10 Outubro 2015
"Como está o clima no Sínodo, eminência?" "Como você vê, já estamos nos batendo!", ri o cardeal Christoph Schönborn, e aponta para o olho esquerdo, um pouco inchado por causa de uma irritação. Arcebispo de Viena, grande teólogo dominicano, aluno de Joseph Ratzinger, ele é o moderador do círculo de discussão de língua alemã: ele mesmo, Kasper, Marx, Müller e assim por diante, o grupo tem tanta autoridade quanto variedade. O aprofundamento começou. Fora do Sínodo, irrompeu um temporal, raios e trovões sobre São Pedro, e o cardeal austríaco se protege debaixo da colunata de Bernini.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 09-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O padre Adolfo Nicolás, geral dos jesuítas, disse ao jornal Corriere: Francisco poderia avançar mais rapidamente sozinho, mas não quer, ele ama a Igreja, e a Igreja precisa de tempo...
É verdade. O papa sempre falou de syn-odós, no sentido de caminhar juntos. E não só com os bispos, mas com toda a Igreja. No início do Sínodo, ele nos disse: vocês, bispos, estão aqui com as suas Igrejas, com todo o povo de Deus, o pastor não vem sozinho, ele traz consigo todo o rebanho, façamos um caminho juntos. E depois há um aspecto muito jesuíta no modo de proceder de Francisco, o que Inácio de Loyola chama de discernimento: qual é a vontade de Deus? E se busca a vontade de Deus não só na oração, como ele faz e nos convida muitas vezes a fazer...
E de que outro modo?
Na escuta. Estamos aqui para escutar as experiências, as sensibilidades, os sofrimentos. Também os medos. Francisco nos disse: falem com franqueza e escutem com humildade. Desse modo, pouco a pouco, faz-se o discernimento. Às vezes, há uma luz clara, imediata: viu-se isso, por exemplo, na reação do papa diante do sofrimento dos refugiados, um ato imediato de compaixão e de proximidade. Outras vezes, o discernimento é mais lento, há coisas que requerem mais tempo. E esse é o caminho deste processo sinodal.
O senhor falava de escuta dos medos. Na Aula, há quem tema "cedimentos". Chegou-se a evocar a ação do Maligno. Como se responde a esses medos?
O demônio é uma realidade. Eu acho que poucos papas falaram tanto do diabo como Francisco. É uma realidade que, por exemplo, nos faz cair na tentação de nos opor, de fazer partidos, como se houvesse partidos políticos, de entrar na lógica da divisão. O diabo, diá-bolos, é literalmente aquele que divide, que causa confusão. Jesus também disse que devemos ter medo disso. Mas sem nos deixar condicionar.
E como se faz isso?
O papa falou a respeito: a resposta é a confiança, a fé. O perigo existe sempre, é verdade. O próprio Francisco nos listou cinco tentações, e entre estas o laxismo e o rigorismo: a tentação de medicar as feridas sem antes tratá-las, e a tentação da dureza, da falta de compaixão e misericórdia. Eu acho que estamos em um caminho bastante trabalhoso, mas necessário, mais do que nunca necessário. Um caminho de discernimento, justamente.
O método do aprofundamento nos 13 "círculos" linguísticos pode ajudar?
Sim, é muito mais eficaz do que a assembleia plenária, onde os discursos se sucedem sem conexão.
O senhor está confiante de que se chegará a um caminho compartilhados depois das divisões iniciais na Aula?
Eu não diria divisões: são sensibilidades e atenções diferentes. Só que, se concentramos a própria atenção em um ponto, corremos o risco de não ver os outros aspectos. E esse é um perigo para todos nós. O Sínodo tende à sinfonia, à concórdia dos corações.
Como se faz para compôr doutrina e misericórdia?
O Evangelho é o coração da doutrina, a verdade que se aplica para a vida e a felicidade das pessoas. Entre a doutrina e a misericórdia, não deveria haver contrariedade, porque a doutrina do Evangelho está cheia de misericórdia: a grande doutrina do Evangelho é o amor aos inimigos, o perdão dos pecados. Jesus, como lembrou o papa, veio como um médico: "Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores".
Já no Sínodo do ano passado, o senhor havia contado que é filho de divorciados e propôs uma atitude muito aberta, pastoral, nas situações mais controversas, incluindo as uniões de fato e homossexuais. Mas como se faz para encontrar uma regra quando se trata de "acompanhamento" de "situações concretas"?
Isso não é possível, é claro. A norma é a regra de vida: não mentir, não roubar são regras gerais. Mas o cardeal Josef Frings [1887-1978, ex-arcebispo de Colônia, na Alemanha], depois da Segunda Guerra Mundial, dizia às pessoas: se vocês estão morrendo de fome e pegarem qualquer coisa apenas para sobreviver, não é roubar.
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"A doutrina do Evangelho está cheia de misericórdia: a grande doutrina do Evangelho é o amor." Entrevista com Christoph Schönborn - Instituto Humanitas Unisinos - IHU