27 Setembro 2022
Um grupo de peregrinos católicos LGBTQIA+ celebrou uma missa na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México, e o grupo organizador da peregrinação, a Rede Global de Católicos Arco-Íris (GNRC, sigla em inglês), foi publicamente saudado na liturgia.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 27-09-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A missa na famosa igreja do santuário foi realizada em 14 de setembro como parte da IV Assembleia da GNRC, que reuniu católicos LGBTQIA+ e aliados de todo o mundo para uma semana de organização e oração.
No início da missa, os peregrinos da GNRC percorreram o corredor principal da basílica, liderados por uma bandeira de arco-íris, e sentaram-se na frente da igreja, onde receberam uma bênção. O santuário estava quase lotado, e muitos dos outros visitantes do santuário se juntaram à liturgia. Antonio Ortiz Siliceo, que liderou a equipe de organizadores da assembleia, escreveu sobre a missa:
“Levamos em nossas mãos, como San Juan Diego, uma tilma arco-íris, cheia de flores simbólicas que representavam as almas daqueles que, por causa de nossa sexualidade diversa, foram vítimas de marginalização e esquecimento em muitos de nossos espaços de fé... Nossos corações de arco-íris ardiam, podíamos ver, podíamos sentir, bastava olhar ao redor para sentir a presença de Deus naqueles que estavam presentes e participaram de uma celebração tão emocionante. Em nenhum momento sentimos tensão, mas sim amor e aceitação por aqueles de nós que por muito tempo sofreram intolerância e exclusão”.
O padre celebrante foi o jesuíta Gonzalo Rosas, um defensor pioneiro da comunidade LGBTQIA+ no México. Ele fez referência à GNRC várias vezes em sua homilia. Ele ofereceu uma oração para que “o estudo, a oração e a organização” da assembleia levasse à inclusão e a uma Igreja sinodal. Rosas continuou:
“Apresentamos a vocês com humildade e alegria as comunidades que aos poucos vão surgindo em nossos países, porque são verdadeiros espaços de diálogo, escuta, respeito, aceitação e dignidade da pessoa em todo o mundo. Com dor e lágrimas, pedimos-te consolação para todas as vítimas da intolerância, da exclusão e da rejeição cheias de ódio e violência, que tiraram de nós muitos irmãos, irmãs, amigos e parentes; apenas por serem diferentes...”
“Mãe, muito obrigado porque nos sentimos escutados em nossos anseios e desejos mais profundos, porque você remedia e cura as diferentes misérias e dores que nos afligem, para realizar o que seu olhar misericordioso e compassivo pretende. Partimos cheios de consolo e alegria para continuar trabalhando para construir um mundo mais justo para todos, um mundo com mais paz e justiça, um mundo com mais inclusão e respeito”.
Além da missa, a assembleia da GNRC incluiu cinco dias de oficinas, conversas, liturgias e refeições juntos que ajudaram a construir pontes entre os participantes, muitos dos quais lideram grupos católicos LGBTQIA+ em seus países de origem. O novo conselho da GNRC também foi eleito, incluindo os presidentes Marianne Duddy-Burke, da DignityUSA, e Christopher Vella, da Drachma LGBTI de Malta. Para mais informações sobre as atividades da assembleia, acesse este link (em inglês).
No final da assembleia, os presidentes em fim de mandato, Christopher Vella e Ruby Almeida, divulgaram sua carta ao superior-geral dos jesuítas, padre Arturo Sosa, para agradecê-lo pelo apoio da congregação religiosa aos padres que exercem o ministério pastoral LGBTQIA+. A carta nomeou especificamente o padre Luís Corrêa Lima, do Brasil, e o padre James Martin, dos Estados Unidos, reconhecendo também que muitas pessoas ligadas aos jesuítas também estão fazendo esse trabalho. A carta também inclui um pedido:
“Que a Companhia de Jesus, em seu discernimento, encontre plena consciência da necessidade de abrir espaços de reflexão teológica e filosófica em suas universidades. É muito importante criar espaços de formação e trabalhar na elaboração de argumentos sólidos para entrar em um diálogo sincero e fraterno na Igreja. Para oferecer esperança de que qualquer católico e qualquer pessoa LGBTQIA+ possam ser igualmente católicos, é essencial estar no debate público ou compartilhar conhecimento. É conveniente fazer um postulado para um arco-íris que salva vidas e acaricia tantos corações necessitados de respeito, compaixão e sensibilidade”.
Juntos, os eventos da semana foram emocionantes para os participantes. Em depoimentos sobre a assembleia publicados pela GNRC, muitos participantes destacaram o impacto positivo que a celebração da missa na basílica teve, visto que foram reconhecidos como católicos LGBTQIA+. Ana Ruiz, do México, chamou a missa de “momento inesquecível”, enquanto Ines Pujol, da Costa Rica, comentou: “lá com a Guadalupana todos nós podemos nos reconhecer como seus filhos diversos, cheios de dignidade e amor a Deus”.
De forma mais geral, Lula Ramires, do Brasil, declarou sobre a assembleia:
“É sempre uma experiência forte e avassaladora (re)conhecer representantes de grupos católicos LGBTQIA+ de diferentes países. Temos certeza de que não estamos sozinhos nessa jornada e que aos poucos nossa luta, nossos anseios vão avançando. Cultivar a espiritualidade seguindo os passos de Jesus Cristo, sustentado pelos tesouros da tradição católica, nos fortalece e nos impulsiona a construir o Reino de Deus a partir da própria Igreja”.
Posso atestar pessoalmente a notável energia e espírito dos meus companheiros peregrinos e participantes, tendo assistido à assembleia em nome do New Ways Ministry, juntamente com meu colega Dwayne Fernandes. Foi um momento poderoso para rezar como fiéis católicos LGBTQIA+ em um dos corações da devoção católica, particularmente para os crentes latino-americanos. Certamente, houve histórias de dor e momentos difíceis no decorrer dos acontecimentos da semana. Mas, mais ainda, a “alegria do Evangelho” sobre a qual o Papa Francisco tanto exorta os fiéis foi verdadeiramente encarnada em nosso centro de retiros na Cidade do México. Para repetir as palavras de Antonio, “nossos corações de arco-íris ardiam” pois certamente sabíamos que a presença de Deus estava em nosso meio.
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Peregrinos católicos LGBTQIA+ são saudados durante missa na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU