04 Mai 2015
"A partir de agora, a maioria dos analistas concordam que a investigação foi mal assessorada (ela começou no papado anterior), e que a iniciativa do então presidente da CDF, Cardeal William Levada (também americano), terminou com um gemido em vez de um estrondo", escreve Margaret Susan Thompson, professora de História na Maxwell School e da Syracuse University, em artigo publicado pelo jornal The Tablet, 27-04-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Aos que acompanham atentamente o que acontece no Vaticano – e normalmente eu não sou uma dessas –, dois elementos apareceram no fim de 2014 para mostrar que a “avaliação doutrinal” da Conferência de Liderança das Religiosas – LCWR (na sigla em inglês), encomendada pela Congregação para a Doutrina da Fé – CDF, estava próxima do fim.
O primeiro veio em uma entrevista com o Cardeal Sean O’Malley, de Boston, ao programa televisivo americano 60 Minutes em 16 de novembro. Nela, o prelado declarou que a investigação era um “desastre”. Sendo o único participante americano do conselho consultivo do Papa Francisco, conhecido por “C8”, os comentários do cardeal foram, inevitavelmente, interpretados como algo mais que uma simples opinião pessoal: foram visto como um indicativo de que aqueles, no níveis mais altos de liderança na Igreja, queriam que a polêmica acabasse logo.
Um mês depois, numa coletiva de imprensa transmitida ao mundo direto de Roma, as autoridades da Congregação para os Religiosos e as líderes tanto da LCWR quanto do mais conservador Conselho das Superioras Maiores das Religiosas anunciaram um fim à separada porém simultânea Visitação Apostólica junto às congregações religiosas femininas dos EUA. Neste mesmo dia, a presidente da LCWR, Irmã Sharon Holland, declarou que achava que a avaliação doutrinal iria ser concluída “em breve”.
Tanto O’Malley quanto Holland provaram-se prescientes na semana passada: no dia 16 de abril as líderes da LCWR voaram a Roma para a divulgação da notícia de que a supervisão vaticana sobre o grupo tinha chegado ao seu término. Na presença do Cardeal Gerhard Müller, presidente da CDF, e do arcebispo de Seattle, Dom Peter Sartain (que coordenou a equipe de três prelados encarregados de “supervisionar” a LCWR), um breve comunicado foi emitido; ainda no mesmo dia, as líderes da LCWR se reuniram com o próprio Papa Francisco (o primeiro encontro delas com um pontífice).
O próprio relatório foi conciso. As irmãs concordaram em ter “teólogos competentes” revisando as suas publicações, os oradores para as suas assembleias e aprovando quem poderão homenagear com um prêmio anual – mas nada impede que estas autoridades não possam ser escolhidas pela LCWR, talvez entre as suas próprias participantes. A Conferência das Religiosas também adotou (no último mês de agosto, na assembleia anual de suas congregações afiliadas) uma nova redação em seus documentos, enfatizando a centralidade dos ensinamentos de Jesus e da Igreja na sua missão e em seus ministérios. Não há indicativos de que estes não eram centrais no passado, ou que alguma coisa específica precisava ser alterada.
Tanto os prelados quanto as irmãs concordaram em manter silêncio sobre o assunto por um período de 30 dias, ainda que muitas dúvidas sobre coisas específicas continuam sem respostas. E, para constar, “o diabo pode estar nos detalhes” – detalhes que levarão um bom tempo para serem esclarecidos.
A partir de agora, a maioria dos analistas concordam que a investigação foi mal assessorada (ela começou no papado anterior), e que a iniciativa do então presidente da CDF, Cardeal William Levada (também americano), terminou com um gemido em vez de um estrondo – algo que os atuais líderes vaticanos, em seus níveis mais altos, sem dúvida desejavam e que a maioria das religiosas nos EUA receberam com alívio, talvez mesmo com júbilo.
Mas um resultado igualmente importante é a admiração generalizada manifestada por inúmeras pessoas para com as irmãs durante estes últimos seis anos. Ainda que alguns, especialmente da imprensa, ficaram frustrados pela falta de disposição delas em falar publicamente e da relutância delas em geral, o que ficou claro, ao longo dos anos, foram a constância, a devoção e o comprometimento com o qual as irmãs deste país continuaram a conduzir suas vidas, mesmo quando a integridade e a autonomia delas estavam sendo desafiadas.
Que grande diferença faz a mudança de um papa! Mas também que grande diferença tem feito um grupo de notáveis irmãs, confiantes na colaboração coletiva e na força contemplativa que possuem. Juntas, elas deram uma lição à Igreja sobre a realidade em curso do Caminho da Cruz e, o que é mais importante, o que resulta ao final de tudo isso.
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Alívio das irmãs americanas com o fim da investigação vaticana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU