02 Março 2015
Contra a exploração dos trabalhadores e a idolatria do dinheiro, para se salvar do "mar traiçoeiro da economia global", é preciso revigorar os valores fundadores das empresas cooperativas, a sua original "função social forte".
A reportagem é de Gilda Maussier, publicada no jornal Il Manifesto, 01-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa, basicamente, é a mensagem "antiglobalização" que o Papa Francisco quis enviar ao mundo falando com mais de sete mil pessoas, que lotaram a Sala Paulo VI nesse sábado, durante a audiência concedida à Confcooperative.
"As cooperativas devem continuar sendo o motor que eleva e desenvolve a parte mais fraca das nossas comunidades locais e da sociedade civil", disse Bergoglio em um longo discurso, em parte escrito e em parte improvisado.
Mas o papa adverte que "a economia cooperativa, se autêntica", busca "finalidades transparentes e límpidas" e é promovida "por pessoas que querem somente o bem comum".
Portanto, embora seja preciso "pôr em primeiro lugar a fundação de novas empresas cooperativas, junto com o desenvolvimento ulterior das já existentes" para construir novos postos de trabalho, também se deve buscar uma dura luta contra a "prostituição das cooperativas" e contra aqueles que usam o "seu bom nome para enganar as pessoas para o objetivo de lucro".
Bergoglio se refere aos eventos de "Mafia Capitale" [organização mafiosa romana que agia desde o ano 2000] e àquele "mundo do meio" que deturpou o mundo das cooperativas. Mas é um discurso que ele já abordou na Evangelii gaudium, quando, em novembro passado, criticou as teorias da "recaída favorável" no livre mercado, atraindo sobre si as antipatias dos capitalistas de meio mundo.
Por outro lado, o papa argentino conhece bem "a economia do descarte" que degrada as pessoas a objetos:" A regra não digo normal, mas habitual – lembra o pontífice – é que se diz a muitos que procuram trabalho: 'Onze horas de trabalho a 600 euros. Você gosta? Não? Vá embora para casa, porque há uma fila de pessoas à procura de trabalho'. A fome nos faz aceitar o trabalho ilegal, para dar um exemplo, até mesmo o pessoal doméstico. Quantos homens e mulheres no trabalho doméstico tem o seguro social para a aposentadoria?".
Um "não" forte, portanto, a "um certo liberalismo que acredita que é necessário primeiro produzir riqueza, não importa como, depois produzir alguma política redistributiva por parte do Estado, primeiro encher os copos, depois dar aos outros. Outros pensam que é a própria empresa que deve distribuir as migalhas da riqueza acumulada, cumprindo, assim, a própria responsabilidade social". Pensa-se em fazer o bem, mas "se continua a fazer marketing sem sair do circuito fatal do egoísmo das pessoas e das empresas".
Francisco, depois, levanta um anátema contra o dinheiro que "é o esterco do diabo", frase que é antiga. E, de fato, não acaso, é uma citação de Basílio de Cesareia, eclesiástico do século IV.
Mas o papa também destaca, mais modernamente, que a idolatria da riqueza "arruína homem e o condena". E explica para a confederação das grandes cooperativas que, ao contrário, "o dinheiro a serviço da vida pode ser gerido do modo justo pela cooperativa, mas se for uma cooperativa autêntica, verdadeira, onde não comanda a capital sobre os homens, mas os homens sobre o capital", a fim de mudar a face da economia global, e mudá-la na "globalização da solidariedade".
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Bergoglio, o papa antiglobalização: ''É preciso voltar para os valores originais das cooperativas'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU