06 Julho 2023
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 06-07-2023.
No segundo andar da residência Casa Santa Marta quase não há sinais de que o verão europeu já começou. A sala em que trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, a secretária pessoal do Papa, encarregada de gerir as centenas de e-mails durante o verão, continua a receber e enviar mensagens independentemente do termômetro estar acima dos 35º graus lá fora. A poucos metros, o Papa trabalha em sua escrivaninha, responde a um dos e-mails que recebeu impresso e deixa pronto para que a resposta seja enviada em PDF com o texto manuscrito de Jorge Bergoglio.
Depois de várias nomeações fortes nas últimas semanas (como as dos arcebispos de Madri e Buenos Aires e a de Víctor Fernández na Doutrina da Fé), o tempo pontifício se concentra nestas semanas nos detalhes finais dos discursos que fará primeiro em Portugal, no início de agosto, e depois na Mongólia, na primeira semana de setembro.
As pessoas que o conheceram nas últimas horas destacam a força e o bom semblante de um Papa que se sente motivado pelas próximas duas peregrinações, especialmente a do país asiático. Será uma viagem de importância crucial para a aproximação com o Oriente, especialmente com a China.
Um país que, com toda certeza, também será sobrevoado pelo Papa: é que embora a rota aérea mais direta para a Mongólia seja pela Rússia, o bloqueio europeu a Moscou proíbe o avião da ITA, de bandeira italiana, de voar por sua céus.
Diante das viagens, Francisco já prepara cuidadosamente os textos durante a manhã e segue com os encontros particulares à tarde. Em uma dessas reuniões, ele recebeu o ex-presidente americano Bill Clinton no andar térreo de sua residência na quarta-feira.
Aproveita as férias de verão para terminar de curar a ferida da intervenção que sofreu em maio: ajudou muito que esta quinta-feira marque, por exemplo, quatro dias consecutivos sem atividades matinais no Palácio Apostólico. A ideia, dizem no Vaticano, é que este seja o ritmo de trabalho ao longo de julho.
As audiências gerais, suspensas durante todo o mês, serão retomadas em princípio no dia 9 de agosto, uma vez que o Papa prevê partir para Lisboa na manhã de quarta-feira, dia 2. As temperaturas serão marcantes se durante todo esse mês forem realizadas em ambientes fechados, no Sala Paulo VI, ou se houver retorno à Praça São Pedro somente na quarta-feira, 6 de setembro.
Em comunicação com o secretário de Estado, é também analisado o lote de visitas presidenciais que se prevê para setembro-outubro. É a "máquina" comandada por Pietro Parolin que também está de olho em duas eleições que serão realizadas em dois países importantíssimos para a geopolítica bergogliana: de um lado, as eleições gerais espanholas no fim do mês; de outro lado, as primárias argentinas que em meados de agosto decidirão os candidatos às eleições presidenciais de outubro.
Surge uma das questões do verão: vão fazer alguma pergunta ao Papa sobre a quase inexorável pressa do VOX durante a conferência de imprensa aérea no regresso de Lisboa, enquanto o pontífice acaba de sobrevoar Espanha?
As férias de verão vão também “ordenar” o caminho para o Sínodo, do qual a lista dos participantes será conhecida esta semana. Surpresas? Não parece que grandes nomes vão ser dados, para não tirar o protagonismo dos acontecimentos históricos que significam, de um lado, o voto feminino habilitado para esta ocasião e, de outro, o amplo e agenda aberta de assuntos que serão discutidos. Um trabalho, em todo caso, no qual a liderança de Comunicação já está trabalhando, depois de ter recebido boas notícias nas últimas horas para os próximos três anos.
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O Papa, ante um verão cheio de discursos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU