blaszczak disse que a ideia de que o diabo possa se disfarçar como anjo também se encaixa nos ensinamentos de Santo Inácio, que disse que “o inimigo” frequentemente tenta corromper atrações e inclinações geralmente positivas — incluindo os desejos por amor ou conquista e uma atração pela beleza — para criar desespero ou “relações desordenadas”, que destroem a paz interior e acabam levando a pessoa a se distrair de servir e amar apenas a Deus.
Nos ensinamentos de Inácio, e naqueles do Papa Francisco, “há uma particularidade”, uma seriedade sobre “a campanha, a oposição ao mal”, e sobre a força e graça para resistir e fazer o que é certo, disse ele. As pessoas precisam discernir para onde Deus as chama, e seguir o chamado requer coragem e “uma disposição a aceitar o sofrimento e a rejeição”.
Inácio “nunca se afasta da cruz, o que significa que não há nada fácil quanto a isso. A tarefa envolve colocar-se em situações de dificuldades e tensão. Há um chamado contínuo para nos alinharmos à causa de Jesus, à causa do reino”, disse o jesuíta.
O fundador da Companhia estava convencido de que “seria o diabo aquele que tentaria dissuadir-nos, que diria: ‘Isso é bobagem. Isso não pode ser feito. Você não é bom o bastante. Você não poderia ser convocado a isso. Você não tem o que é preciso. Você não tem as características necessárias para fazer diferença na construção do reino’”.
Por outro lado, de acordo com Padre Blaszczak, o Papa Francisco — assim como Inácio — diria que o que Deus diz às pessoas é: “Sim, você é fraco. Eu sei quem você é, e eu convoco cada um de vocês para emprestar seus talentos e sua energia, seu compromisso, amor e dons para a causa do reino dos Céus”.
Apesar das aparências, disse o padre, o Papa Francisco não estava focado no poder do diabo; mas as tentações são o lado realista da parte principal da mensagem do Papa sobre “um mundo que está repleto da misericórdia, presença e fidelidade de Deus”.
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Batalha contra o espírito mau: Papa Francisco descreve a luta em termos jesuítas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU