Por: Jonas | 10 Fevereiro 2015
A meio caminho entre um altivo de cinema e um irresistível professor ‘gauche caviar’ (esquerda caviar), entre o caucásico europeu e o ‘sex appeal’ mediterrâneo, o fenômeno Yanis Varoufakis (Atenas, 1961) se arrastou da economia à vida em metade de uma Europa sedenta de líderes com carisma. Uma sociedade embriagada de informação que caiu, rendida – seja por receio, seja por admiração - diante de um inesperado perfil político capaz de dar um soco na mesa, com fluência inglesa de negócios, sem descuidar do sorriso.
Fonte: http://goo.gl/SMkDkJ |
A reportagem é de Fátima Vila, publicada por Economia Digital, 06-02-2015. A tradução é do Cepat.
Seguro e preparado, ‘marxista libertário’ e ‘media friendly’, o novo ministro da Fazenda grego arrasa, contando com uma grande liderança, que há semanas superou o estritamente político. Na contramão de qualquer um de seus atenuados pares europeus, tecnocratas na Europa da meritocracia de partidos, a imagem do ministro grego, com o seu meio sorriso, salta de programa em programa, de manchete a manchete, com a naturalidade flexível de um galã de cinema e o amplificador viral da comunidade social.
Segurança e fortaleza
Para o assessor de comunicação e consultor político, Antoni Gutiérrez-Rubí, a chave do êxito do ministro ateniense está em sua gestão integral da mensagem. Das palavras aos gestos, a mensagem de Varoufakis é única: “Transmite segurança e fortaleza e faz isso sabendo muito bem a importância dessa atitude quando se é um negociador. Suas primeiras declarações já davam uma boa mostra de seu vigor físico e clareza de ideias”, aponta o consultor, que também ressalta o “sorriso calculado” do político grego, bem como a masculinidade tradicionalmente associada à alopecia masculina. “O calculado gesto de Varoufakis contrasta com o de Tsipras, de sorriso aberto e mais generoso. São o político mau e o político bom, o suave e o duro. Um equilíbrio fundamental para se sentar e negociar”, sugere.
Varoufakis chibata de austericidas, Varoufakis autor de livros, Varoufakis motociclista, Varoufakis sofrido pai de família. Os perfis traçados sobre o ministro das Finanças grego se multiplicam e, pela primeira vez em muito tempo, saltam de informações sobre economia para publicações massivas, revistas femininas e até chats do ambiente gay.
Mais de 220.000 seguidores em seu perfil de Twitter (@yanisvaroufakis) e um blog (yanisvaroufakis.eu) no qual economia e vida se misturam, mostrando um novo perfil político com compromisso ético e mulher artista, que não tem medo de falar de sentimentos, que comparece às reuniões do Eurogrupo sem escolta, montado em sua Yamaha 1.300 cc, viaja com mochila e, como não poderia ser de outra forma, descarta as gravatas.
A nova Grécia, a Grécia eterna
“Varoufakis dá vazão ao imaginário helênico: virilidade olímpica e sensibilidade cultural. É a marca da nova Grécia que, no fundo, é a marca da Grécia eterna, a da beleza do corpo, mas também da mente”, aponta o assessor.
Atrativo, bem vestido, culto e muito preparado, Varoufakis não se ajusta à imagem do grego esbanjador e pedinte, forjada nos últimos anos pelos meios de comunicação da Europa austera e protestante. Doutor pela Universidade de Essex e professor em Cambridge, entre outros, viveu na Austrália, Bélgica, Estados Unidos e, é claro, na Grécia. Um currículo nada medíocre, com o qual pretende curvar os preceitos da Europa dos cortes de inspiração alemã.
Gestão integral da mensagem
O primeiro contato com o Eurogrupo marcou a diferença. De um lado, a sonoridade agressiva e a uniformidade do alemão Wolgang Schäuble, do outro, a energia viril de quem não está ali para defender siglas ou benefícios econômicos. A energia de quem coloca em benefício de sua pátria – a Grécia é um dos países mais nacionalistas do sul da Europa – o produto de uma cabeça bem formada.
Batizado como o Dr. Doom (Dr. Destino) da Grécia ou, para os mais diretos, ‘Varoufucker’, o ministro grego aglutina a esperança da classe média europeia esmagada pela crise, mas também vai mais além. É que a liderança viril do ministro grego supera, inclusive, a prova do credor. Há alguns dias, uma revista alemã recomendava as peças chave de seu estilo: 'Steel de stilj'.
O herói frente ao vilão
Varoufakis é o homem do ano em meio a uma classe política amolecida, que há muito tempo deixou de entusiasmar as massas. Não é apenas um ministro, não é apenas um professor, é a grande esperança burguesa da Grécia – onde é parado pelas senhoras que querem beijá-lo - e também de outras economias sacudidas pela troika.
“A história política é repleta de mitos. Os arquétipos de heróis e vilões sempre foram uma necessidade da sociedade ao longo da história e Varoufakis cumpre esse papel. Não deixa de ser heróico desafiar ao ‘não se pode’ da troika. Havia uma batalha que parecia impossível e alguém a enfrentou”, explica o assessor, que considera não ser por acaso que o ministro grego chegou à primeira reunião com o Eurogrupo sem pasta: “Mostra que não entregará nada, mas, sim, oferece as mãos abertas”,
Em uma sociedade audiovisual e sedenta de líderes, Varoufakis exibe todos os seus encantos e conquista audiência. Na internet proliferam os memes com sua foto como Superman, como V de Varoufakis-Vendetta, como Heisenberg de Breaking Bad... Ícones intergeracionais, interclassistas e globais compartilhados por uma sociedade sem ideologias que, no entanto, está desejando acreditar em alguém. Diante de tal nível de furor coletivo, coloca-se apenas uma pergunta: seria igual se fosse feio?
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Varoufakis, um herói grego do século XXI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU