05 Agosto 2022
O acadêmico compartilha o apelo dos cientistas do clima à política: "Fala sobre o meio ambiente de forma vazia e não considera que serão os mais frágeis a sofrer e morrer pelos efeitos do aquecimento global".
Em poucas horas, a petição online alcançou mais de 7.000 assinaturas e o número sobe rapidamente. Sob os nomes dos cientistas Carlo Barbante, Carlo Carraro, Antonio Navarra, Antonello Pasini e Riccardo Valentini e muitos outros expoentes respeitados da pesquisa climática, se somaram os simples cidadãos e as personalidades. Entre os que compartilham as solicitações da carta está o acadêmico e divulgador científico Stefano Mancuso.
A entrevista é de Cristina Nadotti, publicada por Repubblica, 04-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Professor, os cientistas estão levantando a voz porque a política não escuta?
Isso acontece há pelo menos 50 anos, é um fato que acompanha toda a história da luta contra o aquecimento global. O problema é que agora há uma via dupla: a política fala muito sobre isso, mas depois não faz quase nada.
E quando fala a respeito, como o faz aos olhos de um cientista?
De uma forma vazia. O fato incontestável é que devemos reduzir as emissões para conter o aquecimento global. Vamos fazer uma comparação com a pandemia de Covid: a política sabia que tinha que reduzir infecções e mortes e tomava decisões em função dos números diários. Aqui temos mais números que temos que reduzir, como os graus de temperatura e as emissões, mas diante de números em constante aumento, nenhuma medida de contraste é tomada.
No apelo, os cientistas destacam que, embora o problema seja global, na Itália sofreremos maiores consequências da crise climática.
Estão muito certos em reiterar que o nosso país, no centro do Mediterrâneo, é um hotspot em que as consequências do aquecimento global se multiplicam. O problema é realmente global, e a política nacional pode fazer muito para mostrar o caminho a seguir, mas, ao contrário, limita-se a utilizar o tema do meio ambiente de forma vazia, sem explicitar os projetos e as medidas para a mitigação de riscos.
Outro aspecto destacado no apelo diz respeito aos custos sociais decorrentes da crise climática.
Este é um ponto particularmente importante para mim, porque quando as ondas de calor aumentam, como estamos sentindo e veremos cada vez mais, são os pobres, os frágeis e os fracos que mais sofrem e morrem. O dado ainda não é certo, mas ouvi de várias cidades italianas que, como aconteceu no verão quente de 2003, a mortalidade aumentou dramaticamente em julho passado. A questão social e da justiça social relacionada ao aquecimento global é amplamente silenciada por todos os líderes mundiais, o único que fala sobre isso é o Papa Francisco.
É possível que a política seja tão surda a questões tão vitais?
Percebo uma diferença entre a política nacional e aquela local. Entre os prefeitos e os administradores dos municípios o tema é fundamental, porque eles são testemunhas do que já está acontecendo em seus territórios. Eles veem os campos devastados pela seca, a instabilidade hidrogeológica, as geleiras que derretem e estão preocupados, seja qual for o partido político a que pertençam. Em seu âmbito restrito, muitos revisam a mobilidade, pois o transporte é uma das principais fontes de emissões, pedem pareceres aos especialistas para elaborar soluções direcionadas em suas cidades. A política nacional, por outro lado, vê o problema de longe, considera-o irrelevante e, assim, limita-se a citar a palavra meio ambiente de maneira frenética.
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“A política não considera o custo social da crise climática”. Entrevista com Stefano Mancuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU