11 Julho 2022
"Temos que escolher entre a resignação que nos faz sentir parte do problema e nos apaga e a cidadania ativa que nos faz sentir parte da solução e dá riqueza de sentido à nossa vida. Não há dúvida de qual direção tomar se quisermos ter uma vida generativa e feliz neste tão momento difícil e desafiador", escreve Leonardo Becchetti, professor de economia política da Universidade de Tor Vergata, em Roma, colunista do jornal Avvenire e cofundador da Next - Nova economia para todos, em artigo publicado por Avvenire, 10-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A partir de agora, nosso principal adversário na transição ecológica não será o negacionismo, mas a resignação. A tragédia da Marmolada com uma crista de gelo que se desprende e provoca tantas vítimas, nos alerta que entramos em uma nova fase do desafio climático.
Os avisos que agora nos chegam quase diariamente do planeta impossibilitam fingir que não estamos entendendo, mas correm o risco de empurrar a opinião pública para o excesso contrário, que nos leva a dizer que não há mais nada a fazer (como evidenciam as inúmeras mensagens do público em transmissões sobre o tema).
Mas não é este o caso. Embora os alarmes lançados pelo mundo da economia civil, da finança ética e do consumo responsável há mais de trinta anos não tenham sido ouvidos até hoje, o futuro ainda está em nossas mãos. Mas temos que mudar de marcha porque se continuarmos assim não haverá saída. Os dados científicos são acachapantes. As medições no gelo do Ártico testemunham a correlação muito estreita entre a temperatura média da Terra e as emissões de gases que alteram o clima nos últimos 800 mil anos. O problema é que as atividades humanas se somaram às flutuações naturais que aumentaram progressivamente a concentração de CO2 na atmosfera nas últimas décadas, com uma tendência que não mostra sinais de diminuir. Se quisermos tentar fazer isso, devemos zerar as emissões líquidas até 2050 e reduzi-las em pelo menos 55% até 2030.
A alternativa é a aceleração dos fenômenos que estamos presenciando.
Um mito que precisa ser desfeito do ponto de vista da ecologia integral e da centralidade da pessoa é que o desafio climático seja uma questão radical chic. Os tempos encurtaram.
Antigamente se falava em danos às gerações futuras. Depois vieram os 'coletes amarelos' que apontaram que seu problema é o 'fim do mês' enquanto os ambientalistas pensavam no 'fim do mundo'. Agora estamos cientes de que os desastres ambientais nos afetam hoje e afetam principalmente os mais fracos que têm menos recursos para se defender. Podemos imaginar os efeitos do aquecimento global sobre a disponibilidade de recursos na África subsaariana e as massas de refugiados que se deslocam para países de clima mais temperado.
Não podemos vencer este desafio esperando Godot (a fusão nuclear, um progresso na captura de CO2, algum mecanismo providencial que nos salvará apesar de nós mesmos) mesmo que esperemos sinceramente que chegue. Nosso dever é nos mover o mais rápido possível na direção certa e praticável desde agora. O que, segundo todos, se chama de eliminação progressiva das fontes de energias que alteram o clima, inclusive, neste momento extremamente caras (a UE estabeleceu 55% como cota objetivo de energia produzida por fontes renováveis até 2030), mobilidade sustentável, edifícios com zero impacto, inovação na indústria, agricultura e pecuária para aumentar progressivamente a circularidade da produção (valor econômico gerado sem emissões que alteram o clima e/ou poeiras finas).
Então, o que estamos esperando para lançar os decretos de implementação para as comunidades energéticas que cidadãos, empresas, dioceses, fundações querem criar em toda a Itália, para apoiar ainda mais o esforço de empreendedores que se tornam autônomos na produção de energia liberando-se do gás (de Putin) e das empresas agrícolas que querem aliar a produção de energia à sua atividade tradicional?
Continuamos a reduzir os tempos para as autorizações, a investir na expansão da rede (smart grid).
As tecnologias dos acúmulos já existentes permitirão superar os problemas de intermitência na produção de energia e o progresso tecnológico nos tornará cada vez menos dependentes de minerais ou matérias-primas específicas (muito pior é depender de países no fornecimento de energia dia a dia do que de materiais necessários, mas substituíveis, para produzir instalações). Dir-se-á de que é preciso o esforço da União Europeia, primeira da classe, se os outros não se mexerem. A resposta é o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) votado por grande maioria pelo
Parlamento Europeu e apoiado há mais de 10 anos por um número sem precedentes de economistas e ganhadores do Prêmio Nobel que concordam com uma mesma iniciativa: todos os produtos de países terceiros que desejam acesso aos mercados europeus devem pagar uma taxa na fronteira que seja proporcional às emissões de CO2 geradas ao longo da cadeia de produção para evitar uma competição desleal com as nossas empresas. Desta forma, a competição internacional deixa de ser uma corrida ao menor custo, mas passa a ser uma competição que leva em conta o desafio climático e a transição ecológica.
Em tudo isso, os nossos estilos de vida são fundamentais e os espaços para melhorar os nossos comportamentos são enormes. Basta pensar nos muitos casos de condicionadores de ar em temperaturas polares que, inclusive, são nocivos para a saúde. Nascemos em uma época em que nos comportávamos como se recursos energéticos e ambientais fossem ilimitados (nossos pais deixaram a água da torneira correr para que esfriasse), mas hoje não é mais assim.
Temos que escolher entre a resignação que nos faz sentir parte do problema e nos apaga e a cidadania ativa que nos faz sentir parte da solução e dá riqueza de sentido à nossa vida. Não há dúvida de qual direção tomar se quisermos ter uma vida generativa e feliz neste tão momento difícil e desafiador.
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Na direção certa. Clima: não ceder à resignação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU