18 Junho 2015
No domingo, 7 de junho, terminou em Stuttgart, Alemanha, a 35ª edição do Kirchentag, evento que desde 1949 reúne os fiéis das Igrejas evangélicas alemãs.
A nota é de Claudio Ferlan, publicada no blog Mente Politica, 09-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tradicionalmente, os dias são dedicados a temas que põem em diálogo o mundo eclesiástico e a sociedade civil. O lema escolhido pelos organizadores do encontro de 2015 foi: "Para que nos tornemos sábios" (Salmo 90, 12), um versículo tomado para simbolizar o compromisso com a construção de modelos de vida mais sustentáveis.
O que testemunhou sabedoria foi, ao menos, o comportamento dos visitantes, elogiado pelo diretor da polícia da cidade, Andreas Stolz, que destacou a sua paciência, cortesia e gentileza. Diante das inevitáveis filas e longos dos tempos de espera, ainda mais desconfortáveis por causa de um calor pouco habitual, tudo ocorreu perfeitamente; a disponibilidade de todos permitiu a celebração de uma verdadeira festa de paz, disse Stolz.
Números e criatividade
Como resume eficazmente o ótimo site Kirchentag.de, os números não mentem e destacam o sucesso do evento: 100 mil presenças na inauguração, 95 mil na missa conclusiva, 600 mil pessoas no total que acorreram à capital do Baden-Württemberg para o Kirchentag, mais de 50 mil delas de fé católica.
Para dar conta da majestosidade da iniciativa, deve-se lembrar ao menos outro número: 2.500 eventos entre palestras, debates, estudos bíblicos, celebrações, apresentações teatrais, exposições, concertos, oficinas.
É impossível tentar resumir o que aconteceu em Stuttgart. O melhor é colocar a lupa sobre alguns temas principais, que, a nosso ver, parecem restituir a capacidade das Igrejas evangélicas de olhar para o futuro com serenidade e com a vontade de fazer parte dele ativamente.
Olhemos para o "Mercado das Possibilidades" (Markt der Möglichkeiten), a "Feira da Sociedade Civil" que ofereceu a grupos, organizações e promotores de iniciativas sociais e eclesiásticas uma plataforma para apresentar propostas criativas.
O convite teve 800 respostas e permitiu a exposição de projetos concretos, além do desenvolvimento de discussões acaloradas, tudo centrado nos temas principais do Kirchentag: políticas globais, conflitos e crises geopolíticas, migrações, cooperação internacional e ideias de desenvolvimento.
O esforço de organização envolvida sujeitos muito diferentes entre si: das pequenas comunidades paroquiais aos representantes do cuidado pastoral, dos militares e dos missionários envolvidos em todas as partes do mundo aos responsáveis pelos centros para o diálogo inter-religioso e o ecumenismo, dos grupos avançados de pesquisa médica aos responsáveis pela comunicação de massa.
Sob a marca da criatividade, também foi realizada a reflexão sobre a missa. Partindo da pergunta retórica "O que seria um Kirchentag sem missas?", os responsáveis da festa de Stuttgart pediram para que as pessoas propusessem ideias (mais uma vez) criativas e experimentais, capazes de pôr a liturgia sob uma nova luz, com a ajuda, por exemplo, da música e de novas formas de participação.
As sugestões ecumênicas foram as mais enviadas, mas também houve ideias para experimentar o plurilinguismo e novas formas de procissão ou para encontrar o modo de envolver de maneira mais ativa as pessoas portadoras de deficiência.
Esses poucos exemplos certamente não esgotam os temas abordados, dentre os quais devem ser lembradas questões às quais a Igreja Católica se aproxima com dificuldades muito mais evidentes do que no mundo evangélico: teologia queer, homossexualidade e igualdade de gênero na concessão de responsabilidades eclesiásticas.
Presidentes e futuro
Oito mil pessoas participaram do dinâmico debate entre o sociólogo Hartmut Rosa e o presidente federal Joachim Gauck (pastor luterano), intitulado "Boa vida, vida inteligente. O que a política pode fazer pela convivência civil?".
Angela Merkel (filha de um pastor luterano) também participou, falando do impacto das redes sociais na cotidianidade e na vida política, evidenciando qualidades e defeitos da conectividade e testemunhando a exigência pessoal e compartilhada de não estar disponível durante as 24 horas do dia.
A riqueza do programa do Kirchentag é bem destacada pelo guia [disponível aqui, em alemão], um verdadeiro livro de 600 páginas que merece ser consultado mesmo com o término da manifestação: pode ser um guia útil para os temas mais importantes sobre os quais a atualidade nos interroga.
E, por que não, também representar uma sugestão para aqueles que, em dois anos, poderiam estar interessados em participar da 36ª edição, prevista para Berlim, em concomitância com o 5º Centenário da Reforma Luterana.
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Kirchentag 2015: Igrejas evangélicas olham para o futuro, analisando o presente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU