26 Agosto 2022
O Patriarca de Moscou, Kirill e o Papa Francisco não só não se reunirão em setembro no Cazaquistão, no encontro periódico governativo que reúne vários líderes religiosos mundiais, mas também não há um futuro encontro no horizonte a ser planejado em outra data e outro local. Em junho foi cancelado o encontro em Jerusalém e agora é a vez daquele cazaque.
Para o Patriarcado russo, o momento não é propício, a guerra na Ucrânia desarticulou a estreita trilha ecumênica que havia sido traçada em Cuba em 2016 e o 'irmão' Kirill, segundo o que aprendemos de fontes diplomáticas, nunca engoliu as críticas formuladas por Bergoglio de ser um "coroinha de Estado".
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 25-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Naturalmente, no contexto dessas posições, outros fatores se movem em paralelo, em primeiro lugar a firme oposição de Kirill - um grande defensor da "guerra justa" de Putin contra o Ocidente corrupto - ao grande sonho do Papa Bergoglio de realizar, como ele gostaria, uma viagem a Moscou. Ele seria o primeiro Pontífice a poder coroar esse projeto que por força das circunstâncias está destinado a permanecer congelado ainda por muito tempo, pelo menos até que o conflito russo-ucraniano seja resolvido. E no momento, mesmo observando a tendência das relações ecumênicas na triangulação Roma, Kiev e Moscou, parecem estar se perfilando tempos bastante longos e difíceis.
Nada de negociações de paz, como Francisco continua a pregar esperançosamente, lançando apelos cíclicos para a moderação e sobre sua disposição de agir como facilitador. Em uma entrevista recente, ele disse que estava pronto para voar para Moscou, pediu ao cardeal Parolin, após vinte dias de guerra, que enviasse a Putin a mensagem de que estaria disposto a viajar, mas nunca uma resposta positiva veio do líder do Kremlin.
É improvável que o sonho de ir a Moscou possa acontecer contra o 'niet' do inflexível Kirill. O papa até colocou em segundo plano a sua viagem a Kiev, como os ucranianos imploravam. No entanto, ele enviou seu ministro das Relações Exteriores, Gallagher e o cardeal polonês Kraiewski a Lviv e aos locais dos massacres com ajuda substancial para a população e depois também o cardeal Czerny, que se concentrou nas zonas de fronteira onde os refugiados estão aglomerados.
O presidente ucraniano Zelensky insistiu repetidamente com o Papa Francisco, chamando-o, pedindo-lhe que mudasse de ideia e preparasse para uma visita simbólica aos lugares do martírio ucraniano, no teatro de horrores de Bucha, mas até agora nada feito. Inclusive no último telefonema, Bergoglio teria pedido tempo, explicando a Zelensky que estava sendo submetido à vontade dos médicos que evidentemente não estão tão inclinados a que o Papa faça esforços com aquele joelho machucado.
Francisco naturalmente denunciou os horrores da guerra na Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, tentou manter uma porta aberta ao diálogo com Moscou, evitando condenar a Rússia e o presidente Vladimir Putin ao falar publicamente. A sua abordagem desbalanceada entre agressor e agredido acabou por irritar Kiev, que voltou a queixar-se esta semana depois de o Papa, durante a audiência, há dois dias, ter dirigido um pensamento misericordioso, quase uma oração, à memória de Darya Dugina, jornalista nacionalista russa e filha do teórico político russo de direita Alexander Dugin, ambos partidários ferrenhos de uma guerra sacrossanta. Francisco incluiu Dugina como uma pobre jovem morta por um carro-bomba entre os "inocentes" que foram vítimas da "loucura da guerra".
A reação do embaixador ucraniano junto à Santa Sé, Andrii Yurash, foi imediata, afirmando que as palavras de Francisco foram "decepcionantes" porque de fato equiparam "agressor e vítima, estuprador e estuprado". Em um tuite na quarta-feira, ele perguntou como pode ser possível para Francisco citar uma "ideóloga do imperialismo como uma vítima inocente". As palavras do Papa Francisco sobre Dugina provocaram outras reações em cadeia não apenas na Ucrânia, mas também na Polônia, onde não faltaram duras críticas no principal jornal Gazeta Wyborcza.
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Patriarca Kirill desiste e não quer encontrar o Papa Francisco no Cazaquistão, irritado por ter sido chamado de “coroinha de Estado” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU