10 Julho 2023
É o que aponta um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado nesta quarta-feira (5).
A reportagem é publicada por EcoDebate, 07-07-2023.
O Brasil é mencionado no documento por conta da queda na produção agrícola no início de 2022, das chuvas que mataram 230 pessoas em Petrópolis (RJ) no mesmo período e dos incêndios no estado do Amazonas. Nos últimos 30 anos, as temperaturas aqueceram em média 0,2° Celsius por década – a taxa mais alta já registrada, de acordo com o relatório Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022. O documento destaca um ciclo vicioso de impactos em espiral nos países e nas comunidades locais.
Assim, por exemplo, a seca prolongada levou a uma queda na produção de eletricidade a partir de hidrelétricas em grande parte da América do Sul, provocando um aumento na demanda por combustíveis fósseis em uma região com grande potencial inexplorado de energia renovável. O calor extremo, combinado a solos secos, alimentou períodos de incêndios florestais recordes no auge do verão de 2022, fazendo com que as emissões de dióxido de carbono atingissem os níveis mais altos em 20 anos e, com isso, manteve temperaturas ainda mais altas.
O derretimento das geleiras piorou, ameaçando ecossistemas e a futura segurança hídrica de milhões de pessoas. Houve uma perda quase total da camada de neve no verão de 2022 nas geleiras centrais dos Andes, com geleiras sujas e escuras absorvendo mais radiação solar, o que, por sua vez, acelerou o derretimento. “Muitos eventos extremos foram influenciados por uma duradoura La Niña, mas também foram marcados pela mudança climática induzida pelo homem. O recém-chegado El Niño aumentará o calor e trará mais condições climáticas extremas. Os Alertas Antecipados para Todos serão vitais para proteger vidas e meios de subsistência”, ele disse.
“As áreas de maior prioridade para adaptação e mitigação das mudanças climáticas na região são agricultura e segurança alimentar e energia. O relatório aborda esses tópicos fundamentais, destacando os impactos das secas persistentes na região sobre a produção agrícola e o potencial inexplorado da energia renovável, especialmente os recursos solares e eólicos”, disse o dirigente.
América Latina e Caribe têm uma grande participação no consumo final de modernas energias renováveis, principalmente por causa da energia hidrelétrica. No entanto, há também o potencial de explorar os recursos solares e eólicos da região, que representaram apenas 16% da geração renovável total em 2020. A região desempenha um papel fundamental na produção de alimentos e serviços ecossistêmicos que beneficiam não apenas América Latina e Caribe, mas todo o planeta. Ela também é altamente vulnerável a riscos climáticos porque cerca de três quartos da população vivem em assentamentos urbanos informais e 8% da população está subnutrida.
O relatório foi divulgado durante a Convenção Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada em Havana, Cuba, e antes da Conferência Iberoamericana de Diretores de Serviços Meteorológicos e Hidrológicos. Ele mostra a importância dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais e dos centros climáticos regionais no fornecimento de serviços aprimorados para apoiar adaptação e mitigação do clima.
Este é o terceiro relatório anual desse tipo para a região e fornece aos tomadores de decisão informações regionais e localizadas para subsidiar ações.
Tendência de aquecimento de longo prazo se acelera e o aumento do nível do mar está acima da média global. (Foto: Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2022 | OMM)
América Latina e Caribe são cercados pelos oceanos Pacífico e Atlântico, e o clima é amplamente influenciado por temperaturas predominantes da superfície do mar e fenômenos associados entre atmosfera e oceano em grande escala, como o El Niño-Oscilação Sul.
2022 marcou o terceiro ano consecutivo de condições de La Niña. Isso foi associado a temperaturas do ar mais altas e déficits de precipitação no norte do México, a um período prolongado de condições de seca em grande parte do sudeste da América do Sul e ao aumento das chuvas em partes da América Central e do norte da América do Sul e na região amazônica.
A população da América Latina e do Caribe deve ser mais conscientizada sobre os riscos relacionados ao clima e os sistemas de alerta precoce na região precisam ser fortalecidos e chegar às comunidades mais necessitadas. Apenas 60% das pessoas são cobertas por sistemas de alerta antecipado de múltiplos perigos, de acordo com dados de 2020.
Em 2022, 78 ameaças meteorológicas, hidrológicas e relacionadas ao clima foram relatadas na região, de acordo com o Banco de Dados de Eventos de Emergência do Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres. Desses, 86% foram eventos relacionados a tempestades e inundações, responsáveis por 98% das 1.153 fatalidades documentadas no banco de dados.
Os danos econômicos de US$ 9 bilhões de dólares informados foram causados principalmente por secas (40%) e tempestades (32%). Presume-se que os números reais relacionados aos impactos de eventos extremos sejam piores devido à subnotificação e ao fato de não haver dados disponíveis sobre os impactos em alguns países.
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Mudança climática entra em espiral na América Latina e no Caribe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU