05 Abril 2020
A Proteção Animal Mundial, organização não-governamental que atua em prol do bem-estar dos animais, lança um estudo sobre o comércio internacional de cobras pítons bola, o animal vivo mais negociado – legalmente – da África. O comércio desse tipo de réptil representa cerca de 20% do comércio global de animais exóticos. Contudo, as péssimas condições de confinamento tornam este tipo de comércio uma bomba-relógio para doenças infecciosas e mortais.
A reportagem é publicada por Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) e reproduzida por EcoDebate, 03-04-2020.
A pesquisa avaliou mais de 5 mil cobras e descobriram que as condições fornecidas por criadores na América do Norte e na Europa não atendem padrões mínimos de cuidados, uma vez que colocam as cobras em pequenos recipientes plásticos e em caixas de vidro, quando são expostos para a venda.
“Esse tipo de comércio traz um enorme sofrimento para os animais, uma vez que vivem confinados em gaiolas apertadas, sem conseguirem expressar seus comportamentos naturais e longe do seu habitat. Esse tipo de confinamento também traz enormes riscos para a saúde humana, pois, essa condição transforma o ambiente em um viveiro de doenças, podendo criar pandemias como a do atual COVID-19”, afirma o gerente de Vida Silvestre na Proteção Animal Mundial, Roberto Vieto.
Segundo o estudo, em pouco mais de 45 anos, mais de 3 milhões de pítons bola foram exportados da África Ocidental para a Europa, Ásia e Estados Unidos – que é o maior importador da espécie. 99% de todas as importações globais de cobras pítons são originárias de apenas três países da região: Togo, Benin e Gana. O Brasil é o terceiro país com maior número de espécies de répteis no mundo (8%).
Os estudos mostram que, em todo o mundo, dezenas de milhões de animais exóticos vivem em residências comuns. Somente nos Estados Unidos, são quase nove milhões de animais exóticos tratados como bichos de estimação, do quais 51% são répteis – especialmente cobras pítons bola. No Brasil, os répteis representam 21% do total de animais de estimação nos lares das famílias.
“A criação dessa espécie na África depende de capturas selvagens. Para tal, elas são escavadas fisicamente de suas tocas, enfiadas em sacos, com cobras de outras espécies, o que resulta em angústia, ferimentos, doenças e morte”, afirma Vieto.
O nome popular píton bola (píton-real) refere-se à tendência da cobra em se enrolar como uma bola quando está tensa, estressada ou assustada. Há ainda a falsa suposição de que as cobras requerem pouco cuidado, contudo, a espécie tem requisitos complexos e específicos para atender às suas necessidades mais básicas em cativeiro, incluindo a capacidade de se estender por todo o corpo. No cativeiro, as pítons bola são mantidas em espaços menores que seus habitats naturais, sem acesso à água, abrigo ou enriquecimento ambiental.
Grande parte do comércio é feita por meio online. Facebook, Youtube e Instagram, que, por meio de grupos de compra e venda ou de vídeos que mostram as cobras em cativeiro, impulsionam esta demanda cruel. Lojas de animais e sites de comércio eletrônico também aumentam o interesse dos consumidores nestes animais.
Além do relatório, a Proteção Animal Mundial lança o mini documentário “Animal Silvestre Não É Pet: Pítons Bola”, que mostra o repugnante comércio de répteis nos Estados Unidos e como esses répteis são vendidos, de maneira irregular, no Benin, principal pítons bola no mundo.
“A proibição permanente de todo o comércio de animais silvestres é a única solução adequada para proteger as espécies silvestres e os seres humanos. A recente pandemia de coronavírus e os surtos regulares de infecções por Salmonella e outras destacam como a proximidade entre animais selvagens estressados e feridos e seres humanos pode ser um combo perigoso. É necessária uma ação conjunta entre governo e sociedade civil para acabar com o comércio de animais exóticos, não só pelo bem-estar animal e biodiversidade, mas, também, para preservar a saúde humana”, finaliza Vieto.
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Comércio global de répteis é um viveiro de doenças, indica pesquisa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU