19 Abril 2013
O Papa Francisco reafirmou a repreensão do Papa Bento XVI ao principal grupo de lideranças das irmãs católicas nos Estados Unidos e aprovou um plano para colocar esse grupo sob o controle de três bispos americanos, segundo o Vaticano.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no jornal National Catholic Reporter, 15-04-2013. A tradução é de Marcos Luiz Sander.
A reafirmação da medida ocorreu numa reunião realizada segunda-feira entre as líderes da conferência nacional das religiosas nos Estados Unidos (LCWR, na sigla em inglês) e o arcebispo Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, segundo uma declaração proveniente do Vaticano.
Durante a reunião, afirmou o Vaticano, Müller disse às líderes da LCWR que tinha “discutido recentemente” a questão com o Papa Francisco, “que reafirmou os resultados da Avaliação e o programa de reforma”.
Essa reunião foi a primeira entre a LCWR, que representa cerca de 80% das cerca de 57 mil irmãs dos Estados Unidos, e Müller, que se tornou chefe da congregação doutrinal em julho.
A LCWR confirmou que sua liderança se encontrou com autoridades do Vaticano numa declaração na segunda-feira e disse que a conversa foi “aberta e franca”.
“Oramos para que essas conversas deem frutos para o bem da Igreja”, concluiu a declaração.
Em abril de 2012, a congregação doutrinal criticou o grupo das religiosas, divulgando uma declaração que dizia que o trabalho da LCWR continha “temas incompatíveis com a fé católica”. Essa medida ensejou, em todo o país, protestos em apoio às irmãos.
Os resultados concluíram uma investigação do grupo que durou três anos e era formalmente conhecida como uma “avaliação doutrinal”, lançada pelo prefeito anterior da congregação e ex-arcebispo de São Francisco, o Cardeal William Levada.
A congregação colocou o grupo sob o controle do arcebispo de Seattle, J. Peter Sartain, que recebeu um mandato de cinco anos para supervisionar as reformas como arcebispo-delegado da congregação.
Em junho, a LCWR disse que as críticas da congregação se baseavam em acusações não comprovadas, provinham de um processo cheio de falhas e causaram “escândalo e dor em toda a igreja”.
As notícias sobre a reunião de segunda-feira foram publicadas em cinco parágrafos do boletim informativo diário do Vaticano, que disse que Müller, as líderes da LCWR e Sartain estavam presentes à reunião.
Antes de reafirmar a crítica da congregação doutrinal, disse o release, Müller “expressou sua gratidão pela grande contribuição das religiosas à igreja nos Estados Unidos”.
Müller também “destacou” ensinamentos do Concílio Vaticano II que promovem “uma visão da comunhão eclesial fundamentada na fé em Jesus Cristo e nos ensinamentos da Igreja transmitidos fielmente ao longo do tempo sob a orientação do Magistério”, afirma o comunicado à imprensa.
Müller também enfatizou que "uma Conferência de Superioras Gerais e Provinciais, como a LCWR, existe com a finalidade de promover esforços comuns entre seus institutos-membro e a cooperação com a Conferência dos Bispos local e com os bispos individualmente”, disse o release. “Por essa razão, essas Conferências são constituídas pela Santa Sé e permanecem sub sua direção”.
A notícia sobre a reunião de segunda-feira poderia reacender uma divisão entre membros da burocracia do Vaticano em relação à maneira de tratar esse grupo de irmãs.
Enquanto a Congregação para a Doutrina da Fé pode estar adotando uma abordagem do tipo linha dura, a congregação vaticana responsável pela supervisão do trabalho das ordens religiosas no mundo inteiro assumiu recentemente uma postura mais sensível, chegando a indicar que buscava o diálogo com as irmãs.
A nomeação do padre franciscano José Rodríguez Carballo como segundo na linha de comando da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, que foi a primeira nomeação do Papa Francisco para a burocracia do Vaticano, parecia aprovar a abordagem mais branda: os colegas de Rodríguez disseram que ele é uma pessoa que busca colaboração, e não conflito.
A congregação religiosa iniciou anteriormente, em 2009, uma investigação própria das irmãs americanas. Conhecida como “visitação apostólica”, ela examinou individualmente ordens das irmãs católicas nos Estados Unidos. Essa investigação começou sob o Cardeal Franc Rodé, ex-líder da congregação para os religiosos. Em 2011, ele foi substituído pelo cardeal brasileiro João Braz de Aviz.
A última declaração oficial de qualquer das partes a respeito da reforma da LCWR foi feita após uma reunião, ocorrida em 11 de novembro, entre quatro líderes da LCWR e os três bispos americanos.
Como parte do mandato recebido por Sartain para a reforma do grupo, ele tem poder sobre cinco áreas, incluindo a revisão de seus “planos e programas”, o que poderia afetar a assembleia anual da LCWR em agosto.
Os poderes de Sartain incluem os seguintes:
• revisar os estatutos das LCWR;
• criar novos programas para a organização;
• revisar e oferecer orientação sobre a aplicação de textos litúrgicos; e
• rever a filiação da LCWR a outras organizações, incluindo o grupo NETWORK, que faz lobby político, e o Resource Center for Religious Institutes.
A LCWR já anunciou alguns planos para sua assembleia de agosto, incluindo a apresentação de uma distinção para a irmã franciscana Pat Farrell, a presidente imediatamente anterior do grupo que foi seu líder durante a divulgação da crítica do Vaticano em abril de 2012 e ajudou a coordenar a reação do grupo.
Ao ser contatado em 4 de abril para falar a respeito da distinção concedida a Farrell, um representante de Sartain disse que o arcebispo “não tinha nada a declarar no momento” sobre o assunto nem sobre seu envolvimento no plano ou na concessão de distinções por parte do grupo de irmãs.
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Papa Francisco reafirma crítica à Conferência de Lideranças das Religiosas nos Estados Unidos e plano de reforma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU