26 Novembro 2014
O cardeal Cormac Murphy-O’Connor, ex-chefe da Igreja Católica na Inglaterra e País de Gales, ajudou a orquestrar uma campanha lobista nos bastidores que levaram à eleição do Papa Francisco, afirma o texto de uma nova biografia.
A reportagem é de John Bingham, publicada pelo The Telegraph, 22-11-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A escolha do desconhecido cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como o chefe do 1.2 bilhão de católicos no mundo veio como uma surpresa aos analistas do Vaticano bem como aos fiéis, quando o anúncio foi feito em março do ano passado.
No Conclave para eleger o sucessor de Bento XVI, o primeiro papa em mais de 600 anos a renunciar, muitos previam que seria eleito ou o cardeal italiano Angelo Scola ou o cardeal de Quebec, Marc Ouellet.
Quando Bergoglio, de 76 anos, surgiu como papa já no segundo dia de votação, explicou-se amplamente se tratar de uma candidatura de unidade para evitar impasses, facções.
Mas uma biografia do Papa Francisco, a ser publicada no próximo mês, revela que houve uma campanha discreta, porém altamente organizada, por parte de um pequeno grupo de cardeais europeus em apoio do cardeal Bergoglio.
“The Great Reformer” [O Grande Reformador], do escritor católicos britânico Austen Ivereigh, fala de uma “Equipe de Bergoglio” e diz que seus membros realizaram jantares privados e outros encontros de cardeais nos dias anteriores ao Conclave, aos poucos apresentando o candidato.
O cardeal Bergoglio foi, de fato, o vice-campeão no Conclave de 2005, no qual Ratzinger se elegeu, tendo sido apresentado por uma aliança formada principalmente por reformistas europeus.
Mas, mais tarde, resultou que suas chances de eleição foram prejudicadas por uma série de truques sujos encampados por opositores argentinos.
Bergoglio evitou fazer campanha em 2005, instando os seus futuros apoiadores a apoiarem o cardeal Joseph Ratzinger e deixar claro que ele não gostaria de ser o centro de um racha na instituição.
Em 2013, Bergoglio fora descartado pela maioria dos analistas, em parte devido à idade e pelo fato de ter sinalizado que tinha desejado ficar no caminho do cardeal alemão eleito no Conclave anterior.
Mas, no último ano, o apetite por reformas no Vaticano e por um papa sem relações com o establishment, em grande parte visto como corrupto e cheio de lutas internas, se intensificou.
“Analisando o momento, a iniciativa foi agora aumentada pelos reformadores europeus os quais, em 2005, haviam apoiado Bergoglio”, explica Ivereigh, autor que trabalhou como assessor de imprensa para o cardeal Murphy-O’Connor.
Ivereigh escreveu que o cardeal Murphy-O’Connor, então com 80 anos e não mais com direito a voto no Conclave, uniu-se ao cardeal alemão Walter Kasper, cujo chamado polêmico para que os divorciados recasados tivessem a permissão de receber a Comunhão foi um dos principais pontos de divisão no Sínodo realizado por Francisco em Roma neste ano.
A função de Murphy-O’Connor incluía procurar influenciar contrapartes norte-americanas assim como agir como um elo aos prelados dos países da Commonwealth.
“Eles aprenderam as lições de 2005”, conta Ivereigh. “Eles primeiro garantiram um parecer favorável a Bergoglio. Perguntaram se ele estava disposto; ele respondeu acreditar que, nestes tempos de crise, nenhum cardeal poderia recusar-se, caso fosse solicitado.
“Murphy-O’Connor conscientemente avisou-lhe para ‘ter cuidado’, e que era a sua vez agora; em seguida ele [Bergoglio] falou: ‘Capisco’ [compreendo].
“Então, os apoiadores precisaram trabalhar, realizando jantares com cardeais a fim de promover o candidato, sustentando que sua idade – 76 anos – não mais deveria ser considerada um obstáculo, dado que os papas poderão renunciar”.
Uma porta-voz do cardeal Murphy-O’Connor disse que o então cardeal Bergoglio não foi abordado com vistas a buscar o seu assentimento como candidato para o papado.
Um momento decisivo veio durante a série de encontros fechados antes do Conclave, conhecido como congregações, quando o cardeal Bergoglio proferiu um breve porém comovente discurso sobre o estado em que se encontrava a Igreja.
“Por estas e outras razões, os organizadores desta campanha permaneceram, na maioria do tempo, sob o radar; os movimentos do cardeal argentino que começoaram a aparecer durante a semana das congregações e continuaram sem ser detectadas pela mídia e, até hoje, a maioria [dos analistas do Vaticano] acredita que não houve nenhum empenho organizado antes do Conclave para eleger Bergoglio”, disse Ivereigh.
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Papa Francisco: como a campanha lobista no Conclave pavimentou o caminho para o pontífice argentino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU