29 Abril 2017
No Cairo, o papa “concluiu”, em al-Azhar, uma conferência inter-religiosa pela paz, que iniciou na quinta-feira, 27. Mas quem são os outros líderes islâmicos que dela participam? E por que os Emirados Árabes Unidos olham para esse evento com interesse particular?
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada no sítio Mondo e Missione, 27-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os olhos dos católicos de todo o mundo, nestas horas, estão sobre o Papa Francisco, em sua viagem apostólica ao Egito. Na manhã dessa sexta-feira, na Universidade de Al-Azhar, o pontífice concluiu uma conferência inter-religiosa pela paz, convocada pelo grande centro doutrinal sunita. Essa conferência começou na manhã de quinta-feira e também conta com outras presenças que vale a pena salientar.
Também é preciso dizer que o encontro é promovido em conjunto pela Al-Azhar e pelo Muslim Council of Elders [Conselho Muçulmano de Anciãos], outro órgão presidido também pelo imã al-Tayyeb. Esse esclarecimento é importante, porque o segundo é uma instituição promovida pelo governo dos Emirados Árabes Unidos para favorecer o diálogo dentro do mundo islâmico e – através dessa passagem – também o diálogo com outras religiões.
Não por acaso, justamente na última quarta-feira, no Cairo, o Muslim Council of Elders realizou um encontro bilateral com uma delegação do Conselho Mundial de Igrejas, liderada pelo secretário-geral, o pastor norueguês Olav Tveit. E o mesmo órgão também tinha organizado um encontro anterior com o primaz anglicano, Justin Welby, e a conferência em fevereiro com as delegações das Igrejas do Oriente, que produziu uma importante declaração sobre o conceito de cidadania como categoria crucial para a proteção das minorias no Oriente Médio.
Portanto, o que está acontecendo no Cairo também é olhado com grande atenção por Abu Dhabi e pelo resto do Golfo Pérsico, que – com a cumplicidade, também, da presença de alguns milhões de trabalhadores imigrantes cristãos – visa hoje a esculpir um novo papel no diálogo islamo-cristão ao lado das tradicionais instituições islâmicas.
Portanto, vale a pena citar também outros dois personagens que estão presentes na conferência de al-Azhar: primeiro, o copresidente do Muslim Council of Elders, o xeique da Mauritânia Abdullah Bin Bayyah, que é um dos nomes mais em voga hoje no âmbito muçulmano, quando se fala de diálogo.
Bin Bayyah é o principal promotor da Declaração de Marrakesh, uma declaração de janeiro de 2016 a questão dos direitos das minorias religiosas nos países de maioria muçulmana que reinterpretava a Carta de Medina – um texto atribuído diretamente ao profeta Maomé – em uma série de afirmações importantes sobre os direitos dos não muçulmanos e sobre a necessidade de ações concretas a esse respeito. O aspecto importante é que Bin Bayyah é um estudioso de direito islâmico, que leciona na Universidade de Jeddah, na Arábia Saudita, e as suas fatwas são muito estimadas.
Outra figura digna de destaque é a de Amal Al-Qubaisi, que figura entre os palestrantes do primeiro dia da conferência de al-Azhar, junto – dentre outros – com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, e com o ex-secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa. Amal Al-Qubaisi também é uma figura de destaque dos Emirados Árabes Unidos: foi a primeira mulher a ser eleita para o parlamento local e, há dois anos, é também a speaker, primeiro e único caso até agora no mundo árabe.
É evidente, portanto, a intenção de Abu Dhabi de se mostrar em al-Azhar como um país na vanguarda tanto da promoção da tolerância religiosa, quanto dos direitos das mulheres. Sonhando, talvez, em um futuro não muito longe, de ser o primeiro país do Golfo a acolher um pontífice.
Ainda em setembro passado, o Papa Francisco recebeu em audiência o xeique Mohammed Bin Zayed, príncipe de Abu Dhabi e irmão do emir dos Emirados Árabes Unidos. Naquela ocasião, ele levou a Bergoglio um presente sugestivo: um livro sobre o antigo mosteiro cristão de Sir Bani Yas, uma igreja do século VII, que ressurgiu a partir de uma escavação arqueológica, importante reconhecimento da história pré-islâmica da Península Arábica.
Mohammed Bin Zayed, alguns dias antes, quis enfatizar a importância do evento em al-Azhar, ao se encontrar com o arcebispo greco-ortodoxo Teodósio no seu palácio e informando a respeito ao jornal The National. Outro sinal de como Abu Dhabi valoriza o encontro que ocorre nestas horas no Cairo.
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Quem está na Conferência da Paz de Al-Azhar? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU