06 Julho 2023
Dom Rolando Álvarez, uma das vozes pastorais mais críticas do regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo na Nicarágua, foi devolvido à prisão La Modelo na quarta-feira, após o fracasso das negociações entre o governo sandinista e um enviado do Vaticano. Segundo fontes diplomáticas e eclesiásticas próximas às conversações, o religioso rejeitou as condições para deixar o país e ser enviado para o exílio em Roma.
A reportagem é de Wilfredo Miranda, publicada por El País, 06-07-2023.
Esta é a segunda tentativa frustrada do casal presidencial de se livrar do bispo, condenado a 26 anos de prisão. Rolando Álvarez já havia recusado o exílio em 9 de março, quando decidiu não embarcar no avião que transportava 222 presos políticos para os Estados Unidos. Como vingança, o padre foi condenado e confinado em uma cela de isolamento na penitenciária La Modelo. Desde então, o Vaticano, a Conferência Episcopal da Nicarágua e outros agentes internacionais (como o presidente brasileiro Lula da Silva) tentam mediar sua libertação.
Sem aviso prévio, nesta terça-feira o bispo foi levado de La Modelo para um local de paradeiro desconhecido, ao mesmo tempo que se negociava sua saída da Nicarágua. No entanto, as fontes próximas à negociação consultadas pelo EL PAÍS concordaram que o prelado manteve sua posição inicial: que não deixará a Nicarágua porque não cometeu nenhum crime. O hierarca católico pediu sua libertação incondicional, como a dos demais padres presos e condenados pelo regime. Além disso, pediu o desbloqueio das contas bancárias das dioceses e paróquias do país e o fim das perseguições religiosas. Mas todas as suas propostas foram rejeitadas pela ditadura.
Na época em que foi devolvido ao La Modelo, soube-se que o Vaticano enviou um representante de seu Ministério das Relações Exteriores para mediar com o regime, mas também para tentar "persuadir" Rolando Álvarez a viajar a Roma. O bispo afirma que só deixaria a Nicarágua se o Papa Francisco expressamente o ordena. No entanto, até agora não foi confirmado se o Pontífice emitiu alguma ordem a esse respeito. No entanto, fontes eclesiais indicam que o papa leva em consideração a posição do bispo sobre o que acontece com ele. “Daniel Ortega julgou mal o bispo, subestimou-o; e Álvarez pediu para ver a sessão plenária dos bispos da Conferência Episcopal”, continua outra fonte eclesial, acrescentando que o Papa Francisco reconhece o peso moral de Álvarez, por isso precisa da aprovação deles para tirá-lo do país.
Por sua vez, o cardeal Leopoldo Brenes, em declarações a alguns meios de comunicação, qualificou a notícia da soltura de D. Rolando Álvarez como "pura especulação" e, como em ocasiões anteriores, voltou a atacar os jornalistas. Um comportamento do cardeal semelhante ao que teve quando a mídia avançou o congelamento das contas bancárias das dioceses e paróquias da Nicarágua. "Ele continua na prisão La Modelo", disse Brenes concisamente.
O bispo de Danlí, em Honduras, dom José Antonio Canales, garantiu na noite de terça-feira em sua conta no Facebook que dom Rolando Álvarez quer ficar livre na Nicarágua. “Dom Rolando Álvarez não quer deixar a Nicarágua. Ele quer ser livre, sem condições, em seu país", postou. Consultado pelo EL PAÍS, Canales disse sobre sua publicação: “responde que conheço pessoalmente dom Rolando Álvarez; já estive com ele tanto em Honduras quanto na Nicarágua, é um homem de temperamento firme e seguro. Ele sabe onde está e não desiste facilmente”. As informações sobre o que está acontecendo com Rolando Álvarez também não chegam a outros bispos da região.
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Nicarágua. O regime de Ortega devolve à prisão D. Rolando Álvarez por sua recusa em aceitar o exílio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU