28 Janeiro 2015
A esperança dos católicos e luteranos é que a comemoração comum da Reforma possa oferecer mais uma oportunidade para avançar juntos no caminho rumo à unidade.
A opinião é do sacerdote alemão Matthias Türk, oficial do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, em artigo publicado no jornal L'Osservatore Romano, 25-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"O diálogo ecumênico hoje não pode mais ser separado da realidade e da vida das nossas Igrejas. Em 2017, os cristãos luteranos e católicos comemorarão conjuntamente o quinto centenário da Reforma. Nessa ocasião, luteranos e católicos terão a possibilidade de, pela primeira vez, compartilhar uma mesma comemoração ecumênica em todo o mundo, não na forma de uma celebração triunfalista, mas como profissão da nossa fé comum no Deus Uno e Trino. No centro desse evento, portanto, haverá a oração comum e o íntimo pedido de perdão dirigido ao Senhor Jesus Cristo pelas culpas recíprocas, junto com a alegria de percorrer um caminho ecumênico compartilhado. De maneira significativa, faz referência a isso o documento produzido pela Comissão Luterano-Católica pela Unidade, publicado no ano passado e intitulado Do conflito à comunhão. A comemoração comum luterano-católica da Reforma em 2017. Que essa comemoração da Reforma possa nos encorajar, a todos, com a ajuda de Deus e o apoio do seu Espírito, a dar mais passos rumo à unidade e a não nos limitarmos simplesmente ao que já alcançamos."
Com essas palavras, o Papa Francisco, dirigindo-se aos representantes do Comitê Nacional Alemão da Federação Luterana Mundial (FLM) e da Comunidade Unida Evangélico-Luterana da Alemanha, durante a audiência privada realizada no dia 18 de dezembro de 2014, referiu-se à iniciativa de uma comemoração comum da Reforma entre católicos e luteranos.
Ambas as partes estão firmemente intencionadas a celebrar tal aniversário de forma ecumênica e em nível internacional. Por isso, ainda no segundo semestre de 2016, como primeiro evento que abrirá o Ano da Reforma e como continuação do processo iniciado com o documento comum Do conflito à comunhão. A comemoração comum luterano-católica da Reforma em 2017, a FLM e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos organizarão juntos um ato ecumênico para destacar, às vésperas do quinto centenário da Reforma, os resultados de um consenso diferenciado alcançado em 50 anos de intenso diálogo ecumênico. E o ano de 2017 irá marcar também o 50º aniversário desse diálogo entre a FLM e a Igreja Católica.
O documento Do conflito à comunhão. A comemoração comum luterano-católica da Reforma em 2017, publicado pela Comissão Luterano-Católica pela Unidade em 2013, é a primeira tentativa feita pelos dois parceiros de descrever juntos, em nível internacional, a história da Reforma.
O relatório menciona os pontos teológicos polêmicos da Reforma do século XVI e traça o progresso ecumênico realizado a esse respeito. O texto também apresenta cinco imperativos ecumênicos para o diálogo e o nosso testemunho comum diante do mundo contemporâneo.
Nisso também se baseou a elaboração do material litúrgico comum que deverá ser disponibilizado em todo o mundo, tanto para as dioceses católicas, quanto para as comunidades regionais luteranas. O próprio documento se baseia no trabalho teológico de décadas realizado conjuntamente por católicos e luteranos, do qual um resultado importante também é a "Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação", que foi oficialmente assinada no dia 31 de outubro de 1999 pela FLM e pelo Pontifício Conselho, e expressa o consenso alcançado sobre verdades fundamentais da doutrina da justificação.
"Um dos princípios da FLM na comemoração da Reforma é a responsabilidade ecumênica. Portanto, estamos alegres com a oportunidade de poder refletir sobre o aprofundamento do diálogo em curso há anos com a Igreja Romano-Católica e de programar um evento ecumênico às vésperas do Ano da Reforma de 2017. Por causa desses desdobramentos, o documento Do conflito à comunhão é um bom fundamento", afirmou o secretário-geral da FLM, o reverendo Martin Junge.
E o cardeal presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Kurt Koch, declarou: "Um caminho essencial rumo à superação de uma história de divisão tão dolorosa é escrever tal história juntos. Isso aconteceu com o documento Do conflito à comunhão, que pode ser considerado um fruto maduro do diálogo ecumênico nas últimas décadas. Fazem parte de uma comemoração comum da Reforma a gratidão e a alegria pela aproximação recíproca na fé e na vida, que se verificou nos últimos 50 anos, mesmo tendo em conta a longa história comum antes da Reforma e antes da divisão da Igreja. Do arrependimento diante do sofrimento do passado e da alegria pela comunhão ecumênica que foi possível realizar até agora, nasce a esperança de que a comemoração comum da Reforma nos ofereça a possibilidade de dar mais passos rumo à unidade que ansiamos e em que esperamos e de não ficar parados naquilo que já conseguimos. Para esse objetivo, o documento ecumênico Do conflito à comunhão contribui de forma importante, concentrando-se naqueles aspectos da fé cristã que são comuns a nós".
Por ocasião do 125º aniversário da fundação da União de Utrecht, o congresso anual vetero-católico internacional se reuniu no mês de setembro na cidade dos Países Baixos, incluindo um programa especial de uma manhã para alguns representantes dos parceiros ecumênicos da União.
Ainda por ocasião da comemoração da fundação da União de Utrecht, os membros da Conferência dos Bispos Vetero-Católicos, sob a liderança do seu presidente, Joris August Odilius Ludovicus Vercammen, arcebispo vetero-católico de Utrecht, encontraram-se com o Papa Francisco em uma audiência privada no dia 30 de outubro passada.
Essa circunstância contribuiu para fortalecer as relações ecumênicas entre a Igreja Católica e a comunidade vetero-católica, relações que receberam um importante impulso em 2009, com a publicação de um relatório da Comissão Internacional Católica-Vetero-Católica de Diálogo, intitulado Kirche und Kirchengemeinschaft ("Igreja e comunidade eclesial").
Em junho passado, a convite da comunidade vetero-católica da Alemanha, em Bad Godesberg, a Comissão, copresidida, da parte vetero-católica, pelo bispo de Bonn, Matthias Ring, e, da parte católica, pelo arcebispo de Paderborn, Hans-Josef Becker, continuou o seu trabalho sobre o tema "Relação entre Igreja universal e Igreja local, o papel do ministério petrino e da comunhão eucarística".
Outra reunião aconteceu também na Alemanha, em Paderborn, em dezembro, a convite da Igreja Católica.
Em junho, depois, continuou em Ludwigshafen am Rhein (Alemanha) a série de consultas entre a Comunidade das Igrejas Protestantes Europeias e o Pontifício Conselho. Essa série de conversas entre os protestantes da Europa e a Igreja Católica novamente abordou a questão do conceito da Igreja e da definição do objetivo ecumênico, levando adiante a reflexão iniciada há anos.
O encontro foi copresidido pelo bispo luterano de Braunschweig, Friedrich Weber, e pelo bispo de Speyer, Karl-Heinz Wiesemann, e contou com a participação de sete teólogos de ambas as partes.
As consultas sobre questões relacionadas com a eclesiologia e o objetivo ecumênico continuaram em dezembro, em Cambridge (Reino Unido), sob a copresidência de Friederike Nüssel, da Faculdade Evangélico-Luterana da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e de Dom Wiesemann, bispo católico de Speyer.
A esperança dos católicos e luteranos – à qual se dirige a nossa atenção de modo particular nesta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos – é que a comemoração comum da Reforma possa oferecer mais uma oportunidade para avançar juntos no caminho rumo à unidade.
Uma contribuição importante nesse sentido, como mencionado, é o documento ecumênico Do conflito à comunhão, que, articulando-se em torno da tríade de arrependimento, gratidão e esperança, destaca aqueles aspectos da fé cristã que católicos e luteranos têm em comum.
No esforço para cimentar progressivamente as relações recíprocas, não devemos nunca nos esquecer de que o serviço fundamental do ecumenismo consiste em testemunhar a presença do Deus vivo em sociedades cada vez mais secularizadas.
O cardeal Koch afirmou o seguinte a respeito: "Como cristãos, não acreditamos em um Deus qualquer, mas naquele Deus que nos mostrou concretamente o seu rosto no homem Jesus de Nazaré. Por isso, Martinho Lutero concretizou e aprofundou a sua busca apaixonada de Deus no cristocentrismo da sua espiritualidade e da sua teologia. Se hoje também luteranos e católicos se concentram juntos na centralidade da questão de Deus e no cristocentrismo, então será possível um pensamento ecumênico da Reforma, não no sentido pragmático, mas no sentido profundo da fé no Cristo crucificado e ressuscitado, que Lutero trouxe à tona de maneira renovada. Diante dessa tarefa, encontramo-nos nós hoje e só podemos realizá-la juntos".
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Relações luterano-católicas: por uma história a ser escrita juntos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU