08 Abril 2022
"Chegamos a um divisor de águas que não diz respeito apenas ao Caminho Sinodal alemão, mas também ao juízo eclesial sobre o pontificado de Francisco: isto é, o da relevância teológica e da normatividade para a atuação eclesial da história comumente humana."
A opinião é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado em Settimana News, 06-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Primeiro a Conferência Episcopal Polonesa, depois a dos países nórdicos, expressaram profundas reservas em relação ao Caminho Sinodal da Igreja Católica alemã.
A ambas agora respondeu o presidente da Conferência Episcopal, Mons. Bätzing. A carta enviada aos bispos poloneses permaneceu confidencial, enquanto a aos bispos dos países nórdicos foi publicada no site da Conferência Episcopal alemã. A forma das críticas que chegaram da Polônia irritou mais do que os conteúdos: o texto de Mons. Gadecki tornou-se de conhecimento público antes que os bispos alemães, incluindo Mons. Bätzing a quem era endereçado, pudessem visualizá-lo.
Isso poderia explicar por que sua resposta a Gadecki não foi divulgada. É provável, além disso, que no tom da resposta o presidente da Conferência Episcopal alemã tenha sido ainda mais duro do que aquele conciliatório usado com os bispos nórdicos.
Na carta enviada a estes últimos, Bätzing explica as razões pelas quais as suas preocupações e reservas não têm razão de ser - em primeiro lugar porque "não correspondem ao que realmente foi discutido, aos processos reais de consulta e ao que se encontra nos documentos aprovados".
Em segundo lugar, "é claro que o Caminho Sinodal se situa no nível da busca sinodal de um potencial vital na vida e nas ações da Igreja hoje, ao qual o Papa Francisco, como o senhor também afirma, chama toda a Igreja". Neste sentido, tanto para a Assembleia dos sinodais alemães como para os católicos do país fica muito claro o que é possível implementar em nível local e o que envolve toda a Igreja Católica no plano universal. Distinção devidamente respeitada, tanto na mentalidade dos participantes quanto nos textos que foram votados.
A experiência sinodal alemã, que nasce do fato da "Igreja ter fracassado em evitar abusos" dentro dela, ensina, porém, que "simplesmente seguir em frente, como sempre foi feito, nada mais faz do que destruir a Igreja". Precisamente este ponto de partida foi o que na carta de crítica de Mons. Gadecki não havia levado em devida consideração para enquadrar corretamente o sentido do Caminho Sinodal alemão. E sobre isso Bätzing espera uma troca frutífera com os colegas poloneses: "Gostaria de aprender com vocês, como vocês estão gerindo as causas sistêmicas dos milhares de casos de abuso que existem entre nós na Alemanha, entre vocês na Polônia, mas também em todo o resto da Igreja".
Diante da acusação vinda dos bispos nórdicos de uma Igreja alemã que joga fora o depositum fidei, Bätzing lembra que não deve ser entendido de tal forma que "toda prática eclesial, toda regra e forma social da Igreja, que se desenvolveu no curso da história a partir de conjunturas históricas bem definidas, sejam em si imediatamente parte deste depositum imodificável”.
E parece ser precisamente a maneira teológica de ler a história que separa os bispos poloneses e nórdicos da Igreja Católica alemã. Bätzing devolve ao remetente a acusação de ter cedido ao espírito do tempo e de dar às ciências humanas uma posição superior à das Escrituras e da tradição. É claro que nem tudo o que acontece na história é um indício da ação laboriosa de Deus nos assuntos humanos - por isso é necessário um discernimento eclesial fundado teologicamente e competente do ponto de vista histórico. Mas não se pode negar que "a ação e o ser de Deus também se fazem reconhecer nos acontecimentos da história humana" - na esteira da Gaudium et spes.
E aqui chegamos a um divisor de águas que não diz respeito apenas ao Caminho Sinodal alemão, mas também ao juízo eclesial sobre o pontificado de Francisco: isto é, o da relevância teológica e da normatividade para a atuação eclesial da história comumente humana. Sobre esse ponto, segundo Francisco, a Igreja alemã e a Igreja Católica coincidem perfeitamente uma com a outra – e isso não é pouca coisa.
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Bätzing: respostas sobre o Caminho Sinodal alemão. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU