21 Novembro 2022
A festa de 21 de novembro na tradição bizantina: hoje é conduzido ao templo do Senhor o templo que acolhe a Deus.
O comentário é do teólogo e padre Manuel Nin, exarca apostólico e professor do Pontifício Colégio Grego, de Roma e publicado no seu blog, 15-11-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A tradição bizantina e também as demais tradições litúrgicas cristãs celebram o dia 21 de novembro como uma grande festa, a entrada da Mãe de Deus no templo. É uma festa que tem origem em Jerusalém, ligada à dedicação de uma igreja na Cidade Santa.
Entrada da Mãe de Deus no templo. Rallis Kopsidis, séc. XX, catedral greco-católica da Santíssima Trindade, Atenas
Muitos dos aspectos da festa, presentes nos textos litúrgicos, chegam até nós do Protoevangelho de Tiago, um apócrifo que influi consideravelmente em diversas festas litúrgicas no Oriente e no Ocidente. Na liturgia deste dia, encontramos também uma grande quantidade de títulos de origem vetero-testamentária atribuídos à Mãe de Deus: ela é templo, arca, câmara nupcial.
Os tropários da vigília, da pré-festa, dia 20, e da festa propriamente dita, dia 21, têm um caráter fortemente dogmático, isto é, cantam de modo poético aspectos fundamentais da profissão de fé cristã, especialmente a encarnação do Verbo e Filho de Deus no ventre de Maria.
De fato, em um dos tropários da vigília, encontramos todo o mistério da nossa fé descrito em poucas linhas: a encarnação do Verbo, sua kénosis, a assunção da nossa natureza humana por Maria e a redenção/recriação do ser humano caído:
“O Criador de todas as coisas, o Artífice e Soberano, curvando-se com inefável compaixão, somente por seu amor pelos homens, teve piedade daquele que com suas mãos havia formado e a quem via caído, e se comprouve de reerguê-lo, remodelando-o de modo mais divino, com o próprio aniquilamento, porque por natureza é bom e misericordioso. Ele, portanto, toma Maria, virgem e pura, como medianeira do mistério, para dela assumir, segundo seu desígnio, aquilo que é nosso: ela é morada celeste.”
Um segundo tropário da vigília, conectando a tradição do alimento recebido por Maria no templo pela mão de um anjo, apresenta-nos o papel da Mãe de Deus como aquela que gera, que dá ao mundo o verdadeiro alimento, que é o próprio Cristo:
“Alimentada fielmente com pão celestial, ó Virgem, no templo do Senhor, geraste ao mundo o Verbo, pão da vida: como seu templo escolhido e inteiramente imaculado, foste misticamente prometida ao Espírito, desposada por Deus Pai.”
Esse tema do alimento por um anjo é retomado em outros tropários, e é até o próprio Gabriel que é indicado como aquele que leva o alimento a Maria, colocado quase em paralelo consigo mesmo, que levará o anúncio da encarnação:
“... e por um anjo é alimentada aquela que realmente é templo santíssimo do nosso santo Deus... Depois de teu nascimento, ó Soberana, esposa de Deus, chegaste ao templo do Senhor para ser formada no santo de santos, como criatura santificada. Então a ti, a Imaculada, também foi enviado Gabriel, para te levar alimento. Todos os seres celestiais ficaram maravilhados ao ver o Espírito Santo habitando em ti.”
Alguns tropários fazem um jogo entre as próprias palavras ou entre sinônimos, por exemplo templo no templo, porta para a qual se abre a porta do templo:
“Hoje é conduzido ao templo do Senhor o templo que acolhe a Deus, a Mãe de Deus... Hoje o santo dos santos exulta...”
Em alguns tropários, destaca-se o papel de Maria como porta, a partir do texto de Ezequiel 44:
“Atônito, Zacarias assim exclama a ela: Porta do Senhor, abro-te as portas do templo, passeie alegremente nele. A porta gloriosa, inacessível aos pensamentos, uma vez transpostas as portas do templo de Deus, convida-nos agora a nos reunirmos para gozar de suas divinas maravilhas.”
Um dos tropários da Matinas da festa reúne, quase como se fosse um tecido bordado, toda uma longa série de títulos retirados de uma série igualmente longa de textos bíblicos:
“Maravilhosamente, ó pura, a Lei te prefigurou como tenda e urna divina, como arca singular, véu e vara, templo indissolúvel e porta de Deus; e nos ensina assim a aclamar: Ó Virgem pura, verdadeiramente tu te elevaste acima de toda criatura.”
A exegese cristológica e mariológica dos textos bíblicos vetero-testamentários pode ser encontrada ainda em dois outros textos da liturgia da festa:
“Vendo-te profeticamente como aquela que acolheria a Deus, Salomão te chamou com palavras enigmáticas de porta do Rei, fonte viva e selada, ó Mãe de Deus, da qual brotou a água límpida para nós que, com fé, aclamamos: Ó Virgem pura, verdadeiramente foste elevada acima de toda criatura.”
Um último tropário retoma a leitura de três textos tipicamente cristológicos, a saber, Êxodo 16 e 31, Números 17 e Daniel 2:
“Aquela que antigamente a assembleia dos profetas predisse como urna, vara, tábua da Lei e montanha não cortada, Maria, a divina donzela, com fé celebramos: porque hoje ela é introduzida no santo dos santos para ser formada para o Senhor.”
A festa do dia 21 de novembro é uma celebração vivida na alegria da Igreja e de toda a criação: Maria é a porta que olha para o Oriente e que ninguém senão o Senhor, pode cruzar, é a morada de Deus conduzida hoje ao templo que se torna sua morada. Hoje, as portas do templo são abertas àquela que se torna para todos nós a porta da salvação.
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Entrada da Mãe de Deus no templo. Artigo de Manuel Nin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU