15 Outubro 2014
Cientistas alertaram os países pesqueiros, em particular do Caribe, onde a pesca é uma importante fonte de renda, que devem prestar atenção em um novo informe internacional sobre a acidificação dos oceanos. O estudo, publicado pela secretaria do Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB), coincide com a 12ª reunião da Conferência das Partes (COP 12) do CDB, que começou no dia 6 nesta cidade sul-coreana e terminará no dia 17.
A reportagem é de Desmond Brown, publicado por IPS/Envolverde, 10-10-2014.
“A acidificação oceânica pode ter impactos muito específicos sobre determinados tipos de pesca, por isso é especialmente importante para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e para as pessoas que dependem de um tipo específico de pesca ou organismo”, afirmou à IPS S. J. Hennige, editor principal do informe. “A reação dos organismos à acidificação oceânica é variável, mas naqueles que são prejudicados, se a pessoa depender desse tipo de peixe, então poderá enfrentar consequências muito graves e é possível que precise mudar para um organismo diferente”, acrescentou.
Na região da Comunidade do Caribe, a população é muito dependente da pesca para seu desenvolvimento socioeconômico, o que contribui em grande parte para a segurança alimentar, mitigação da pobreza, o emprego, a renda em divisas, a estabilidade das comunidades rurais e costeiras, a cultura, a recreação e o turismo. Esse subsetor emprega diretamente mais de 120 mil pessoas, e outros milhares, especialmente mulheres, de maneira indireta nos setores de processamento, comercialização, construção de barcos, confecção de redes, entre outros.
Uma equipe internacional de 30 especialistas, liderada por cientistas da Grã-Bretanha, conclui no informe que a acidificação dos oceanos já está em andamento e seu agravamento é quase inevitável, causando prejuízos generalizados a organismos e ecossistemas marinhos e aos produtores e serviços que proporcionam.
David Obura, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Costa Oceânica no Oceano Índico, disse que a segurança alimentar está sob ameaça no Caribe e em outras regiões com forte dependência pesqueira. “A acidificação oceânica altera a química da água marinha, o que afeta o crescimento dos peixes, em geral negativamente. Assim, ocorre baixa na produtividade”, apontou.
Há dez anos, apenas um punhado de cientistas pesquisava os efeitos biológicos da acidificação dos oceanos. Apesar dos resultados preocupantes, eram necessários mais medições e experimentos. Desde então foram publicados mais de mil estudos e se estabeleceu que muitas espécies marinhas sofrerão as consequências em um mundo com alta concentração de dióxido de carbono (CO2), com repercussões para a humanidade.
Hennige pontuou que nos Estados Unidos já há exemplos de mercados de ostras afetados pela acidificação oceânica, e explicou que a causa subjacente do problema é o CO2. “Quanto mais CO2 é liberado dos combustíveis fósseis mais se dissolverá no oceano. Há práticas que podem ser aplicadas para compensá-lo temporariamente, mas o problema de fundo é que se libera cada vez mais CO2 na atmosfera, e o problema só vai piorar se continuarmos assim. Não é um problema provocado pelo Caribe, é mundial e precisa de uma solução mundial”, ressaltou.
Susan Singh-Renton, subdiretora-executiva do Mecanismo Regional Pesqueiro do Caribe, disse à IPS que tudo o que se diz no informe pode ser aplicado à situação caribenha. “A acidificação oceânica é um fenômeno preocupante porque significa que a água marinha, como um meio de apoio para a vida, está mudando de maneira muito fundamental”, afirmou.
Além disso, prosseguiu, “como o ecossistema oceânico é muito complexo, não é possível prever as consequências com certeza, mas é seguro que serão importantes para as ilhas tropicais, especialmente para aquelas cujas economias se baseiam na saúde e na beleza de seus arrecifes de corais”, observou Singh-Renton. “A degradação dos arrecifes de corais afetará muitos peixes tradicionais do mercado caribenho, como o pargo e a garoupa”, entre outros, que dependem desses ecossistemas para sobreviver, acrescentou .
Também diminuirão “a saúde e a sobrevivência dos animais que crescem em conchas de carbonato, como o caracol rainha, que sustenta importantes pescas comerciais, geradoras de milhões de dólares no Caribe. Com uma mudança tão fundamental na química da água marinha, é possível que outras formas de vida sejam afetadas de maneira irreversível”, destacou Singh-Renton.
Os autores do informe afirmam que a magnitude exata dos custos ecológicos e financeiros ainda é incerta, devido às complexas interações com outras alterações ambientais provocadas pela atividade humana. O CDB destaca o risco para os arrecifes de coral porque esses ecossistemas são um sustento essencial dos meios de vida de 400 milhões de pessoas, acrescentaram. Até o final deste século, a acidificação dos oceanos causará perda econômica de “US$ 1 trilhão”, indicou Hennige.
Carol Turley, coautora do informe, enfatizou que a espiral descendente pode ser revertida, mas são necessárias medidas e fundos urgentes. “Quem pode medir a acidificação? Na realidade, apenas os países industrializados podem fazê-lo, por isso devemos começar a exportar esse conhecimento para países como os caribenhos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento”, disse à IPS. “Me preocupa nossa lentidão. Estamos em um mundo onde o oceano se acidifica muito rapidamente, por isso temos que agir muito rapidamente”, ressaltou.
Em 2013, os cientistas alertaram que a acidez dos oceanos poderia aumentar 170% até o final do século causando prejuízos significativos. O problema provavelmente altere os ecossistemas marinhos e a biodiversidade oceânica, com consequências de longo alcance para os seres humanos. Também alertaram na época que as perdas econômicas pela redução da aquicultura de moluscos e a degradação dos arrecifes de coral tropicais podem ser consideráveis devido à sensibilidade desses organismos à acidificação oceânica.
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A acidificação oceânica causa tormentas aos países pesqueiros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU