A Dormição de Maria

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17 Agosto 2020

"Não é por acaso que a Festa da Dormição era preparada e introduzida pelo Ofício da chamada "Paraclise", ou seja, o pedido da intercessão da Grande Mãe que tudo pode porque tudo é. E assim, no seu sono eterno que não é morte nem sono, mas eterno sonho, Maria de Nazaré sonha consigo mesma, sonha o mundo, sonha conosco, e ao fazê-lo questiona-nos: vocês ainda são capazes de me sonhar?", escreve Raffaele K. Salinari, intelectual, jornalista, médico especialista em Cirurgia de Urgência e Obstetrícia, que trabalhou por vinte anos na África, Ásia e América Latina, como médico responsável por diversos programas de desenvolvimento sócio-sanitários, em artigo publicado por Il Manifesto, 15-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Hoje, primeiro dia 15 de agosto da era Covid 19, feriado que marca o auge do consumismo secularizado e desengajado, talvez valha a pena relembrar o seu significado simbólico, na verdade um motivo de reflexão a respeito da situação de profunda crise que vive o planeta, violado por uma humanidade que parece ter perdido o contato com seu entorno. Poucos se lembram que a Igreja celebra a Assunção ao céu da Mãe de Deus, daquela Nossa Senhora que representa, muito antes e além do culto cristão, a figura imutável da Grande Deusa.

E talvez precisamente por causa dessa ancestralidade arquetípica, irredutível a qualquer dogma sobreposto, que um evento cheio de valores universais foi confinado a uma data tão dessacralizada e dessacralizante como justamente o 15 de agosto. E então, para quem busca não só um refresco físico, mas um alívio existencial mais profundo, vamos relembrar brevemente as modalidades dessa Assunção, pois aqui acontece algo que, em tempos de pandemia e não só, diz respeito a todos nós: se fundem e confundem o Sono e a Morte, ambos retornando à sua unidade originária. Esse é, de fato, o mistério da Koimesis mariana, de sua "Dormição".

Nossa Senhora, já dissemos, outra não é, nem mesmo na representação cristã, senão a última hipóstase da Grande Mãe, da Grande Potnia mediterrânea, da única Deusa totipotente que dominava a religiosidade arcaica antes do advento das divindades ligadas ao patriarcado. É ela quem cria tudo, que é tudo: tudo e todos são então seus filhos e, ao mesmo tempo, suas manifestações. E, portanto, nem mesmo a marcada misoginia eclesiástica foi capaz de sufocar na raiz a poderosa evidência arcaica, a intuição profunda e sagrada de que a Criação é gerada e cuidada por um Ser com as qualidades femininas.

Isso seria o suficiente para nos fazer observar o mundo de uma perspectiva diferente: aquela das coisas que nos dizem respeito. Portanto, Maria não pode morrer e, no final de sua existência terrena, adormece e é elevada ao céu nesse estado peculiar e único, como convém à Mãe de Deus, aquela que o gerou, deu à luz e cuidou dele; não só isso, mas que o ressuscitou, pois sabemos que sem o seu olhar amoroso sobre o corpo morto do seu Filho, sem a carga de ressurreição que emana do seu Rosto intenso e extático, Cristo nunca teria ressuscitado: não teria razão para o fazer.

"Você adormeceu, mas não morreu, seu corpo foi levado para o céu, mas não abandona a raça humana." Não é por acaso que a Festa da Dormição era preparada e introduzida pelo Ofício da chamada "Paraclise", ou seja, o pedido da intercessão da Grande Mãe que tudo pode porque tudo é. E assim, no seu sono eterno que não é morte nem sono, mas eterno sonho, Maria de Nazaré sonha consigo mesma, sonha o mundo, sonha conosco, e ao fazê-lo questiona-nos: vocês ainda são capazes de me sonhar?

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