Padre húngaro combate, sozinho, o “medo” dos imigrantes

Mais Lidos

  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: André | 14 Setembro 2015

O padre de Roszke, um pequeno vilarejo húngaro situado na fronteira com a Sérvia, prega com o exemplo, mobilizando-se para abrigar refugiados e contra o medo dos imigrantes, em um país onde os bispos e a população são majoritariamente hostis.

 
Fonte: http://bit.ly/1iCXwoM  

A reportagem é publicada por Religión Digital, 11-09-2015. A tradução é de André Langer.

“Na minha opinião, devemos ajudar nestas situações. Devemos dar amor a estes imigrantes, a estes homens, mulheres e crianças”, afirma o padre Thomas Liszkai (na foto), de 39 anos, que decidiu, sem sucesso por enquanto, colocar um albergue com 30 leitos à disposição dos refugiados.

Este padre está de acordo com o Papa Francisco, que, no domingo 06 de setembro, pediu que cada paróquia católica da Europa acolhesse pelo menos uma família de imigrantes, mas sente-se “muito sozinho” em sua iniciativa, tanto em seu vilarejo, de 3 mil habitantes, como em outras partes. “Com o frio que faz à noite, é importante que esta gente encontre um lugar quente para dormir com seus filhos”, declara o padre à AFP em meio a livros e imagens de Nossa Senhora. Mas não recebeu “nenhum telefonema” de apoio de outros padres e “a polícia disse ‘não’, alegando que os imigrantes devem ficar em acampamentos para serem inscritos”, constata. Os refugiados também não responderam ao convite por medo de cair numa armadilha.

A animosidade é visível: os meios de comunicação divulgam uma imagem negativa dos imigrantes e o cardeal de Budapeste, Péter Erdò, chegou a dizer que, de acordo com a legislação húngara, qualquer um que acolher imigrantes é culpado de “tráfico de seres humanos”.

A Hungria, por onde transitaram quase 170 mil imigrantes desde o começo do ano, optou pela intransigência erguendo um cerco nas fronteiras que espera concluir na semana que vem.

O governo de Viktor Orban “não compreendeu – disse o padre – que estas pessoas caminharam tanto desde que saíram de seus países, que necessitam de ajuda sem que se pergunte nada”. “Não é importante saber quem é quem. O papa disse que devemos ver um ser humano em cada um destes migrantes, sem racismo”, recordou.

O padre reconhece que lhe resta muito a fazer. “Muitas pessoas têm ainda medo de ajudar realmente”, mas “temos que ser mais fortes que os nossos medos”.

“Medo dos terroristas”

A alguns metros da sua igreja, duas mulheres que fumam na frente de um colégio, não fazem o menor esforço para ocultar seu “mal-estar” com “essa quantidade de refugiados”. “Não me sinto segura, são muitos e não sabemos realmente quem é quem. É preciso dizer: temos medo dos terroristas”, declara uma delas olhando as crianças brincando nos balanços.

Sua amiga Katlin disse que tentou ajudar os imigrantes, que transitam por Roszke com a única esperança de chegar à Alemanha. “Somos seres humanos, também somos mães, sabemos que temos que ajudar. Mas, por exemplo, quando lhes levamos comida, jogam-na fora. O que pensar disto, quando para nós as coisas também são difíceis”, pergunta-se.

A desconfiança mútua é real, reconhece o padre Liszkai. Mesmo com a oferta de acolhida em sua igreja, “os imigrantes não quiseram vir porque têm medo de que uma vez aqui, sejam levados para campos”, explica.

A alguns quilômetros dali, perto da fronteira, ergue-se uma aldeia de barracas improvisadas, entre lixo e roupa abandonada pelas sucessivas ondas de refugiados. “Basta a todos estes imigrantes fazer um sinal que os abrigamos, mesmo que o nosso bispo nos diga para não fazê-lo”, diz o padre Liszkai.