08 Setembro 2022
Com dois milhões de seguidores, o padre Paulo Ricardo convocou fiéis para uma novena pela “natividade do Brasil”.
A reportagem é de Vinícius Valfré, publicada por O Estado de S. Paulo, 06-09-2022.
A estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) para atrair público nos atos deste 7 de Setembro ganhou o reforço de padres e grupos ultraconservadores da Igreja Católica. Às vésperas do feriado, o candidato à reeleição e os religiosos atuaram de forma quase sincronizada. Nos sermões alinhados aos discursos de Bolsonaro, os sacerdotes chegaram a explorar notícias sobre a situação dos cristãos na Nicarágua para sugerir risco de fechamento dos templos na eventual vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
No início da tarde desta terça-feira, 6, Bolsonaro participou de missa na Paróquia São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, frequentada por militares, na Asa Norte, em Brasília. Foi recebido pelos fiéis aos gritos de “mito” e abençoado pelo padre Jean Marcos. “O presidente tem uma missão maior para cumprir”, afirmou o religioso. Por sua vez, Bolsonaro disse que pedia a Deus para o “povo” não experimentar as “dores” do comunismo.
Sermões alinhados ao discurso de Bolsonaro predominaram nas redes de apoio ao presidente. Com dois milhões de seguidores na internet, o padre Paulo Ricardo, do Mato Grosso, convocou fiéis para uma novena pela “natividade do Brasil”. “As pessoas perdem suas liberdades numa concentração de poder, porque este pessoal que concentra poder está prometendo ‘um futuro melhor, liberté, égalité, fraternité’”, disse em vídeo.
Apoiadores de Bolsonaro usaram a declaração de Paulo Ricardo em vídeos com imagens de manifestações de rua e trechos do Hino da Independência. Referência no catolicismo ultraconservador, Paulo Ricardo foi professor no seminário de Allan dos Santos, blogueiro que tem mandado de prisão em aberto por ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e vive foragido nos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, as referências ao padre se intensificaram nas redes de Bolsonaro com a notícia falsa de que o religioso tinha sido censurado pelo STF. Na verdade, a Corte determinou, em março, que grandes canais de Telegram sejam monitorados pela plataforma para combater a desinformação. A decisão abrangeu o canal do padre. O episódio foi usado, sem contexto, pelo perfil oficial do Gettr Brasil, uma rede social.
Um dos temas que o padre aborda é a Nicarágua, onde religiosos estão sendo alvo do governo de Daniel Ortega. “A perseguição à Igreja na Nicarágua acendeu um alerta em muitos católicos no Brasil”, disse o religioso nas suas redes. Militantes do presidente Jair Bolsonaro usam a situação do país da América Central para dizer que Lula poderia fazer o mesmo, caso seja eleito. A Justiça Eleitoral mandou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) apagar publicações que faziam a associação.
A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.
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Padres ultraconservadores reforçam mobilização de Bolsonaro para ato de 7 de Setembro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU