Morre o padre Diego Fares, companheiro de viagem inseparável de Bergoglio

Foto: Reprodução YouTube

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21 Julho 2022

 

Com o padre Diego Fares, se vai um sorriso inteligente e afetuoso para toda a humanidade. O que lamento é que ele não tenha tido tempo de ir ao Líbano de onde vinha parte de sua família e que ele me disse que visitaria com prazer após a pandemia. A lembrança de Riccardo Cristiano.

 

A reflexão é de Riccardo Cristiano, jornalista italiano, publicada por Formiche, 20-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o texto.

 

Com o padre Diego Fares, escritor de La Civiltà Cattolica, não é apenas a Igreja que perde muito, mas este nosso momento difícil, que de pessoas como ele claramente precisava. Incansável em seu contagiante bom humor e sua abertura ao próximo, padre Diego possibilitou conhecer muito de seu amigo mais próximo, padre Jorge, como dizia que muitos argentinos ainda chamam o Papa Francisco. As curvas e a substância de um pensamento profundo, muito mais do que às vezes possa se dizer, são mais conhecidas no mundo graças a ele, o melhor depositário da história humana e intelectual de Bergoglio da época antes que se tornasse arcebispo de Buenos Aires.

 

Seria preciso um intelectual para apresentar a obra do padre Diego Fares, um crente para retratar a clareza de seu sacerdócio. Eu posso lembrar sua surpreendente humanidade, aquela capacidade natural de viver e espalhar o bom humor, que lhe era própria, inseparável, mesmo nos últimos anos, atormentados pelo mal que cortou sua vida cedo demais. O bom humor, aprendi lendo seus livros, é uma das dez qualidades que padre Jorge recomendava a seus sacerdotes. E pensando em tantos rostos sempre carrancudos, entende-se por que aquela bergogliana é realmente uma revolução; se o termo não tivesse sido abusado para outras histórias eu diria uma verdadeira "revolução cultural".

 

Como tantos jornalistas, menos que muitos outros, também eu pude aproximar-me do seu afeto pelo padre Jorge, pedindo-lhe explicações, e compreender um pouco mais sobre ele graças à sua capacidade de falar sobre ele, de entrar no seu sentido autêntico. Uma lição muito importante para mim foi aquela dos anos de trabalho do Padre Jorge, aqueles que lhe permitiram formar-se na vida, não fora dela, ou separadamente. Assim me convenci que eles, padre Jorge depois Francisco e ele, conhecem o mundo porque conhecem o modo de ser e pensar de quem o vive.

 

Ouvi-lo orientou-me com simplicidade e profundidade à leitura de um pontificado que foi a trilha sonora de sua vida. Só o padre Fares poderia me fazer entender o texto inédito de Francisco, não muito fácil para mim, que ele apresentou e comentou em La Civiltà Cattolica. E o que eu entendi? Que Francisco sempre teve um problema; Voltaire, certamente um grande homem, mas amado por muitos sem conhecê-lo tão bem: aquele texto, sem nunca citar Voltaire, me fez entender que Francisco nunca gostou do lema de Voltaire, "tudo para o povo, nada com o povo". O lema de vida do padre Diego, que conheci e através do qual imaginei o atual pontífice, para mim sempre foi “tudo com o povo”.

 

Escrevo voltando a Roma para ter certeza de poder estar presente na despedida que lhe será tributada, sem acesso fácil ao meu arquivo, mas daquele texto inédito do futuro Papa Francisco, que o padre Fares trouxe à tona, lembro com certeza esta frase sobre os cristãos marxistas: "pensavam que eram os últimos cristãos, foram os últimos marxistas". A essência daquele texto era uma explicação filosófica e, portanto, problemática para mim, de por que a realidade é mais importante que a ideia. Mas o padre Diego Fares experimentou esse afeto pela realidade todos os dias. Caso contrário, ele não poderia ter coordenado por mais de vinte anos o Hogar San José, ou seja, a casa dos invisíveis, que ele me contou ser como uma ponte entre a exclusão dos sem-teto e a possível integração.

 

Portanto, com o padre Diego Fares se vai um sorriso inteligente e afetuoso para toda a humanidade. O que lamento é que ele não tenha tido tempo de ir ao Líbano de onde vinha parte de sua família e que ele me disse que visitaria com prazer após a pandemia. Um Hogar San Jose para os refugiados sírios no devastado Líbano de hoje seria para mim um dever e ele certamente poderia me ajudar a entender o problema de como encontrar a confiança para tentar iniciá-lo. Estou certo disso por causa de uma história que ele me contou e depois escreveu, então sei que posso relatar: quando Bergoglio o ordenou sacerdote, perguntou: "Tem certeza de que sabe o que está fazendo?" Ele respondeu: "não". E Bergoglio replicou: "ainda bem".

 

 

É uma honra ter conhecido um homem como você, caro Diego, e sei que essas honras se tornam mais caras para nós com o tempo. Mas se a amizade é um tesouro em si, sua amizade pelo homem me sacudiu.

 

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