Por: Cesar Sanson | 06 Fevereiro 2014
País é hoje dependente de hidro e termoelétricas. Para especialistas, modelo é arriscado e caro. E saída passa por explorar fontes renováveis e potencial das regiões. Solução a curto prazo, porém, é vista com ceticismo.
A reportagem é da agência de notícias Deutsche Welle, 05-02-2014.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o apagão de terça-feira (05/02), que atingiu partes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, não foi causado, em princípio, por excesso de consumo. Mas de acordo com especialistas ouvidos pela DW, o Brasil precisa diversificar urgentemente sua matriz energética – hoje altamente dependente das hidroelétricas e, em casos de emergência, das termoelétricas.
As termoelétricas são acionadas sempre que o setor hidroelétrico – responsável por 63% da energia gerada no país – ameaça não dar conta da demanda de consumo. Segundo especialistas, a curto prazo, nenhuma outra fonte de energia renovável será capaz de suprir as atuais necessidades do sistema, mas, para os próximos anos, é preciso investir em alternativas.
“As energias renováveis não são oportunidades que possam ser implementadas a curto prazo, porque a lição não foi feita. O planejamento do Brasil é só aumentar a oferta de hidroelétricas. E o governo acaba não atentando para as alternativas”, avalia Artur de Souza Moret, professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Federal de Rondônia (Unir). "A tendência 'monotecnológica' do país é um entrave à eficiência do planejamento enérgico."
Nesta semana, com as termoelétricas ligadas, a energia no Brasil é vendida ao preço recorde de 822,23 de reais por megawatt-hora (MWh), quase o dobro do valor praticado na última semana de janeiro. Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o preço da energia oriunda das termoelétricas é oito vezes mais cara do que a produzida em parques eólicos, por exemplo.
Como são usadas geralmente em ocasiões de emergência, o valor da energia gerada pelas termoelétricas precisa compensar o período de manutenção em que a usina não foi utilizada. “Ninguém tem dúvida de que qualquer sistema elétrico que queira ter certa eficiência na segurança do atendimento precisa de usinas termoelétricas, mas os preços precisam ser mais baixos”, argumenta Elbia Melo, presidente executiva da ABEEólica.
Para isso, o coordenador do Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Arno Krenzinger, defende que a matriz energética do país seja mais diversificada. “Não adianta o governo fazer um decreto e tentar implementar tudo ao mesmo tempo. Os custos estão baixando. A soma de pequenas contribuições pode levar o país a um melhor desempenho energético”, opina.
Potencial perdido
De acordo com os últimos leilões promovidos pelo governo, o preço da energia eólica tem sido equivalente à hidroelétrica. Já a térmica e a solar são três vezes mais caras. A atual capacidade instalada de energia eólica, no entanto, não é suficiente para atender às necessidades do sistema.
Segundo a ABEEólica, 48 parques que correspondem a 1,2 gigawatts de capacidade instalada estão ainda sem linha de transmissão. A entidade espera que até o final de março 26 dessas usinas entrem em funcionamento.
“Se o Brasil tivesse investido 30 anos atrás para termos um parque de usinas em funcionamento, o país não seria tão suscetível ao problema de falta de chuva. O potencial hídrico do Brasil é suficiente para abastecer o país inteiro, mas o potencial eólico é muito superior ao que é necessário”, analisa Krenzinger.
Para o diretor do Laboratório de Energia dos Ventos da Universidade Federal Fluminense, Geraldo Tavares, a realização de leilões de energia eólica representa um entrave para o setor. “Isso nunca deu certo no mundo todo. O governo deveria permitir que quem quiser produzir energia eólica faça a ligação com a rede, desde que haja um preço fixo por megawatt/hora. O leilão não permite que o preço baixe muito e se torne competitivo”, explica.
Segundo o professor Artur de Souza Moret, da Unir, o risco de falta de energia poderia ser “zero” se houvesse mais investimentos em energia solar e fotovoltaica. “No Brasil inteiro, a quantidade de sol é muito grande. Com os painéis solares, o consumo de energia subiria na mesma proporção, mas parte disso poderia ser atendido pela própria energia solar”, afirma.
Altos custos
Com percentual baixo de capacidade instalada em relação às demais fontes, a energia solar ainda é muito cara no país por causa do alto custo dos equipamentos, mas poderia reduzir o uso de energia térmica em momentos de crise.
“Por causa do alto preço do diesel, as usinas fotovoltaicas são competitivas em relação às termoelétricas, mas em nenhum país do mundo a energia solar pode ser tida como base. Ela sempre vai ser complementar, porque não está disponível a todo momento. Não existe energia solar à noite, por exemplo”, diz o coordenador do Laboratório de Energia Solar da UFRGS.
Segundo Moret, o Brasil precisa trabalhar com as regionalidades no setor energético. “As fontes devem ser mais localizadas. Por exemplo, porque não substituir o diesel por óleo vegetal ou biodiesel em Mato Grosso e Rondônia, que têm grande produção de soja? Em São Paulo, por que não utilizar ainda mais o bagaço de cana?”, questiona.
Krenzinger, por sua vez, avalia que a segurança do sistema elétrico também depende do investimento em várias fontes de energia: “Acredito que no futuro essa proporção venha a se corrigir, porque a energia eólica tem oferecido um preço interessante em relação à hidroelétrica. Nenhuma matriz pode ser única. O sistema é mais seguro se há várias fontes.”
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Para evitar crise, Brasil precisa diversificar matriz energética - Instituto Humanitas Unisinos - IHU