25 Agosto 2022
Em 26 de agosto de 2022, a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos do Vaticano realizará uma coletiva de imprensa sobre como será a próxima etapa do Sínodo sobre a Sinodalidade. Essa transição encerra o período de escuta local, cujos resultados foram relatados pelas conferências nacionais dos bispos.
Aqui apresentamos a síntese dos bispos irlandeses, que continha um dos apelos mais fortes para a inclusão LGBTQIA+ de qualquer grupo de bispos.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 24-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Na Irlanda, o relatório sobre eventos sinodais e divulgação incluiu uma seção específica sobre questões LGBTQIA+, um dos 15 temas. Outro tema focou a sexualidade e os relacionamentos em geral. O relatório afirmava sem rodeios que, para muitos participantes, “a Igreja não tem credibilidade na sociedade moderna enquanto existir discriminação de gênero ou sexualidade”. O relatório reconheceu:
“Houve um apelo claro e avassalador para a inclusão total de pessoas LGBTQI+ na Igreja, expresso por todas as idades e particularmente pelos jovens e pelos próprios membros da comunidade LGBTQI+”.
O relatório identificou três aspectos particulares do que a inclusão significaria: o uso de uma linguagem mais compassiva, um desenvolvimento do ensino da Igreja e um pedido de desculpas. Sobre a primeira dessas questões, o relatório afirmou:
“Esta inclusão envolveria, em primeira instância, uma linguagem menos crítica no ensino da Igreja, seguindo a abordagem compassiva do Papa Francisco, que tem sido transformadora e é apreciada, novamente, pelos jovens em particular”.
Mudanças no ensino da Igreja relacionadas à sexualidade e gênero foram incluídas em duas seções. De acordo com o relatório:
“Alguns pediram uma mudança no ensino da Igreja, perguntando se a Igreja está suficientemente atenta aos desenvolvimentos em relação à sexualidade humana e à realidade vivida dos casais LGBTQI+. Outros expressaram a preocupação de que uma mudança no ensino da Igreja estaria simplesmente em conformidade com os padrões seculares e a cultura contemporânea. Da mesma forma, foi solicitado que não tratássemos a comunidade LGBTQI+ isoladamente de outros grupos marginalizados...”
Continua:
“Houve pedidos de reavaliação do ensino da Igreja e uma revisão de sua compreensão da sexualidade humana à luz de pesquisas científicas e sociológicas recentes, juntamente com o reconhecimento das realidades vividas por LGBTQI+ e outros casais”.
Por fim, o pedido específico de um grupo LGBTQIA+ para um pedido de desculpas por parte da Igreja foi destacado nesta síntese nacional, que explica:
“Esta submissão sugere que, embora a Igreja raramente condene os gays hoje em dia, indiretamente cria uma atmosfera onde o abuso físico, psicológico e emocional dos gays é tolerado e até encorajado. De fato, a clareza desse grupo focal deu vida às posições um pouco mais provisórias e generalizadas sobre inclusão oferecidas em outros lugares, apontando para o valor de ouvir diretamente as vozes dos excluídos ou insatisfeitos”.
Talvez mais notavelmente, não apenas a síntese irlandesa incluiu as vozes pela inclusão LGBTQIA+ que foram ouvidas durante o processo de escuta, mas o movimento em direção a essa inclusão foi incluído como um dos principais passos a serem dados como “o chamado do Espírito Santo”. A síntese conclui:
“Em resposta a isso, apontamos para o fato de que através das várias submissões e sínteses muitas questões emergem consistentemente, incluindo um forte desejo de envolvimento das mulheres na liderança e ministérios – ordenadas e não ordenadas – e, adicionalmente, uma preocupação em torno da abordagem da Igreja para comunidade LGBTQI+ e para a dor vivida por seus membros...”
Por fim:
“Simultaneamente, a Igreja na Irlanda pode explorar maneiras pelas quais o chamado do Espírito Santo, conforme articulado na Fase Diocesana, pode ser avançado. A liderança corresponsável precisa ser incorporada em todos os níveis através dos Conselhos Pastorais Paroquiais, Conselhos Pastorais Diocesanos e outras estruturas que permitem isso. A nível local, precisamos garantir que a voz das mulheres seja verdadeiramente parte integrante da nossa tomada de decisão. Devemos garantir a participação efetiva dos pobres e excluídos e de outros grupos marginalizados. As recomendações do documento Christus Vivit precisam ser atendidas. A pastoral de membros da comunidade LGBTQIA+ deve ser enriquecida”.
Entre os relatórios do sínodo nacional que estão sendo divulgados, a síntese da Irlanda talvez seja a mais forte em seu apelo descarado para que a Igreja acabe com a discriminação eclesial que as pessoas LGBTQIA+ enfrentam. A síntese é clara de que ser inclusivo significa não apenas alcance pastoral, mas uma verdadeira reforma teológica acompanhada por um reconhecimento institucional do mal que está sendo feito.
Mas essa síntese e sua força em questões de gênero e sexualidade não surgem do vazio. Em vez disso, os defensores LGBTQIA+ na Irlanda trabalham há anos para levar a Igreja e a nação historicamente católica adiante. Esta síntese é um testemunho de seus esforços e uma prova de que quando os católicos assumem seu dever de ser corresponsáveis pela Igreja, uma mudança real pode surgir.
Você conhece outros relatórios do sínodo que mencionam questões LGBTQIA+ neles? Envie-nos um e-mail (e cópia do relatório, se você o tiver) para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Para ler o relatório do Sínodo do New Ways Ministry, “Das margens ao centro”, especificamente sobre as experiências de católicos e aliados LGBTQIA+, clique aqui (em inglês).
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Relatório do Sínodo Irlandês: inclusão LGBTQIA+ é “o chamado do Espírito Santo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU