15 Agosto 2015
"A nova forma 'conservadora' que toma conta da política brasileira anuncia muitas dores, o que só não é percebido pelos que não estudam a massas urbanas e modernas. Pregar a extinção de outras crenças e culturas é uma regressão cultural que equivale ao feito pelo nazismo e pelo estalinismo no século XX", afirma o professor.
Intolerância e radicalização são uma espécie de sinônimos com etimologias distintas. Isso significa dizer que onde há uma, há outra. Após fazer um recorrido histórico no Ocidente sobre as formas de intolerância que desembocam nas que conhecemos, o professor e pesquisador Roberto Romano chama atenção para a história recente do Brasil. “Ao longo dos tempos em países escravistas como o Brasil, o exercício de cultos com origens africanas foi criminalizado.
Imagem: fotos.sapo.pt
Ainda no século XX, no Departamento de Ordem Política e Social - DOPS, polícia sanguinária que envergonha todo ser humano, existia uma Delegacia de Cultos para perseguir as ‘religiões primitivas’”, destaca o pensador em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Entretanto, Romano não reduz as experiências de intolerância somente ao viés das religiões. “Com o fim da URSS e o triunfo do neoliberalismo em escala planetária, tivemos no pontificado de João Paulo II a união estratégica do mundo oficial católico com a ideologia do mercado absoluto, assumida por Ronald Reagan, Margaret Thatcher, e outros”, frisa. “A benção do papa a Pinochet foi o ápice de uma pouco santa aliança entre a política Vaticana e o veto das tentativas de manter a democracia, os direitos dos diferentes, a laicidade”, complementa.
O medo, filho dileto da intolerância, há séculos é o expediente que torna possível uma política calcada no terror, ora dos poderes eclesiais e monarcas, ora dos soberanos modernos, ora do sistema financeiro mundial. Disso, decorre o papel da comunicação que transforma os semelhantes em inimigos. “Após duas ditaduras que inocularam o medo na população, os programas televisivos e radiofônicos exercem um mister importante da razão de Estado: apontar o próprio povo como inimigo a ser ferido, distraindo assim a massa dos arcana imperii que se forjam nos palácios”, avalia Romano.
Roberto Romano cursou doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS, França, e é professor de Filosofia na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Escreveu, entre outros, os livros Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo: Kairós, 1979), Conservadorismo romântico (São Paulo: Ed. UNESP, 1997), Moral e Ciência. A monstruosidade no século XVIII (São Paulo: SENAC, 2002), O desafio do Islã e outros desafios (São Paulo: Perspectiva, 2004) e Os nomes do ódio (São Paulo: Perspectiva, 2009).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Intolerância e modernidade estão diretamente relacionadas? Por quê?
Foto: Portal Unicamp
Roberto Romano - Uma causa da radicalização intolerante reside no crescimento das comunicações entre culturas diferentes. No mundo antigo existiam duas situações sociais diversas. Em primeiro lugar os povos com idêntica religião, formas jurídicas e políticas. Claro, tais formas resultaram de massacre dos vencidos ou tratados. Mas o estrangeiro não chega a ser ameaça absoluta à coesão interna, ele é sempre “bárbaro” e inferior. A intolerância face ao outro cimenta a unidade do povo. A polis grega exemplifica tal atitude mental.
A intolerância judaica, na época de Cristo, define a identidade popular com hegemonia de certos elementos sobre os demais. Daí, os debates da nascente Igreja cristã, entre os que desejavam manter traços do judaísmo (liderados pelo Apóstolo Pedro) e os que viam na religião nova a universalidade que relativizaria a vida judaica, romana ou grega, com Paulo.
A segunda via foi a do controle imperial. Roma é o grande paradigma. As tentativas imperiais gregas (sobretudo atenienses, veja-se Tucídides [1] na Guerra do Peloponeso) fracassaram porque os cidadãos de Atenas quiseram impor todos os seus valores e cultura aos submetidos, além de amealhar impostos escorchantes e indevidos. Já os romanos souberam, com maestria, tolerar culturas e religiões as mais diversas, desde que submetidas ao poder imperial. Os povos dominados eram tidos como bárbaros, mas a cidadania romana estava aberta aos indivíduos estrangeiros.
Helenismo
Com o fim do mando romano e o advento do “helenismo”, surgem doutrinas que relativizam as culturas de cada Estado, tendo em vista a lógica do universal. É o caso dos estoicos, com a utopia de uma cosmópolis. Como o universo teria como base o “logos”, apenas a irracionalidade e a loucura sustentariam as paixões ligadas ao ódio contra os homens. Cícero [2] e Sêneca[3] apontam para os procedimentos imprudentes que se ligam à irracional intolerância, a ira está entre eles.
Idade Média
Durante a Idade Média, a respublica christiana era vista como cultura universal (católica) com a força de integrar em si mesma as diversidades culturais dos povos. A intolerância do corpo eclesiástico (que inclui o mundo civil) se dirigia contra as seitas heréticas. Após a corrosão da referida respublica christiana, em especial com Lutero, [4] os Estados nacionais retomam a tese e a prática da uniformização cultural interna a cada povo. No Tratado de Westfália [5] houve a independência de fato diante do antigo edifício católico. Cada Estado possui o direito de possuir uma religião, a do príncipe, e de vetar outras práticas religiosas ou políticas contrárias ao poder estatal.
Todo esse processo ocorre numa acelerada urbanização que favorece o crescimento dos mercados e das formas políticas burocráticas e centralizadoras. O Estado não se prende a esta ou àquela tendência religiosa ou cultural, mas impõe seu regime a todas e de todas recebe resistência. [6] O processo de secularização e luta pelo controle de corpos e mentes, travado pelos poderes civis e religiosos, resulta das guerras religiosas e dinásticas dos séculos XVI e XVII.
Conquistas
Simultaneamente ao fortalecimento do poder estatal às expensas das igrejas (católica e reformadas) vieram as conquistas coloniais na África, Américas, Ásia. Ao ampliar em escala planetária a matriz grega e romana do etnocentrismo, que dividia o mundo entre “homens” e “bárbaros”, Espanha, Portugal, França, Inglaterra retomaram de forma inédita a Cruzada cristã, a busca de poder e lucro fácil tendo como preço vários genocídios. O europeu cristão invadiu e massacrou milhões na América: a população indígena no futuro território dos EUA ia de 8 a 12 milhões de indivíduos. No final do século XIX eles eram 400 mil, na melhor hipótese. A matança destruiu cerca de 95% das vidas não cristãs. As técnicas de genocídio foram muitas, diretas na eliminação física, ou indiretas na destruição da caça, a deportação, redução do espaço disponível aos índios, justaposição de tribos diferentes num mesmo território, o que provocou fome e lutas entre elas. Alexis Tocqueville [7] testemunhou tal processo de eliminação do outro pelos cristãos, o que matizou seu juízo sobre a democracia americana. [8]
"Tivemos no pontificado de João Paulo II a união estratégica do mundo oficial católico com a ideologia do mercado absoluto, assumida por Ronald Reagan, Margaret Thatcher" |
Massacre na América do Sul
Na América central e do Sul o massacre foi idêntico, ou pior. Apesar de missionários como Las Casas [9] e da ação jesuítica na defesa dos índios, [10] portugueses e espanhóis destruíram culturas inteiras, escravizaram pessoas e impuseram suas crenças religiosas, políticas, militares. A intolerante violência não foi monopólio dos católicos. Os protestantes, em territórios americanos do Sul, viam nos índios e em suas práticas, em especial as religiosas, perigosa presença demoníaca.[11]
Cruzadas contemporâneas
Potências coloniais europeias, a França e a Inglaterra, sobretudo, mas também a Bélgica, sugaram o sangue humano, as riquezas e corroeram as culturas africanas, do Médio e do Extremo Oriente. A virulência colonial que ditava medidas como a inglesa na China (“Proibida a entrada de cães e chineses”), na Índia e na Palestina foi retomada pelos norte-americanos no caso do Irã, em plena Guerra Fria. Nos arredores das cidades iranianas, onde eram jogados os trabalhadores da indústria petrolífera, a miséria grassava. Os bairros “brancos e cristãos” eram proibidos aos nativos. No Irã os EUA deram o primeiro dos golpes de Estado que depois aplicaram no mundo inteiro, com parceria de ditadores sanguinários. A leitura de livros recentes, escritos por norte-americanos e europeus, mostra o quanto os EUA sucederam a geopolítica genocida dos antigos colonizadores.[12]
A cruzada norte-americana que visa impor seu estilo de vida e cultura aos povos do mundo traz como fruto o ressentimento e o ódio à violência usada pela CIA, mariners e fantoches políticos proclamados “presidentes” dos submetidos.[13] Mesmo funcionários graduados da CIA perceberam a extensão da intolerância imperial norte-americana e de seus aliados europeus.
"Ao longo dos tempos em países escravistas como o Brasil, o exercício de cultos com origens africanas foi criminalizado" |
Pavor intolerante
Mas o pavor intolerante não se detém aí. Milhões de africanos foram trazidos para o continente americano (do Norte ao Sul) para serem forçados ao trabalho escravo tendo em vista o lucro dos brancos cristãos. Nenhum respeito existiu diante das religiões, dos corpos e almas dos submetidos pela força bruta ou astúcia. Ao longo dos tempos em países escravistas como o Brasil, o exercício de cultos com origens africanas foi criminalizado. Ainda no século XX no Departamento de Ordem Política e Social - DOPS, polícia sanguinária que envergonha todo ser humano, existia uma Delegacia de Cultos para perseguir as “religiões primitivas”.
Voltemos à aurora da modernidade. Nela ocorre a tentativa de homogeneização forçada, pelos Estados dominantes, das culturas e inclusive das línguas, com a resistência dos segmentos particulares às exigências do poder político colonizador. Na Europa, cidades que prosperaram desde o século XVI mostram a vitória do Estado sobre as Igrejas (católica e reformadas) e a insubordinação destas últimas diante do mando centralizado nas Cortes. Sem o domínio pleno da ordem política, as várias tendências religiosas e culturais do ambiente urbano levantam o desejo de uniformidade, umas contra as outras. E temos a leva de sedições e lutas que terminam no espetáculo terrível da Noite de São Bartolomeu.[14]
Mútua intolerância
A paz imposta pelo Estado não resolve o clima de intolerância gerado pelas estruturas eclesiais, umas contra as outras. A massa urbana é instrumento de ódios e vinganças, com preconceitos de todos os tipos. O ruído, o rumor, os boatos comuns em outros ângulos da vida citadina são potenciados pela indignação diante da justiça e da polícia dos reis. Sem poder assassinar seus inimigos protestantes ou católicos, a massa dirigida por demagogos de ambos os lados assumem rumores e acusações mútuas, a partir das mais leves desconfianças.
O caso Calas no século XVIII exemplifica esta intolerância urbana mesmo e sobretudo contra o controle do Estado absolutista. Calas era protestante e tinha um filho que gostava de música e ia às igrejas católicas para ouvir boas composições. Na hora da janta o filho desaparece. Ele é encontrado morto. De imediato correm os rumores de que o pai o matou porque… ele estaria se convertendo ao catolicismo. O boato corre pela França, sobretudo Paris. Do rumor ao processo, deste à execução tremenda, foi um passo. Ou seja, suspeitar que um protestante tivesse receio da conversão filial, à injustiça de um processo enviesado, tudo entra na lógica da mútua intolerância que reina no Estado e na sociedade moderna.
A rapidez na comunicação, em vez de diminuir a intolerância, a potenciou. Além dos rumores, os libelos, os panfletos, os jornais passaram a trazer ódio às formas diferentes de agir e de pensar. As Luzes, aparentemente opostas aos sectarismos, buscam a perspectiva cosmopolita antiga, sem sucesso. Desde as campanhas dos iluministas os meios de comunicação de massa têm sido orientados para se tornarem porta-vozes de Estados laicos. De um lado os Philosophes pregam, na trilha estoica e depois de John Locke, [16] a tolerância. Mas à socapa disseminam ódios contra as religiões e seus seguidores. Nas entrelinhas da Encyclopédie diderotiana é possível ler o que se escrevia e publicava, de modo anônimo, ao grande público. Muitas teses virulentas, como o Tratado dos Três Impostores (Moisés, Jesus, Maomé) encontram suas fontes nas dobras dos verbetes editados por Diderot. [17], [18]
Revolução Francesa
Na Revolução Francesa os líderes fizeram propaganda da laicidade para ganhar a opinião pública e supostamente impedir lutas sectárias. Católicos e protestantes tinham duas tarefas: salvar a República e a própria alma. Mas, para os descristianizadores, Salus populi significava destruir a religião. Para eles, só o ateu seria patriota. Os demais? Supersticiosos inimigos do povo. Resultado desastroso porque banidos os crentes "a Revolução congelou" (Saint-Just). O radicalismo intolerante foi corrigido pelo culto do Ser Supremo, no fim da República. Ainda em 1793 a Convenção coíbe o fanatismo dos ateus que destruía os vínculos políticos. [19]
Ao comentar o decreto contra as procissões (1792) o jornal Père Duchesne ataca os crentes como cafards (baratas) e foutus cagots (gente sem valor), bougres de bêtes e outros mimos. Qualquer denúncia de jornalistas, no periódico, conduz à guilhotina. Os convencionais, apesar de tudo, exigem deter os sacrilégios "em nome da paz civil". Eles reiteram que "não se manda nas consciências". No decreto de 21/02/1795, "nenhum signo particular a um culto pode ser posto em lugar público (...) mas quem usar da violência contra um culto qualquer, ou ultrajar os seus objetos, será punido segundo a lei de 1791 sobre a polícia correcional". O texto prova que o elo entre descristianizadores e racionalidade é falso.
O fanatismo da razão gera a propaganda do Terror. Assassinar suspeitos? Um baile ao som alegre do Ça ira. A intolerância moderna é partilhada, portanto, por religiosos e ateus. Muitos frutos venenosos saíram desta sementeira política e teológica dos séculos XVIII, XIX, XX. O culto ao Estado tem nexos com a intolerância revolucionária. A manada humana tangida no século XX pelos regimes totalitários tem como inimigo o campo religioso, em todas as suas formas.
No caso do fascismo e do hitlerismo, logo se tornou patente para as igrejas (as que ainda mantiveram sua autonomia e não se reduziram a meros departamentos do poder policial) que a sua intolerância diante da transcendência era visceral. Na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS e seus países submetidos o ateísmo, se tornou, de modo perfeitamente intolerante, instituição oficial. Erra muito quem identifica “intolerância” na vida moderna apenas ao campo religioso. A semente do ódio germina em setores que existiam antes da secularização laica e depois dela.
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"Perto dos marqueteiros, os sofistas invectivados por Platão residem em santuários" |
Brasil
E no Brasil? Aqui, na primeira linha, as formações religiosas que hoje buscam se apropriar do maior número possível das mídias, ampliam em escala inimaginável a sua própria Propaganda fidei, em forma de intolerantes batalhas contra os “inimigos”.
A Igreja Católica seguiu, até o meio do século XX, uma linha defensiva (A Cruzada da Boa Imprensa) com o controle de rádios, jornais, televisões. Mas ainda no século XIX e inícios do século XX, ela contava com um número muitas vezes maior de fiéis do que todas as denominações protestantes reunidas. Sua posição defensiva (de Cristandade) era uma estratégia que compensava carências missionárias de conquista, em alianças com os Estados.
Ainda nos inícios do século XX, muitos católicos pensavam como o Padre Soares d’Azevedo: a catolicidade seria a fonte lídima da nação brasileira, sendo os protestantes destruidores da unidade nacional e, mesmo, agentes do imperialismo norte-americano. Aliás, o padre voltou suas baterias para todos os campos, laicos e religiosos, opostos ao nacionalismo católico. Assim, em 1922, ele enunciava: “Pestosos? Para a ilha Grande. Anarquistas? Expulsão sumária do território nacional (…) mesmo assim a gripe e o tifo, etc. aqui entraram. Mesmo assim explodiram bombas de dinamite em numerosas cidades (…) Fizeram-se paredes e greves (…) Vencerá a peste? Triunfará a anarquia? Não é provável. Contra a primeira dispõe o governo de soros excelentes. Para a segunda, de uma atilada polícia de repressão. Afinal, fala o instinto de defesa. O sulfato de quinino tem em apertos desses honra de marechal” (Brado de Alarme). Além dos “pestosos”, denunciava o sacerdote, existiam as seitas protestantes de origem norte-americana e, portanto, imperialistas. As iniciativas defensivas dos católicos se voltaram para garantir o já ganho com as Cruzadas Eucarísticas, a Liga Eleitoral, a censura, o apoio aos governos autoritários.
Concílio Vaticano II
O Concílio Vaticano II,[20] com o ecumenismo, atenuou as batalhas entre confissões religiosas. Mas ele coexistiu com instantes agudos da Guerra Fria [21] quando as ideologias socialistas e capitalistas, que serviam à razão de Estado, espalharam ódios no planeta, chegando à beira de catástrofe nuclear. O maniqueísmo da propaganda usada pela “civilização cristã e ocidental” e pelo mundo socialista espalhou ditaduras intolerantes nas Américas e Ásia. O outro só poderia ser, como inimigo, aniquilado.
No Brasil, a Marcha da Família com Deus pela liberdade afirmou a divisão do mundo em dois polos, o comunista a ser derrotado a qualquer custo, mesmo que sob ditadura e destruição dos direitos humanos, e o cristão. Na cópia do macartismo, tivemos o brado de “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Seria impossível às diferenças o convívio no mesmo espaço, agora dominado pela Doutrina da Segurança Nacional.
Com o fim da URSS e o triunfo do neoliberalismo em escala planetária, doutrina aplicada quase sempre manu militari e muita propaganda, tivemos no pontificado de João Paulo II [22] a união estratégica do mundo oficial católico com a ideologia do mercado absoluto, assumida por Ronald Reagan,[23] Margaret Thatcher,[24] e outros. A benção do papa a Pinochet [25] foi o ápice de uma pouco santa aliança entre a política Vaticana e o veto das tentativas de manter a democracia, os direitos dos diferentes, a laicidade.[26]
Censura nos Seminários
A censura nos seminários, intervenções em dioceses importantes como a de São Paulo, a perseguição aos teólogos e filósofos ligados à Teologia da Libertação,[27] tudo confluiu para afastar a prática católica dos mais fracos, o que aumentou o poder de elites inescrupulosas que jogavam no mercado de ações o destino de povos inteiros. Foi a era dos yuppies, que levou à catástrofe financeira e política de 2008.
Pontificado de João Paulo II
O pontificado de João Paulo II freou tais reformas, em prol de um modelo de cristandade rígido e não afeito ao diálogo interno ou externo à catolicidade. No mesmo passo as igrejas reformadas, perseguidas antes do século XIX, também perdem fiéis para os movimentos fundamentalistas e carismáticos que, auxiliados por técnicas eficazes de propaganda e organização empresarial, acolheram os que não encontravam mais lugar no mundo oficial católico ou protestante.
A Igreja, até o século XX, via, nos demais, cristãos hereges a serem combatidos por todos os meios, imprensa, cinema, política, polícia. Ela usou seus veículos de comunicação como instrumento de caça aos diferentes.
Uma leitura da Revista Eclesiástica Brasileira - REB, dos periódicos editados pela Vozes de Petrópolis, pode mostrar o quanto a belicosidade católica era exercida contra as formas cristãs ou não cristãs.
Os fundamentalistas protestantes não se incomodam em usar todo tipo de ataque, mesmo os mais baixos, contra os católicos a partir dos anos 80 do século XX. Os mais ardilosos dentre eles, como os donos da Igreja Universal do Reino de Deus, estabeleceram uma estratégia inédita de tomada do poder, visando nova teocracia moderna baseada na mídia e no voto.[28]
Teologia política contrarrevolucionária
Pelo visto, o plano de poder proposto por Edir Macedo funciona. A massa de deputados conservadores eleitos para o legislativo federal, sua hostilização das diferenças e propostas contrárias aos direitos humanos, tudo leva a crer numa importante guinada do Estado brasileiro para a teologia política aos moldes contrarrevolucionários.
Se Joseph de Maistre [29] e outros do século XIX foram ultracatólicos, agora a defesa da intolerância oficial, no Parlamento, vem de outras fontes, sobretudo as devedoras do neoliberalismo econômico, cujo padroeiro é Friedrich Hayek.[30] Os parlamentares fundamentalistas convivem muito bem com bancadas (lobbies) da indústria armamentista e proprietários de “universidades” privadas. Não por acaso, na prática teológico-política encenada, a conquista de redes televisivas, radiofônicas, etc. se dirige contra as minorias e os diferentes. Linchamentos já ocorrem, à espera dos Autos da Fé teocráticos na abolida Praça dos Três Poderes brasiliense, num futuro próximo.
Redes “Sociais”
Os instrumentos recentes de “comunicação”, como as supostas redes sociais, potencializam e radicalizam as correntes de ódio plantadas desde o século XVI, a era do Renascimento e da primeira razão de Estado. Note-se que em todos os prismas, religiosos e ideológicos, a intolerância domina e se fortalece nas chamadas redes sociais.
Os fundamentalistas cristãos, muçulmanos, protestantes, ateus, agem como as hordas descritas por Elias Canetti,[31] sempre em massa. Com sua ação, os indivíduos são devorados e suas crenças, vilipendiadas. Mas é prudente lembrar que de “sociais” aquelas redes têm pouco. Elas, na verdade, servem às práticas políticas de países hegemônicos, pouco se tem estudado sobre os elos entre empresas como o Google e as que mantêm serviços como o Facebook, com os poderes políticos imperiais.
Tais redes espalham a divisão entre as camadas populares, servem a elites econômicas e políticas. Afastadas do poder, as massas podem usar a violência sem peias, distribuir a morte espiritual e mesmo física dos “inimigos”. A razão de Estado efetiva, hoje, é a do mercado, em especial o financeiro. O resto — religião, cultura, política — é cosmético para fantasiar o mundo desencantado das Bolsas e Agências de Risco. Intolerância maior é difícil.
"A universidade forma especialistas em tudo, menos na ética e na moral que respeitam o povo que arca com o Estado, paga impostos escorchantes e pouco recebe em troca" |
IHU On-Line - Como podemos compreender que avançamos tanto em termos tecnológicos, e continuemos periclitantes no campo da ética e sigamos reproduzindo comportamentos bárbaros nas relações sociais?
Roberto Romano - Retomo uma tese de Gabriel Naudé,[32] autor estratégico da razão de Estado, que recorda doutrinas antigas sobre o elo entre técnicas, ciências e moral. Nas Considerações políticas sobre os golpes de Estado (1640) ele adianta que “os hábitos do intelecto são distintos dos vividos pela vontade. Os primeiros pertencem às ciências e sempre são louváveis; os segundos ligam-se às ações morais, que podem ser boas ou más”. E arremata: “é lei comum que todas as coisas instituídas para um fim bom, com frequência são abusadas: a natureza não produz venenos para matar os homens, se ela fizesse tal coisa destruiria a si mesma; a nossa malícia gera tal uso”. A nossa malícia… Mais tarde Kant define a vontade como base de um juízo e uma prática boa ou má. As duas têm como fundamento a razão. O Bem Comum é racional, assim como atos malignos. A consciência ajuda a distinguir um campo do outro.
É possível usar de modo errado um dom (natural ou divino) cuja função é respeitar os valores éticos. Aquele dom leva o ente racional a se colocar um passo adiante das feras. Se, por exemplo, Mengele [33] moveu seu intelecto e vontade para destruir os fracos, é ainda mais vital empregar a consciência para impedir que os técnicos, cientistas e governantes dela façam um instrumento de pavor, contra os oposicionistas. O termo para nomear a consciência na língua grega é “syneidesis”. A palavra, no Testamento Novo, aparece trinta vezes. Jesus prefere a forma judaica, “coração”, fonte de remorso e luz, de onde saem pensamentos pervertidos, assassinatos, roubos, falsos testemunhos, difamações (Mateus, XV, 10, 17-20). E aqui podemos unir o problema das técnicas genocidas e a questão da tolerância.
Mesmo que o cristão, diz Paulo, tenha certeza de seguir normas justas, ele não tem o direito de usar contra os infiéis a força física ou constrangimento moral. [34] Todos têm o direito de pensar de acordo com a consciência. Bem mais tarde o oscilante Rousseau, [35] que foi reformado e católico, exclama: “Consciência! Consciência! Instinto divino, imortal et celeste voz; guia seguro de um ser ignorante e limitado, mas inteligente e livre; juiz infalível do bem e do mal, tu realizas a excelência de sua natureza e a moralidade de suas ações”. (Emílio).
Autoengano
A consciência pode ser usada como instrumento de engano e autoengano, pode ser pervertida. Franz Stangl,[36] nazista igual a Mengele, ficou famoso ao proclamar: “Minha consciência é clara. Eu apenas cumpri o meu dever”. Mesma desculpa de Carl Schmitt [37] em Nuremberg: Hitler era governante legalmente estabelecido… Tais perversões da consciência a fazem rígida como o granito.
La Boétie,[38] contrário às guerras religiosas, afirma que “Nada é mais justo nem mais conforme às leis do que a consciência de um homem religioso temente a Deus, probo e prudente, nada é mais louco, mais tolo e mais monstruoso do que a consciência e a superstição da massa indiscreta”. La Boétie não condena a consciência: percebe o seu perigo quando enjaulada em crenças rígidas.
Ética
A ética sem consciência é reunião de costumes não raro injustos e preconceituosos. Os que pesquisam a ciência e a técnica podem viver segundo éticas supostamente alheias à consciência moral. Os resultados de sua ação trazem desastres como a bomba de Hiroshima e os experimentos médicos com radiação nuclear. Em data recente os EUA pediram desculpas oficiais à Guatemala pelas experiências realizadas em prostitutas e doentes mentais naquele país por volta de 1940. Tais agressões aos corpos alheios, cometidas pelos aventais brancos, foram efetuadas sem consentimento e consciência das vítimas. Não olvidemos o quanto os nazistas médicos (a expressão deveria ser um oximoro e não é) usaram doentes, judeus e outras presas para efetivar seus alvos “científicos”. A eugenia foi gerada nos campi norte-americanos, sendo exportada para a Europa e Alemanha totalitária. É impossível negar as informações trazidas por Edwin Black, no seu tremendo livro A guerra contra os fracos. A Eugenia e a campanha norte-americana para criar uma raça superior (São Paulo, A Girafa Ed., 2003).
Em 1940, médicos que deveriam cuidar dos seres humanos os destruíram. “Usarei meu poder para socorro do adoecido, segundo o melhor da minha habilidade e juízo; evitarei, com ele, ferir ou enganar todo e qualquer homem”, diz o juramento de Hipócrates. Médicos infectaram de propósito, com gonorreia e sífilis, 1.500 pessoas na Guatemala. “Estamos escandalizadas por saber que essa pesquisa ocorreu sob o disfarce de ação de saúde pública”, disseram as secretárias de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e da Saúde, Kathleen Sebelius. “Sentimos muito e pedimos desculpas a todos os infectados na pesquisa”. Barack Obama [39] pediu perdão ao presidente da Guatemala, Álvaro Colom.[40] “Regulamentos sobre pesquisas médicas em humanos nos EUA hoje proíbem esse tipo de violação terrível”, disseram Hillary e Sebelius. Elas afirmaram que será feita uma investigação sobre o caso, especialistas internacionais farão um relatório sobre padrões éticos nas pesquisas médicas.
Pesquisas em humanos
Na mesma época, pouco mais tarde, no próprio território norte-americano, “pesquisas” eram feitas em humanos por médicos com olhar frio. No caderno de horrores intitulado Risco Indevido, um especialista em bioética, respeitado nos EUA por organismos do governo e da sociedade, inclui mesmo oftalmologistas encarregados de verificar o que ocorreria com os olhos de soldados expostos à radiação atômica. Tais fatos se passaram de 1950 em diante.[41] Moreno recompõe, rumo ao pior, os círculos dantescos do Inferno. Notemos que os crimes indicados têm denominador comum: falta de alma dos pesquisadores e segredo. No ano de 1940 a Guatemala era dilacerada por ditadura militar, substituída (1944) pelo regime liberal derrubado em 1954 com impulso da CIA. As proezas médicas americanas existiram porque liberdades foram negadas aos guatemaltecos.
Atentados
Os EUA possui em sua face mundial atentados graves aos direitos humanos e à ordem democrática. Seu apoio aos regimes que infestaram a América do Sul na Guerra Fria é justificado pela razão estatal, mas aquela razão é loucura e paranoia. Todos esses dados fazem pensar na diferença entre a teoria e a prática. Cientistas altamente capazes do ponto de vista teórico podem ser animalescos no âmbito prático. Se eles estão unidos a tiranos, como nos regimes totalitários ou ditatoriais, mesmo que impostos pela “maior democracia do mundo”, hecatombes ocorrem.
"Um dirigente da Anistia Internacional certa feita me confidenciou: “professor, os defensores dos direitos humanos têm a quase certeza de enxugar gelo com toalhas quentes” |
IHU On-Line - Como é possível o exercício da política num tempo marcado pela violência?
Roberto Romano - Digamos, o exercício da política nos limites do Bem Comum, porque a política tirânica é violência pura. Recordemos o que diz Platão [42] na República sobre o tirano que, para exercer seu mando, realiza uma purga às avessas do corpo político. Ele discrimina os bons cidadãos, os expulsa ou mata, mas escolhe os péssimos para auxiliares do governo.
Se pensarmos na razão de Estado, não existe política totalmente conforme ao Bem Comum, democrática e pacífica. Esta é uma das causas pelas quais Santo Agostinho [43] compara os poderes políticos aos piratas e ladrões. Remota itaque iustitia quid sunt regna nisi magna latrocinia? quia et latrocinia quid sunt nisi parua regna? (Sem a justiça… os reinos não seriam apenas grandes quadrilhas de bandidos? E uma quadrilha de bandidos não é só um pequeno reino?) (Cidade de Deus, IV, IV). Remota iustitia: o assunto inteiro da República platônica trata da justiça.
Mas Sócrates [44] compara a Justiça a uma caça que deve ser perseguida. Ela sempre pode escapar pelas nossas pernas. Nosso tempo, o humano, desde que vivemos no planeta Terra, é de violência. Um apoio para a meditação encontra-se no terrível filme de Stanley Kubrick, [45] 2001, uma Odisseia no Espaço. Para entender o conceito de homem fera hobbesiano, as cenas iniciais da película são eloquentes. Não existe poder humano sem violência. A tarefa democrática é atenuar ao máximo o uso da força contra os mais fracos. E, não raro, a tarefa é inglória. Um dirigente da Anistia Internacional certa feita me confidenciou: “professor, os defensores dos direitos humanos têm a quase certeza de enxugar gelo com toalhas quentes”.
IHU On-Line - A partir desse paradoxo, como analisa o cenário político brasileiro, sobretudo no que diz respeito à última eleição presidencial e aos protestos ocorridos este ano?
Roberto Romano - O Brasil é o país da contrarrevolução, para cá trazida nos navios portugueses que fugiam do imperador francês. Aqui foi construído um Estado oposto às conquistas democráticas modernas da revolução inglesa do século XVII, que trouxe para a política e o direito público a exigência da accountability e da liberdade de expressão, e das revoluções ocorridas no século XVIII, a norte-americana e a francesa. Aqui imperam os privilégios dos operadores do Estado contra o cidadão comum. Como não existe de fato responsabilidade dos que operam o Estado, a população é intimidada pela polícia, pelo Fisco, pelas autoridades tirânicas. [46]
Duas ditaduras sangrentas ensinaram a obediência servil aos povos brasileiros, de Norte a Sul. Quando os abusos dos poderosos atingem um clímax, as massas se manifestam, mas logo retorna o costume dos privilégios, dos favores entre compadres do poder. E as massas refluem para suas casas.
As últimas eleições definiram a vitória do marketing político, com sua mensagem de medo acionada pelos propagandistas eleitorais. Perto dos marqueteiros, os sofistas invectivados por Platão residem em santuários. O povo continua tangido por novelas, futebol e demagogia que o distraem do mundo.
IHU On-Line - Como podemos compreender o ódio de classe voltado no Brasil aos mais pobres e às medidas tomadas para minimizar sua condição de vida?
Roberto Romano - Após quinhentos anos de “cristianismo” que escravizou e massacrou indígenas e negros, a ética social brasileira está pavimentada pelo medo das rebeliões dos fracos. Como toda sociedade contrarrevolucionária, o Brasil reserva lugares hierarquizados de privilégios: os mais copiosos para os operadores do Estado, os donos da economia, os funcionários administrativos e a polícia. Na base, o povo sem privilégios e direitos garantidos.
Certa feita, para contestar juristas que ironizavam o nosso povo, dizendo ser ele composto por leigos, escrevi o artigo “Nós, os leigos”. [47] A universidade forma especialistas em tudo, menos na ética e na moral que respeitam o povo que arca com o Estado, paga impostos escorchantes e pouco recebe em troca. É de tal estilo a divisão da sociedade entre “leigos” e “competentes”.
IHU On-Line - Como analisa as manifestações de intolerância em nosso país (inclusive os linchamentos) em relação às mulheres, aos povos originários, aos afrodescendentes e aos homossexuais? Qual é a racionalidade que move os ódios contra essas pessoas?
Roberto Romano - Um país contrarrevolucionário que ignora os direitos do homem e da cidadania, que não pratica a responsabilidade dos governantes, que reconhece privilégios como legítimos, nada garante aos mais fracos como as mulheres, os afrodescendentes, os homossexuais. Além de um escrito incluído em meu livro Lux in Tenebris (“A mulher e a desrazão ocidental”), tratei o tema em aula do Curso de Capacitação em Direitos Humanos e Diversidade Sexual para Gestores Públicos do estado de São Paulo: “Homossexualidade, metafísica e morte. A honra masculina e o direito de matar”. [48]
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"A semente do ódio germina em setores que existiam antes da secularização laica e depois dela" |
IHU On-Line - Para Spinoza [49] o medo e a esperança são as armas mais eficazes para lidar com a população. Em que sentido o medo insuflado pela mídia cooptada alimenta a intolerância?
Roberto Romano - Vejamos o que diz um técnico fascista do direito, Carl Schmitt: "Nenhum Estado liberal deixa de reivindicar em seu proveito a censura intensiva e o controle sobre filmes e imagens, e sobre o rádio. Nenhum Estado deixa a um adversário os novos meios de dominação das massas e formação da opinião pública".
O Estado, diz ainda Schmitt, deve controlar os meios de comunicação: “Os novos meios técnicos pertencem exclusivamente ao Estado e servem para aumentar sua potência”. O ente estatal "não deixa surgir em seu interior forças inimigas. Ele não permite que elas disponham de técnicas para sapar sua potência com slogans como "Estado de direito", "liberalismo" ou um outro nome" (Schmitt em 1932, cf. O. Beaud: Os Últimos Dias de Weimar).
O fascismo da mídia “policial” que incita linchamentos tem a plena autorização do Estado e dos governos, sob a capa da “liberdade de imprensa”. Após duas ditaduras que inocularam o medo na população, os programas televisivos e radiofônicos exercem um mister importante da razão de Estado: apontar o próprio povo como inimigo a ser ferido, distraindo assim a massa dos arcana imperii que se forjam nos palácios. Em vez de se levantar contra os poderosos do Estado, a população aponta os dedos assassinos para si mesma. Tal é o auto-suicídio induzido pela mídia policialesca.
IHU On-Line - Em que aspectos o entrecruzamento de diferentes crises é um dos esteios da situação de intolerância que experimentamos em termos civilizacionais?
Roberto Romano - A inflação é uma fértil sementeira de fascismo. O desemprego, a escassez de alimentos, a exclusão da vida pública, tudo converge para a insatisfação popular que se torna receptiva a todas as demagogias, políticas e religiosas. Note-se que, no mesmo passo em que igrejas cujos proprietários prometem milagres, sobretudo no campo do emprego e do progresso financeiro, elas pregam abertamente a intolerância às demais crenças. No fundo é a mesma lógica do esmigalhamento da concorrência por todos os meios, sobretudo os ilícitos. Do ódio “religioso” ao rancor de classe e político, um passo apenas precisa ser dado. A nova forma “conservadora” que toma conta da política brasileira anuncia muitas dores, o que só não é percebido pelos que não estudam a massas urbanas e modernas. Pregar a extinção de outras crenças e culturas é uma regressão cultural que equivale ao feito pelo nazismo e pelo estalinismo no século XX.
Por Márcia Junges e Ricardo Machado
Notas:
[1] Tucídides (460 a.C–400 a.C.): historiador grego, autor de História da Guerra do Peloponeso, em que ele conta a guerra entre Esparta e Atenas, ocorrida no século V a.C. No dia 29-05-2003, durante a segunda edição do evento Abrindo o Livro, promovido pelo IHU, a obra História da Guerra do Peloponeso foi apresentada pelo Prof. Dr. Anderson Zalewski Vargas, da Pós-Graduação em História da UFRGS. A IHU On-Line entrevistou o historiador a respeito da obra apresentada na 62ª edição, de 02-06-2003. O material está disponível para download no link http://bit.ly/ihuon62. (Nota da IHU On-Line)
[2] Túlio Cícero (106 a.C.-43 a.C.): filósofo, orador, escritor, advogado e político romano. (Nota da IHU On-Line)
[3] Sêneca (4 a.C.–65 d.C.): estadista, escritor e filósofo estoico romano. De suas obras, restam 12 ensaios filosóficos, 124 cartas, um ensaio meteorológico, uma sátira e nove tragédias. (Nota da IHU On-Line)
[4] Martinho Lutero (1483-1546): teólogo alemão, considerado o pai espiritual da Reforma Protestante. Foi o autor da primeira tradução da Bíblia para o alemão. Além da qualidade da tradução, foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutemberg em 1453. Sobre Lutero, confira a edição 280 da IHU On-Line, de 03-11-2008, intitulada Reformador da Teologia, da igreja e criador da língua alemã. O material está disponível para download em http://bit.ly/ihuon280. (Nota da IHU On-Line)
[5] Sistema Westfaliano: criado a partir de uma série de tratados resultantes de guerras envolvendo Espanha, Holanda, França, Inglaterra, Alemanha e Suécia, tendo a dinastia dos Habsburgo como centro, o qual serviu de referência para guiar as relações internacionais europeias, sobretudo durante o período compreendido entre 1648 e 1789. (Nota da IHU On-Line)
[6] Cf. Laurie Catteuw: Censures et raisons d’État (Paris, Albin Michel, 2013). (Nota do entrevistado)
[7] Alexis Carlis Clerel de Tocqueville (1805-1859): pensador político e historiador francês, autor do clássico A democracia na América (São Paulo: Martins Fontes, 1998-2000). (Nota da IHU On-Line)
[8] Cf. Jean-Louis Benoît: Tocqueville, un destine paradoxal (Paris: Perrin, 2013). O livro traz importantes dados sobre a política norte-americana oficial de extermínio dos povos indígenas. (Nota do entrevistado)
[09] Cf. O paraíso destruído: a sangrenta história da conquista da América Espanhola. (Porto Alegre. L&PM Ed., 2011). (Nota do entrevistado)
[10] Cf. Eunícia B. Fernandes, “A complexa relação entre jesuítas, indígenas e africanos ressignificada pela historiografia contemporânea”, Entrevista ao IHU/On line, 458,Ano XIV, 10/11/2014. (Nota do entrevistado)
[11] Cf. Lestringant, Frank: L’Huguenot et le sauvage. L ‘Amerique et la controverse coloniale en France, au temps des guerres de réligion (Paris, Klinksieck, 1990). (Nota do entrevistado)
[12] Cf. Kinzer, Stephen: All the Sha’s Men, an american coup and the roots of Middle East Terror (John Wiley & Sons Ed., 2003). (Nota da IHU On-Line)
[13] Cf. Chomsky, Noam: “Humanitarian Imperialism: The new doctrine of Imperial Right” (Monthly Review, setembro de 2008). (Nota do entrevistado)
[14] Massacre da noite de São Bartolomeu ou Noite de São Bartolomeu: foi um episódio sangrento na repressão aos protestantes na França pelos reis franceses, que eram católicos. Esses assassinatos aconteceram em 23 e 24 de agosto de 1572, em Paris, no dia de São Bartolomeu. (Nota da IHU On-Line)
[15] Cf. Gerson Leite de Moares, Entre a Bíblia e a Espada, uma análise da filosofia e da teologia política em João Calvino (São Paulo, Mackenzie Ed. 2014). (Nota do entrevistado)
[16] John Locke (1632-1704): filósofo inglês, predecessor do Iluminismo, que tinha como noção de governo o consentimento dos governados diante da autoridade constituída, e o respeito ao direito natural do homem, de vida, liberdade e propriedade. Com David Hume e George Berkeley era considerado empirista. (Nota da IHU On-Line)
[17] Denis Diderot (1713-1784): filósofo e escritor francês. A primeira peça importante da sua carreira literária é Lettres sur les aveugles à l’usage de ceux qui voient, em que resume a evolução do seu pensamento desde o deísmo até ao ceticismo e o materialismo ateu, o que o leva à prisão. Mas a obra da sua vida é a edição da Encyclopédie (1750-1772), que leva a cabo com empenho e entusiasmo apesar de alguma oposição da Igreja Católica e dos poderes estabelecidos. (Nota da IHU On-Line)
[18] Cf. Traité des Trois Imposteurs, Classiques des Sciences Sociales, http://bit.ly/1IKgFxI. (Nota do entrevistado)
[19] Cf. Wahnich, Sophie: L’Intelligence politique de la Révolution Française, Documents commentés (Paris, Textuel, 2012). (Nota do entrevistado)
[20] Concílio Vaticano II: convocado no dia 11-11-1962 pelo Papa João XXIII. Ocorreram quatro sessões, uma em cada ano. Seu encerramento deu-se a 08-12-1965, pelo Papa Paulo VI. A revisão proposta por este Concílio estava centrada na visão da Igreja como uma congregação de fé, substituindo a concepção hierárquica do Concílio anterior, que declarara a infalibilidade papal. As transformações que introduziu foram no sentido da democratização dos ritos, como a missa rezada em vernáculo, aproximando a Igreja dos fiéis dos diferentes países. Este Concílio encontrou resistência dos setores conservadores da Igreja, defensores da hierarquia e do dogma estrito, e seus frutos foram, aos poucos, esvaziados, retornando a Igreja à estrutura rígida preconizada pelo Concílio Vaticano I. O Instituto Humanitas Unisinos - IHU produziu a edição 297, Karl Rahner e a ruptura do Vaticano II, de 15-06-2009, disponível em http://bit.ly/o2e8cX, bem como a edição 401, de 03-09-2012, intitulada Concílio Vaticano II. 50 anos depois, disponível em http://bit.ly/REokjn, e a edição 425, de 01-07-2013, intitulada O Concílio Vaticano II como evento dialógico. Um olhar a partir de Mikhail Bakhtin e seu Círculo, disponível em http://bit.ly/1cUUZfC. Em 2015, o IHU promoveu o colóquio O Concílio Vaticano II: 50 anos depois. A Igreja no contexto das transformações tecnocientíficas e socioculturais da contemporaneidade. As repercussões do evento podem ser conferidas na IHU On-Line, edição 466, de 01-06-2015, disponível em http://bit.ly/1IfYpJ2 e também em Notícias do Dia no sítio do IHU. (Nota da IHU On-Line)
[21] Guerra Fria: Nome dado a um período histórico de disputas estratégicas e conflitos entre Estados Unidos e União Soviética, que gerou um clima de tensão que envolveu países de todo o mundo. Estendeu-se entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a queda da União Soviética (1991). (Nota da IHU On-Line)
[22] Papa João Paulo II (1920-2005): Sumo Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana de 16 de outubro de 1978 até a data da sua morte, e sucedeu ao Papa João Paulo I, tornando-se o primeiro Papa não italiano em 450 anos. (Nota da IHU On-Line)
[23] Ronald Reagan (1911-2004): ator norte-americano formado em economia e sociologia. Foi eleito governador da Califórnia em 1966, e se reelegeu em 1970 com uma margem de um milhão de votos. Conquistou a indicação à presidência pelo Partido Republicano em 1980, e os eleitores, incomodados com a inflação e com os americanos mantidos há um ano como reféns no Irã, o conduziram à Casa Branca. Antes de ocupar a presidência, passou 28 anos atuando como ator em 55 filmes que não entraram para a história, mas que lhe deram fama e popularidade. Sua carreira no cinema terminou em 1964, em “The Killers”, único filme em que atuou como vilão. (Nota da IHU On-Line)
[24] Margaret Hilda Thatcher (1925): política britânica, primeira-ministra de 1979 a 1990. (Nota da IHU On-Line)
[25] Augusto Pinochet [Augusto José Ramón Pinochet Ugarte] (1915-2006): General do exército chileno. Foi presidente do Chile entre 1973 e 1990, depois de liderar um golpe militar que derrubou o governo do presidente socialista Salvador Allende. (Nota da IHU On-Line)
[26] Cf. Berstein/ Marco Politi, His Holiness, John Paul II and the history of our Time (Penguin Books, 1996). (Nota da IHU On-Line)
[27] Teologia da Libertação: escola teológica desenvolvida depois do Concílio Vaticano II. Surge na América Latina, a partir da opção pelos pobres, e se espalha por todo o mundo. O teólogo peruano Gustavo Gutiérrez é um dos primeiros que propõe esta teologia. A teologia da libertação tem um impacto decisivo em muitos países do mundo. Sobre o tema confira a edição 214 da IHU On-Line, de 02-04-2007, intitulada Teologia da libertação, disponível para download em http://bit.ly/bsMG96.Leia, também a edição 404, de 05-10-2012, intitulada Congresso Continental de Teologia. Concílio Vaticano II e Teologia da Libertação em debate, disponível em http://bit.ly/SSYVTO. (Nota da IHU On-Line)
[28] Cf. Edir Macedo e Carlos Oliveira, Plano de Poder, Deus, os cristãos e a política (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Ed. 2008). (Nota do entrevistado)
[29] Joseph-Marie de Maistre (1753-1821): foi um escritor, filósofo, diplomata e advogado. Foi um dos proponentes mais influentes do pensamento contrarrevolucionário ultramontanista no período imediatamente seguinte à Revolução Francesa de 1789. Era a favor da restauração da monarquia hereditária, que ele via como uma instituição de inspiração divina. Argumentava também a favor da suprema autoridade do Papa, quer em matérias religiosas como também em matérias políticas. (Nota da IHU On-Line)
[30] Friedrich August von Hayek (1899-1992): foi um economista da escola austríaca. Hayek fez contribuições importantes para a psicologia, a teoria do direito, a economia e a política. Recebeu o prêmio Nobel de Economia em 1974. Em psicologia, Hayek propôs uma teoria da mente humana segundo a qual a mente é um sistema adaptativo. Em economia, Hayek defendeu os méritos da ordem espontânea. Segundo Hayek, uma economia é um sistema demasiado complexo para ser planejado e deve evoluir espontaneamente. Hayek estudou na Universidade de Viena, onde recebeu o grau de doutor em Direito e em Ciências Políticas. (Nota da IHU On-Line)
[31] Elias Canetti (1905-1994): romancista e ensaísta búlgaro. Vencedor do prêmio Nobel de Literatura (1981). (Nota da IHU On-Line)
[32] Gabriel Naudé (1600-1653): foi um bibliotecário francês. Naudé é célebre por ter redigido o Advis pour dresser une bibliotèque, que é o primeiro manual de biblioteconomia francês e mundial. Nesta obra ele propôs uma série de inovações nas bibliotecas que teriam uma grande repercussão posterior. (Nota da IHU On-Line)
[33] Josef Mengele (1911-1979): foi um médico alemão que se tornou conhecido por ter atuado durante o regime nazista. O apelido de Mengele era Beppo, mas ele era conhecido como Todesengel, "O Anjo da Morte", no campo de concentração. Mengele foi oficial médico chefe da principal enfermaria do campo de Birkenau, que era parte do complexo Auschwitz-Birkenau. (Nota da IHU On-Line)
[34] Cf. J. Lecler, S.J.: Histoire de la Tolérance au siècle de la Réforme, Paris, Aubier/Montaigne, 1952; e também Eckstein, H-J.: Der Begriff Syneidesis bei Paulus, Tübingen, J.C. Mohr, 1983. (Nota do entrevistado)
[35] Jean Jacques Rousseau (1712-1778): filósofo franco-suíço, escritor, teórico político e compositor musical autodidata. Uma das figuras marcantes do Iluminismo francês, Rousseau é também um precursor do romantismo. As ideias iluministas de Rousseau, Montesquieu e Diderot, que defendiam a igualdade de todos perante a lei, a tolerância religiosa e a livre expressão do pensamento, influenciaram a Revolução Francesa. Contra a sociedade de ordens e de privilégios do Antigo Regime, os iluministas sugeriam um governo monárquico ou republicano, constitucional e parlamentar. Sobre esse pensador, confira a edição 415 da IHU On-Line, de 22-04-2013, intitulada Somos condenados a viver em sociedade? As contribuições de Rousseau à modernidade política, disponível em http://bit.ly/ihuon415. (Nota da IHU On-Line)
[36] Franz Stangl (1908-1971): foi um Schutzstaffel SS (primeiro-tenente) e comandante dos campos de extermínio de Treblinka e Sobibór. (Nota da IHU On-Line)
[37] Carl Schmitt (1888-1985): jurista, filósofo político e professor universitário alemão. É considerado um dos mais significativos (porém também um dos mais controversos) especialistas em direito constitucional e internacional da Alemanha do século XX. A sua carreira foi maculada pela sua proximidade com o regime nacional-socialista. Entre outros, é autor de Teologia política (Politische Theologie), tradução de Elisete Antoniuk, Belo Horizonte: Ed. Del Rey, 2006 e "O Leviatã na Teoria do Estado de Thomas Hobbes". Trad. Cristiana Filizola e João C. Galvão Junior. In GALVÃO JR. J.C. "Leviathan cibernetico" Rio de Janeiro: NPL, 2008. (Nota da IHU On-Line)
[38] Cf. Mémoires de nos troubles sur l´Édit de janvier 1562. (Nota do entrevistado)
[39] Barack Obama [Barack Hussein Obama II] (1961): advogado e político estadunidense. É o 44º presidente dos Estados Unidos, desde 2009. Sua candidatura foi formalizada pela Convenção do Partido Democrata, em 2008. (Nota da IHU On-Line)
[40] Álvaro Colom Caballeros (1951): é um engenheiro industrial, empresário e político guatemalteco. Foi eleito em 6 de novembro de 2007 como presidente de seu país, tomando posse em 14 de janeiro de 2008, com mandato até 2012, quando foi sucedido pelo general na reserva Otto Pérez Molina. (Nota da IHU On-Line)
[41] Cf. Moreno, Jonathan, Undue Risk, Secret State Experiments on Humans (London, Routledge, 2001). (Nota do entrevistado)
[42] Platão (427-347 a.C.): filósofo ateniense. Criador de sistemas filosóficos influentes até hoje, como a Teoria das Ideias e a Dialética. Discípulo de Sócrates, Platão foi mestre de Aristóteles. Entre suas obras, destacam-se A República (São Paulo: Editora Edipro, 2012) e Fédon (São Paulo: Martin Claret, 2002). Sobre Platão, confira e entrevista As implicações éticas da cosmologia de Platão, concedida pelo filósofo Marcelo Perine à edição 194 da revista IHU On-Line, de 04-09-2006,disponível em http://bit.ly/pteX8f. Leia, também, a edição 294 da revista IHU On-Line, de 25-05-2009, intitulada Platão. A totalidade em movimento, disponível em http://bit.ly/xdSEVn. (Nota da IHU On-Line)
[43] Santo Agostinho (Aurélio Agostinho, 354-430): bispo, escritor, teólogo, filósofo, foi uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente. Ele foi influenciado pelo neoplatonismo de Plotino e criou os conceitos de pecado original e guerra justa. Confira a entrevista concedida por Luiz Astorga à edição 421 da IHU On-Line, de 04-06-2013, intitulada A disputatio de Santo Tomás de Aquino: uma síntese dupla, disponível em http://bit.ly/ihuon421. (Nota da IHU On-Line)
[44] Sócrates (470 a.C.–399 a.C.): filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das ideias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas. O julgamento e a execução de Sócrates são eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). (Nota da IHU On-Line)
[45] Stanley Kubrick (1928-1999): um dos cineastas mais importantes do século XX, responsável por uma carreira notável, regular e bem-estruturada que gozou de uma excelente recepção crítica. De seus filmes, destacamos 2001: uma odisseia no espaço, Laranja mecânica e O Iluminado. (Nota da IHU On-Line)
[46] Cf. Roberto Romano, “O princípio responsabilidade” in José Roberto Nalini (Ed.): Magistratura e Ética (São Paulo, Contexto Ed., 2013). (Nota da IHU On-Line)
[47] Cf. http://bit.ly/1KjzO7B. (Nota do Entrevistado)
[48] Cf. http://bit.ly/1HIRVBM. (Nota do entrevistado)
[49] Baruch Spinoza (ou Espinosa, 1632–1677): filósofo holandês. Sua filosofia é considerada uma resposta ao dualismo da filosofia de Descartes. Foi considerado um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da Filosofia Moderna e o fundador do criticismo bíblico moderno. Confira a edição 397 da IHU On-Line, de 06-08-2012, intitulada Baruch Spinoza. Um convite à alegria do pensamento, disponível em http://bit.ly/ihuon397. (Nota da IHU On-Line)
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Medo, o triunfo da intolerância. Entrevista especial com Roberto Romano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU