Por: Jonas | 05 Março 2015
Os novos estatutos que regularizam as atividades da Secretaria de Estado, do Conselho para a Economia e do Revisor Geral, publicados ontem no sítio da Santa Sé, deram origem a diferentes leituras.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 04-03-2015. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/sztqpb |
A primeira é a que reconhece nestes textos uma vitória substancial do cardeal australiano George Pell (foto), prefeito da Secretaria para a Economia: os poderes de seu dicastério são, efetivamente, consideráveis, tanto em relação às faculdades de vigilância e controle, como em relação à administração do pessoal. Na realidade, ninguém imaginava que o purpurado, chamado de “ranger” e inclusive “czar” das finanças vaticanas, visse diminuídos radicalmente seus poderes a 12 meses de sua nomeação.
A segunda leitura é a que percebe nos novos estatutos uma derrota para o purpurado e seus colaboradores, pois no documento aprovado pelo Papa Francisco se revoga a passagem da gestão dos imóveis vaticanos, estabelecida em julho de 2014, da Apsa (Administração do Patrimônio da Santa Sé) à Secretaria para a Economia. E parece evidente a vontade de manter certa distância entre a vigilância, o controle dos gastos e a administração de pessoal e dos bens (movéis ou imóveis) que o próprio Pell teria desejado incluir na segunda seção da Secretaria, definida como “administrativa”. Inclusive em vista do nascimento do VAM (Vatican Asset Management), uma estrutura autônoma que se encarregará da gestão de todos os investimentos e que, segundo o projeto que se está estudando, seria dirigida pelo presidente do IOR Jean-Baptiste de Franssu, homem de confiança do próprio cardeal Pell.
Ao ler os novos estatutos, promulgados “ad experimentum”, razão pela qual poderão ser modificados ou ajustados (e por este motivo é impossível dar um parecer definitivo sobre a configuração da cúpula das estruturas econômico-administrativas vaticanas), compreende-se que a Secretaria para a Economia, apesar de contar com novos poderes, não será um “superdicastério” que se ocupará de tudo, acima de todos. Pode-se concluir que após os nove meses de “gestação” dos novos estatutos no seio da mesma Secretaria, durante o último período surgiu um confronto interno (às vezes áspero) que trouxe como resultado um trabalho colegial, com vários organismos, instituições e pessoas que contribuíram com seus conselhos, sugestões e observações. Neste sentido, tanto a primeira como a segunda interpretação parecem fora de lugar: com a promulgação dos novos estatutos não há vencedores e nem vencidos. A única coisa que existe é a intenção de construir, para além das pessoas, um sistema de “check and balances” capaz de funcionar e de oferecer uma maior transparência e racionalização dos gastos. Um dado pouco difundido dos novos estatutos é a maior autonomia em relação às iniciativas da Secretaria para a Economia da qual parece gozar o Governatorado da Cidade do Vaticano, submetido como o restante das instituições e organismos da Santa Sé ao poder de vigilância do novo dicastério dirigido por Pell, porém mais livre em relação à administração de pessoal e dos recursos.
Desde os últimos meses de 2014, alguns apresentaram a contraposição interna como o enfrentamento entre duas mentalidades: a anglo-saxão, encarnada por Pell e sua intenção de introduzir no Vaticano as regras da boa administração e da transparência, que nem sempre foram aplicadas; e a dos curiais italianos, que se oporiam a estas regras da boa administração, rememorando com nostalgia, em alguns casos, as operações opacas do passado mais ou menos recente. O que é certo é que, nos últimos tempos, os meios de comunicação retomaram e insistiram nas histórias pouco edificantes e claras relacionadas ao IOR, Apsa e, em geral, com certa gestão “à italiana”. Porém esta representação da realidade é muito restrita. Não se deve esquecer que nas últimas décadas houve eclesiásticos não italianos em postos centrais para a administração das finanças do Vaticano, como o bispo Paul Marcinkus ou o cardeal Edmund Casimir Szoka. Seria, pois, redutivo, considerar qualquer objeção à criação do “superdicastério” como uma resistência às regras da boa administração.
Com os três novos estatutos, Francisco demonstra querer continuar, com decisão, pelo caminho da transparência, valendo-se da ajuda de novos e velhos colaboradores em uma Cúria colegial, na qual o papel da Secretaria de Estado continua sendo preponderante.
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Novos estatutos econômicos do Vaticano: nem vencedores e nem vencidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU