19 Março 2024
O artigo é de José Moreno Losada, publicado por Religión Digital, 18-03-2024.
19 de março. Dia de São José
É possível sonhar hoje? A realidade é evidente, a situação do mundo é constrangedora. Há quem pense que são sinais de parto, diante da nova criação que se aproxima e há quem sonhe e saiba que a salvação está próxima, mesmo estando rodeados de grandes nuvens. Outros veem isso como destruição e um fim exaustivo, como sinais de morte estabelecida e abençoada pela última pandemia. Existe a tensão, entre a realidade e o sonho, o real e o verdadeiro, o desejado e o sonhado. Deus se manifesta e se revela nos sonhos, o sonho é lugar de encontro e de salvação.
Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: "José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados". Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.
Palavra do Senhor.
Recentemente celebramos seu casamento sacramental em Badajoz. Alberto e Cláudia viram realizado o desejo de celebrar o seu amor diante do altar e fazer uma leitura crente da sua vida e do seu encontro. Ele, natural de Badajoz, e ela paraguaia, de lugares e famílias muito diferentes, uma com vida europeia e seus estudos correspondentes, com currículo já avançado como médico contratado na universidade. Ela trabalha em projetos de desenvolvimento das Nações Unidas, em contato com a realidade da pobreza, de onde ela vem.
O encontro foi fortuito no campo universal da universidade, ela veio escrever uma tese de doutorado na universidade. Alberto a abordou para acompanhá-la em seu projeto e aí começou um conhecimento mútuo. Novos caminhos e mundos se abriram para ele, não se tratava de buscar mais segurança na vida, nem mais currículo, mas sim de viver verdadeiramente cada vez mais. Cada vez que viajava ao país dela, sentia-se transformado e pacificado.
Claudia deixou claro que queria dedicar o seu conhecimento às realidades de onde provém e deseja transformá-las, juntando-se a projetos que procuram essa justiça e dignidade. Por isso te convida a sonhar, a romper limites e confortos, e a buscar o que realmente pode preencher o seu interior, te fazer mais feliz. Eles veem a proposta de voar para o Colorado e lá trabalhar em pesquisas voltadas mais para o campo da transformação da pobreza e do progresso contra suas causas.
Trata-se de colocar o conhecimento a serviço dos outros, principalmente com o desejo de uma riqueza compartilhada e digna, e não exclusiva ou acumulativa. Agora eles me escrevem de lá onde compartilham sonhos em liberdade. Como o sonho de José e Maria. Alberto me lembra São José. Ele acordou e fez o que o anjo do Senhor lhe ordenou.
Celebrar São José é celebrar a glória do silêncio, a grandeza daquele que acolhe nos sonhos uma salvação que o envolve no escondimento do cotidiano diante de toda notoriedade esforçada.
Sonhar hoje com a família, com a comunidade, é entrar num silêncio, com um desejo de profundidade e de confiança em que se pode fazer tudo e abraçar a sua vontade sem ses nem mas. A paternidade do silêncio torna-se fecunda num acompanhamento que fortalece e torna possível a revelação do amor entregue e gratuito. Há formas de compreender a vida e a realidade que se tornam fecundas no anonimato do quotidiano e do quotidiano.
Viver a presença do Deus da Palavra no maior silêncio faz de São José uma referência para uma sociedade e uma igreja que precisa de profundidade, que deve parar para se descobrir e interpretar a realidade a partir de chaves teológicas que superem nossas coordenadas míopes de segurança e força.
Hoje a simplicidade, o silêncio e a coerência deste simples judeu que acompanhou Jesus tornam-se a chave para uma espiritualidade que favorece a família e a comunidade autêntica, a fraternidade de origem e de destino. O silêncio e a simplicidade devem acompanhar hoje o processo de conversão a uma nova masculinidade que seja humana e que se abra à realidade da verdadeira igualdade entre mulheres e homens, em sintonia com o que é fundamentalmente humano e compassivo. Precisamos de líderes de transformação que experimentem a novidade nas suas próprias vidas, experimentando uma nova forma de sentir e agir, aberta e sem limitações.
Às vezes o sonho chega até nós através das reflexões de homens crentes que estão sonhando com uma nova masculinidade cheia de cuidado. Trago esta reflexão para o fio condutor de um livro, Homens de cuidado (editora San Pablo), de um amigo muito próximo, um homem que busca a verdade em sua própria experiência de vida e que está disposto a compartilhá-la e contá-la, sem esconder as suas fraquezas, os seus limites, as suas dúvidas, ao mesmo tempo que comunica a alegria de uma nova forma de ser que está ao alcance de quem está disposto a deixar-se fazer desde o mais profundo e real da sua própria vida, quebrando estereótipos e preconceitos da masculinidade que nos marcou e determinou, limitando o próprio evangelho do humano. Imagino São José, como ele, rompendo esquemas e abrindo-se a uma nova forma de viver o casamento e de construir a família, abrindo a humanidade ao novo horizonte de um reino sem fronteiras, sem exclusões, divisões ou desigualdades inventadas pelas culturas naturais, mas fabricados e que precisam ser revistos hoje de uma nova maneira. Trago à tona esta reflexão crente do meu amigo:
“E que novo tipo de homem surge à medida que este processo avança? Poderíamos dizer que surge uma pessoa que, diante do momento de encruzilhada que vivemos como civilização, opta, a partir de sua liberdade, passar por velhas resistências e preconceitos e vivenciar uma mudança abrangente que a torne mais autêntica e humana. Sua vocação é viver em harmonia com tudo o que o cerca e, por isso, renova sua visão da realidade. São muitos os benefícios deste estilo alternativo que você está convidado a percorrer e que esconde o germe que tornará possível, por sua vez, a mudança desta sociedade individualista, competitiva e consumista. Se tivéssemos que proclamar os seus benefícios, poderíamos anunciá-lo assim: “o novo homem está aqui, mas com o “sabor” dos cuidados habituais”.
Acredito que esta história é de especial singularidade, que vale a pena ser contrastada com todas as nossas vidas como homens na sociedade atual, para nos redescobrirmos, nos reconhecermos e, acima de tudo, nos abrirmos ao novo, para sermos mais profundos e verdadeiros do que pensávamos. Nós realmente somos. Os apelos de hoje, que, como o de José de Nazaré, nos convidam a sonhar e a sonhar-nos de uma forma nova, mais humana e mais divina.
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São José e a nova masculinidade sonhada. Artigo de José Moreno Losada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU