15 Agosto 2023
"É demais pedir menos armas e mais educação? Menos balas e mais livros? Menos cacetadas e mais esporte? Menos algemas e mais violão?", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Eloá brincava em casa, na Ilha do Governador, no Rio, quando foi atingida por bala perdida, no sábado, 12. Para Eloá, 5 anos, foi uma “bala achada” que acabou com fantasias, desejos, carinhos, caminhada de quem tinha o futuro pela frente. Para pais, familiares, colegas e amigas ficam a tristeza e a incompreensão: por quê?
Eloá é a quinta criança morta nos oito meses de 2023 por bala perdida no Rio de Janeiro. Em dois anos, foram 15 crianças por lá. Mas o Estado mais turístico do Brasil não tem a polícia que mais mata no país. Pasmem, a polícia mais letal é a baiana, Estado governado pelo Partido dos Trabalhadores há 16 anos.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registradas 1.464 mortes de pessoas em intervenções policiais na Bahia, o que representa 22,7% de todas as mortes dessa espécie ocorridas no Brasil em 2022! O Portal UOL trouxe, num comparativo, os dados do Mapa da Violência Policial dos Estados Unidos, que apontou 1.201 mortes em 2022. No território norte-americano a polícia de todos os 50 Estados mataram menos que a polícia civil e militar baiana!
O governo da Bahia informou que as pessoas mortas eram homicidas, traficantes, estupradores, assaltantes... Então, tá, o governo baiano sob o PT entende que “bandido bom é bandido morto”, é isso? O PT briga pelo desarmamento, o que é fundamental num país onde o ódio mata pelos motivos mais fúteis, mas procura justificar esse dado macabro registrado na Bahia!
Não importa sob qual bandeira a violência policial é praticada. Os casos de sucesso na luta contra o crime se deram menos pelas armas do que pela Inteligência de Segurança Pública. A colombiana Medellín, com 2,6 milhões de habitantes é, no continente sul-americano, o exemplo mais significativo da mudança de cidade sede do cartel do tráfico de Pablo Escobar para um espaço habitável, inclusive nos morros.
Nos anos 90 do século passado, Medellín aparecia entre as cidades mais violentas da América do Sul. Em 2013, foi declarada a cidade mais inovadora do mundo no concurso “City of the Year”, do Wall Street Journal. A cidade investiu em escolas, praças poliesportivas, espaços culturais, no que se denominou de urbanismo social. Perdeu o título de cidade violenta. A bandidagem se retraiu, deixou de ter seguidores.
Nos últimos quatro anos o Brasil passou por um processo inverso: o incentivo ao armamento por civis. Não é uma população armada que vai acabar com o crime. A polícia anda armada, por ordenação estatal, sim, mas ainda age muitas vezes, como no caso recente no Guarujá, São Paulo, na base do “dente por dente”, motivada pela vingança, pela prepotência de quem porta uma arma. E daí sai tiro para tudo que é direção, até mesmo contra escolas ou residências.
É demais pedir menos armas e mais educação? Menos balas e mais livros? Menos cacetadas e mais esporte? Menos algemas e mais violão? E do PT baiano, menos tiros e mais inteligência no agir da sua polícia?
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“Bala achada” acaba com sonhos futuros e instaura a barbárie. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU