14 Abril 2015
“A diplomacia teria sugerido palavras mais prudentes. Mas o Papa Francisco falou com o coração e mostrou grande determinação: aos seus olhos cem anos são suficientes para finalmente poder enfrentar a questão do genocídio dos armênios sem reticências”. Franca Giansoldati, vaticanista do jornal italiano Il Messagero, autora do livro A marcha sem retorno. O genocídio armênio (Salerno editora, 128 páginas), explica ao Huffington Post que as palavras pronunciadas hoje pelo Papa são uma novidade absoluta na história da Igreja católica, porque jamais um Pontífice havia ousado tanto. As frases de Bergoglio não têm, todavia, a intenção de exacerbar os ânimos, “mas de reconhecer o passado para poder construir uma harmonia no presente”.
A reportagem é de Nicola Mirenzi, publicada por L’Huffington Post, 12-04-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
A Turquia reagiu, no entanto, duramente. Está avaliando a retirada do embaixador. O Papa Bergoglio foi muito mais corajoso. Recordou-me o que fez Bento XV em 1915, quando, recebendo as narrações dos massacres, estupros em massa e deportações, que teriam depois culminado naquilo que hoje reconhecemos como o genocídio armênio, escreveu por bem duas vezes ao sultão do império otomano implorando-lhe de frear aquele horror.
Eis a entrevista.
Qual é a novidade de Francisco?
As palavras do Papa não têm somente um valor religioso, mas também político. Sua mensagem é muito forte. Ele diz: “Estes mortos, são mortos cristãos. São mortos nossos. Não podemos esquecê-los, fingir que não os conhecemos”. O ministro do exterior turco disse que as palavras do Papa são sem “fundamento”, distantes da “realidade histórica”. É sem fundamento a obstinação turca de negar o que atualmente todos os historiadores estão concordes em definir como um genocídio, o primeiro genocídio do século vinte. Sabe, eu creio que a Turquia esteja irritada também por outra coisa.
Qual?
Além do uso da palavra “genocídio” creio que a Turquia tenha advertido o significado profundo que da referência do Papa ao ecumenismo do sangue. Quando Francisco diz que aquele milhão e meio de mortos nos dizem respeito como cristãos, está atualizando uma questão que de outro modo permaneceria relegada aos livros de história. E, ao invés, não, diz o Pontífice: é um tema que nos diz respeito de maneira direta, hoje.
O presidente turco Erdogan expressou, no ano passado, o seu pesar pela morte dos armênios. Um gesto que foi interpretado como uma abertura, um passo em frente para o reconhecimento.
Não estou de acordo. A carta expedida por Erdogan para o dia 24 de abril – o dia em que se recorda o genocídio – é uma carta assentada substancialmente sobre a negação. A Turquia se recusa reconhecer, obstinadamente, aquele massacre, por toda uma série de razões históricas, políticas e também econômicas: reconhecê-lo significaria, de fato, abrir a odiosa questão dos ressarcimentos...
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Genocídio armênio. “Com o coração, mas também com a política. O Papa, como Bento XV, que pediu ao Sultão que parasse o massacre” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU