20 Novembro 2015
Eles adquiriram o CAP, Círculo de Autoridade Portuária da Itália, com as suas forças. São os "velhinhos" que trabalharam na Autoridade Portuária antes das privatizações dos anos 1990 e que agora mantêm viva, sob a égide da Associação Recreativa e Cultural Italiana (Arci), uma estrutura multiuso que remonta a 1946, aos primeiros dias da reconstrução depois das devastações da guerra. Hoje, os sócios são mais de 4.000, em uma realidade ativa que opera em 360 graus, e que Danilo Oliva logo oferece ao secretário metalúrgicos da CGIL: "Landini, aqui você está em casa para a coalizão social".
A reportagem é de Riccardo Chiari, publicada no jornal Il Manifesto, 19-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Também é de coalizão social que se fala. Mas partindo da ideia, intrigante, da Arci CAP e da Comunidade de San Benedetto al Porto de pôr em debate Maurizio Landini e Luigi Bettazzi sobre a encíclica Laudato si' do Papa Francisco.
Para o bispo emérito de Ivrea, 92 anos nem demonstrados nem sentidos, é tarefa fácil. "Mas estou curioso – e sorri – de ouvir o que Landini pensa". Que se sai muito bem. Até porque ele leu a encíclica, com atenção.
Fala-se de "Confrontar-se com o mundo, uma necessidade no tempo da globalização". Assunto sempre de extrema atualidade. "A crise de cultural, econômica, política – abre Walter Massa, da Arci – nos diz uma coisa em particular: o mundo que conhecemos passou e não vai voltar, certamente não naquelas formas e naqueles modos".
Mas algo não volta: "A encíclica de Bergoglio é muito pouco discutida – observa Luca Borzani, que dirige a Fundação Palazzo Ducale –, não entrou no sistema da comunicação. Porém, ela propõe um desafio cultural e político para todos, crentes e não. Ela chama a uma ação comum diante do colapso ambiental e social que estamos vivendo, provocado por uma cultura baseada no consumo e pelo domínio do 'mercado'. Que nada mais é senão uma desesperada busca pelo lucro a qualquer custo".
Luigi Bettazzi aprofunda: "A Laudato si' é uma encíclica secular. O primeiro que escreveu algo do gênero foi o Papa João XXIII com a Pacem in terris. Com a ideia de fundo de que o mundo queria a paz e dirigindo-se 'a todos os homens e mulheres de boa vontade'. Isso no exato momento em que a crise nuclear EUA-URSS estava no ponto de não retorno".
Da história para a atualidade: "Há 60 milhões de pessoas em fuga das suas terras por causa de guerras, ditaduras e fome. Emigram porque nós as exploramos, primeiro com as colônias e hoje com outras formas de coerção. Somos os defensores da liberdade, assim gostamos de nos descrever. Mas não pode ser a liberdade de se fazer o que se quiser".
Landini começa a arranca sorrisos: "Eu percebi que há alguém mais radical do que a FIOM [Federação dos Empregados Operários Metalúrgicos]. Alguém que, aliás, escreveu um documento em que não há sequer uma palavra em inglês, algo tão na moda hoje".
Depois, entra no mérito: "É uma encíclica dirigida a todos. Porque é a 'casa comum' que está em risco. O modelo de capitalismo financeiro que hoje domina o mundo está pondo em discussão o futuro de todos". Com mecanismos pontualmente denunciados por Jorge Bergoglio: "O que é o pecado?", assinala Landini. "Na encíclica, é pecado a guerra, a violência, o abandono dos pobres, a exploração da natureza. Disseram-nos diferente quando íamos para a paróquia quando éramos crianças." Muitos aplausos.
Da Laudato si', vem também uma ajuda a uma análise muito cara à FIOM: "Produzir: o que e por que, com que técnicas e com qual sustentabilidade social e ambiental. Projetar e pensar produtos que, desde a origem, sejam de impacto zero ou quase. Aqui, a encíclica se refere a um debate honesto, não preconcebido. E a mensagem que eu vejo aí é a necessidade de uma mudança, de um crescimento da política, que seja capaz de se libertar do capitalismo financeiro. Porque, e Bergoglio lembra isto, a injustiça não é invencível. Mas no plano dos valores hoje o capitalismo financeiro venceu. Se não fosse o papa, quem teria a coragem de escrever tais coisas?".
A linha de raciocínio do secretário da FIOM leva, no fim, à coalizão social. "O que quer dizer hoje 'direita', 'esquerda', 'centro'? Para aqueles da minha idade, isso tem um significado. Mas, para os mais jovens, aqueles que são forçados a pagar para trabalhar, com governos de direita, de centro e de esquerda? Para eles, essas palavras não significam mais nada. A coalizão social não se dirige apenas a uma parte, não quer fechar em um recinto. Quer construir caminhos em que se encontrem, sem restrições, as muitas realidades que já trabalham muito bem hoje nos seus âmbitos de ação."
Pensa-se também na trágica atualidade dos últimos dias: "O Papa Francisco foi o único que fez uma manifestação contra a guerra na Síria. E, no sábado, vamos manifestar contra o terrorismo e contra a guerra. Porque bombardear é um erro: o Isis é aquilo que é porque recorreu às armas. No mundo muçulmano, ele é uma minoria. Em vez disso, é preciso colocar todos ao redor de uma mesa, incluindo os países árabes. E fazer o trabalho de inteligência, para remover a água onde o Isis nada".
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"Se não fosse o papa, quem teria a coragem de escrever o que está escrito na encíclica?" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU