24 Mai 2022
A socióloga Danièle Hervieu-Léger pinta um cenário sombrio do catolicismo na sua França natal, apontando as divisões e a perda de influência institucional da Igreja na sociedade.
O comentário é de Isabelle de Gaulmyn, publicado por La Croix, 21-05-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O catolicismo na França, nação que uma vez orgulhosamente se intitulava como a “filha mais velha da Igreja”, está à beira do colapso total?
Esse é o alarme que a socióloga Danièle Hervieu-Léger faz em seu novo livro “Vers l’implosion? Entretien sur le présent et l’avenir du catholicism” (“Rumo à implosão? Entrevistas sobre o presente e o futuro do catolicismo”, em tradução livre).
Vers l’implosion? Entretien sur le présent et l’avenir du catholicism
Hervieu-Léger, que é reconhecida como a principal socióloga da França sobre o desaparecimento do cristianismo no seu país, traz à luz sobre o fenômeno da exculturação do cristianismo e novas formas de crer, notavelmente através da figura do peregrino convertido.
Seu livro está estruturando como uma longa conversa com outro sociólogo, Jean-Louis Schlegel, que também é amplamente versado em matérias religiosas.
Ela começa sua análise olhando para os eventos recentes, como a polêmica sobre a impossibilidade de celebrar a Eucaristia durante a pandemia de covid-19 e a divulgação do chocante relatório da Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (CIASE).
É, portanto, a imagem implacável de um catolicismo dividido entre dois campos praticamente irreconciliáveis e ameaçado pelo “desmoronamento de um sistema, o colapso do que mantinha seus elementos unidos, que depois se espalham como pedaços”.
Desta situação emerge uma instituição e bispos que são globalmente impotentes para expressar uma forma de unidade e adaptar o catolicismo ao fato de ser minoria.
“Não nos deparamos apenas com a fragmentação ligada à diversidade e subjetividade das trajetórias individuais dos fiéis, mas com a impotência da própria instituição para definir um quadro e um rumo que possa ser compartilhado por todos os fiéis para dar o ideal conteúdo de unidade que a Igreja reivindica”, observa Schlegel.
Mas Hervieu-Léger não acredita que os católicos na França estejam divididos entre direita e esquerda. Em vez disso, ela diz que a divisão é sobre a aceitação ou recusa dessa situação minoritária como uma condição insuperável do cristianismo na França.
Isso inclui um confronto entre uma visão “territorial/imperial, associando a vitalidade da Igreja ao seu domínio (geográfico, cultural e político), e uma visão diaspórica da presença do catolicismo em uma sociedade pós-cristã”.
Os dois autores então refazem a história do catolicismo na França desde o Vaticano II, sob este título lapidar: “Breve história de uma Igreja bloqueada”.
Esta observação pode parecer um pouco limitada. É como se nada tivesse evoluído e nada tivesse sido criado na Igreja da França desde os anos 1970. É como se os próprios autores fossem prisioneiros da lógica clerical que denunciam.
É verdade que, se olharmos para o clero, os bispos e a prática sacramental, o catolicismo pode dar a impressão de uma instituição bloqueada (embora seja necessário matizar isso) e de impotente.
Mas se olharmos para o amplo leque de movimentos, a riqueza e o dinamismo das associações caritativas que souberam valer-se do seu saber para se estabelecerem na paisagem social, se tivermos em conta o peso do ensino católico, um pouco rapidamente descartados por nossos autores, do ensino superior, da imprensa denominacional, da influência de grandes famílias religiosas ou mesmo do florescimento de centros espirituais e de formação em todos os lugares, não podemos ficar com essa impressão de estar parados...
Os bispos não são a única medida do catolicismo, e a realidade é mais diversa, graças em particular aos batalhões de leigos treinados, devotados e comprometidos que carregam o catolicismo hoje e dos quais este livro dificilmente considera.
A fragmentação, de que os autores falam no início, também pode ser um ativo. Hervieu-Léger não nega isso, pois continua a viajar pelo mundo católico com sua experiência.
“É a diversidade, a pluralidade e a fragmentação que estão na ordem do dia. Na Igreja Católica, múltiplas entidades vivem suas vidas”, escreve ela.
“Devemos, portanto, aprender a observar e pensar a Igreja ‘de baixo’ e não mais apenas ‘de cima’, ou seja, a instituição”, acrescenta.
Esta Igreja de baixo tem seus desafios aos bispos e sua legitimidade.
Mas é esta que sem dúvida nos permite vislumbrar o que Hervieu-Léger chama de “Igreja diaspórica”, composta de “lugares altos” (ecológicos, solidários, espirituais...).
Como os mosteiros da Idade Média, é um cristianismo de hospitalidade que está sendo inventado, trazendo uma forma de radicalismo que não é uma fuga do mundo, mas, ao contrário, uma forma de contribuir para orientá-lo diferentemente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Novo livro alerta sobre a implosão da Igreja na França - Instituto Humanitas Unisinos - IHU