21 Outubro 2015
Cristian, padre de uma paróquia em Poitou-Charentes, na França, "saiu do armário", como ele diz, renunciando ao seu ministério por amor a um homem. Isso ocorreu uma década antes que o polonês Krysztof Olaf Charamsa fizesse a sua "saída" às vésperas da abertura do Sínodo sobre a família em Roma, onde também se discute a questão da homossexualidade na Igreja.
A reportagem é de Vincent Mongaillard, publicada no jornal Le Parisien, 11-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Ele foi corajoso, mesmo que isso poderia ser contraprodutivo por bloquear os bispos do Sínodo", teme Christian. Na época, não houve nada de frisson planetário, nem de relâmpagos vaticanos.
"Eu não produzi ondas midiáticas, eu não queria ser um herói nem o porta-voz de uma causa", recorda esse católico de 51 anos. Ao contrário do seu colega da Cúria, ele não sentiu amargura. "Eu era um padre feliz", resume ele no seu apartamento em Poitiers, que divide com o seu companheiro.
"O primeiro homofóbico fui eu"
Foi no seminário que tudo mudou de repente, que ele "tomou consciência" dessa "estranheza", que o atraía "pelos meninos".
"Eu descobri a minha sexualidade nos ambientes frequentados por gays, especialmente os parques, com o medo constante de me deparar com paroquianos", explica.
O jovem homem, então, falou abertamente com o seu diretor espiritual, um padre a quem confessou. O seu olhar não foi acusador, ao contrário.
"Eu nunca ouvi no seminário: 'Será impossível que você se torne padre'. Com efeito, o primeiro homofóbico fui eu, por me sentir diferente", destaca.
Com os seus colegas seminaristas, ele não se abria, "era a cumplicidade". "Eu fiquei sabendo somente mais tarde que, dos seis seminaristas do meu grupo, quatro eram homossexuais", relata.
Em 1995, ele foi ordenado padre. "Eu estava ciente da minha homossexualidade, mas eu disse a mim mesmo: 'Deus me ama como eu sou, Ele não se importa se eu sou homossexual ou não'."
Então, ele se entregou ao seu sacerdócio, enquanto vivia aventuras sem futuro. Mas, no fim de 2004, teve um belo encontro e se apaixonou. E se sentiu destruído. "Eu tinha que escolher entre o homem que eu amava e o sacerdócio."
Ele confessou o seu segredo a um grupo de padres operários. Depois, ao seu bispo. "Eles não me condenaram, me ouviram, foram muito benevolentes, convidando-me apenas a não 'criar caso' sobre o assunto. Eu lhes repeti que não estava disposto a levar uma vida dupla." Juntos, pensaram em uma "saída honrosa".
"Tive que me desclericalizar"
Em 2005, foi decidido de comum acordo que ele deixaria oficialmente a paróquia, não por grande amor, mas para iniciar um trabalho assalariado. "Eu fui embora na ponta dos pés. Quando fui me despedir dos meus paroquianos, eu lhes anunciei que eu iria me tornar um padre operário."
Ele ainda dormia na casa paroquial quando um coirmão, que ficou sabendo que ele era gay, o obrigou a ir embora imediatamente. Cristian foi vítima da denúncia de um fiel que o viu junto com o seu companheiro. "Foi um tsunami, eu fugi e me refugiei na casa do meu irmão." Ele teve que "sair do armário" com a família, que reagiu muito bem.
Não foi fácil deixar a sacristia. "Eu tive que me desclericarizar. Perdi minhas responsabilidades, um reconhecimento social. Precisei de quatro ou cinco anos para me reerguer."
Hoje, ele é diretor de uma estrutura de reinserção social. "Eu ajudo as pessoas a se colocarem novamente de pé. Estou muito próximo do meu ministério, no sentido evangélico do termo."
Ele continua sendo religioso, vai regularmente à missa, anima os cantos na sua paróquia. Ele, que defendeu o casamento gay, milita para que "a Igreja mude o seu olhar e as suas palavras sobre as pessoas homossexuais".
No David e Jonathan, movimento homossexual cristão aberto a todos, ele é também um dos responsáveis pelo grupo de sacerdotes, "um refúgio de paz, de escuta, de acompanhamento" para cerca de 20 padres e ex-padres gays.
Há 10 anos, ele não celebra mais a missa, mas, para a Igreja, ele continua sendo padre. E ele gosta disso. "Eu o serei até o meu último suspiro."
Certamente, ele foi suspenso temporariamente do seu ministério, mas jamais foi expulso das suas funções. Ele não aspira a retomar o serviço atrás do altar, mas não se esquece da mão estendida do seu bispo em 2005. "Ele me disse: 'Quando você quiser, poderá retomar o seu ministério. Sempre vamos acolher você'."
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"Eu, cristão, padre e homossexual" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU