06 Abril 2022
"O Sistema Swift opera em praticamente todos os países membros da Assembleia Geral da ONU, desde que não estejam sancionados. Também atualiza em comutação instantânea com mais de 11000 instituições bancárias. Mas, todo o sistema é controlado, ou sob a pressão direta dos Estados Unidos e seu poderoso aparelho de inteligência e segurança eletrônica", escreve Bruno Beaklini, editor dos canais do Estratégia & Análise, militante socialista libertário de origem árabe-brasileira, doutor e mestre em Ciência Política pela UFRGS, em artigo publicado por Monitor do Oriente Médio, 04-04-2022.
As sanções e a desconexão de países inteiros ou setores estratégicos de nações concorrentes formam uma vantagem estratégica operada pelo Sistema Cinco Olhos (comandado pelos EUA) e seus aliados subalternos da União Europeia. A frágil legalidade assumida através de posições “de facto” da governança da Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift) é praticamente um espelho dos interesses e posições dos governos de turno dos países ocidentais. Como o próprio site oficial da Sociedade admite:
“Decisões diplomáticas tomadas pela União Europeia, em consulta com o Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, levam o SWIFT aos esforços para acabar com esta crise, exigindo que desconectemos bancos selecionados de nossos serviços de mensagens financeiras. Conforme declarado anteriormente, cumpriremos integralmente as leis de sanções aplicáveis. Para esse fim, em conformidade com as instruções legais do Regulamento do Conselho da UE (UE) 2022/345 de 1º de março de 2022, desconectamos sete entidades russas designadas (e suas subsidiárias designadas na Rússia) da rede SWIFT em 12 de março de 2022. Além disso, em conformidade com o Regulamento do Conselho da UE (UE) 2022/398 de 9 de março de 2022, desconectamos três entidades bielorrussas (e suas subsidiárias sediadas na Bielorrússia designadas) em 20 de março de 2022.”
Evidente que todo e qualquer país que anseia por uma posição soberana, altiva e independente no Sistema Internacional precisa praticar comércio em escala mundo, diversificar suas cadeias de valor e buscar posições favorecidas nos fatores de troca. Para tanto, ainda é necessário estar dentro do Swift, mas especificamente conseguir escapar de sanções ou formas de pressão vindas dos EUA em sua luta desesperada para manter sua hegemonia realmente ameaçada. Em artigo de Hazem Ayyad e publicado em português neste portal, o autor nos traz importantes dados que podem fundamentar uma autarquização e interdependência eurasiática, evidentemente sinocêntrica, mas com espaço para o desenvolvimento de países aliados. Os números são realmente impressionantes.
O Sistema Swift opera em praticamente todos os países membros da Assembleia Geral da ONU, desde que não estejam sancionados. Também atualiza em comutação instantânea com mais de 11000 instituições bancárias. Mas, todo o sistema é controlado, ou sob a pressão direta dos Estados Unidos e seu poderoso aparelho de inteligência e segurança eletrônica.
Por consequência, quanto maior o volume de comércio internacional que não passe pelo Swift, a começar pelas relações bilaterais em territórios contíguos, mais debilitado fica o sistema de comunicações interbancárias e mais possibilidades de trocas e garantias podem existir. O ativo mais importante do século XX foi o petróleo e derivados, e já passados vinte e dois anos deste século XXI, continua sendo crucial. Ayyad nos traz elementos importantes para ampliar a desdolarização e o padrão petrodólares, como já foi apontado por nós em artigo anterior.
“Putin aproveitou sua visita a Pequim em 4 de fevereiro para promover um novo acordo de gás com a China, estimado em US$ 117,5 bilhões, para escapar das esperadas sanções da OTAN e da UE no caso de não chegar a um acordo sobre a Ucrânia e as garantias solicitadas pela Rússia na Europa Oriental. O novo acordo de gás se juntou a um acordo anterior para fornecer gás russo à China através do gasoduto Power Siberia, de 8.000 km, vindo do leste da Rússia até o leste da China, que forneceu a Pequim mais de 10 bilhões de metros cúbicos de gás nos últimos três anos, e espera-se que o gasoduto que passa pela Mongólia e pela Rússia se junte a este.”
A Grã-Bretanha – como ponta de lança da subserviência europeia aos desígnios dos EUA - sancionou outra onda de bancos russos, indústrias estratégicas e uma série de membros de sua elite hoje. As sanções contra 59 entidades e indivíduos russos e seis bielorrussos incluíam a empresa estatal de navegação Sovcomflot e a empresa militar privada Wagner Group (com tenebrosas ligações com a extrema direita). Também foi sancionada a Alrosa, a maior produtora de diamantes do mundo, com um valor de mercado estimado em US$ 6,61 bilhões.
Alguns banqueiros e suas respectivas instituições financeiras foram sancionados e tiveram suas reservas congeladas. O Sberbank, maior banco da Rússia e seu CEO, German Gref. O banco da maior empresa do país, o Gazprombank, um dos principais canais de pagamentos de petróleo e gás russos. Também consta da lista o Alfa-Bank é um dos principais credores privados da Rússia, controlado pelo sionista Mikhail Fridman, que foi sancionado pela Grã-Bretanha no início do mês, e seus parceiros. Entre os outros indivíduos punidos estavam o magnata do petróleo e sionista Evgeny Shvidler e o fundador do banco Tinkoff, Oleg Tinkov.
Companhias estratégicas foram atingidas. A gigante do frete marítimo, a Sovcomflot/SCF pode ver complicada sua cobertura de seguro e provavelmente terá um impacto mais amplo na indústria de energia. Seu braço britânico facilita o afretamento de seus navios-tanque de petróleo bruto, transportadores de produtos, navios-tanque químicos e transportadores de gás liquefeito. Trata-se de uma enorme companhia de navegação com 134 embarcações oceânicas, capacidade de carga de mais de 11.8 milhões de toneladas e com 80 navios de classe ártica. As sanções também atingiram a companhia Russian Railways e a indústria de defesa Kronhshtadt, principal produtora de drones russos.
Em todo o país e fora de suas fronteiras, o sistema de pagamentos garante a operação ininterrupta dos cartões MIR, que são emitidos por 158 bancos emissores. Trata-se de uma política de antecipação de cenários. Em 2014, depois da anexação da Crimeia, surge o Sistema Nacional de Cartões de Pagamento (NPCS), o operador de cartões 'MIR'. Foi criado em caso de desconexão de cartões de sistemas de pagamento internacionais. Na economia doméstica russa, organizações de orçamento começaram a abandonar gradualmente os pagamentos com cartões Visa e Mastercard. Pensões, benefícios sociais e salários para funcionários de organizações orçamentárias começaram a ser transferidos para o sistema de pagamento ‘MIR’. De acordo com o NPCS, no verão de 2021, mais de 50% dos russos tinham pelo menos um cartão 'MIR'. Ao final do terceiro trimestre de 2021, representava 25,2% de todos os pagamentos no país, com um total de 112 milhões de cartões emitidos. Um sistema de crédito internacional com bandeira dupla, assim como as grandes operadoras (a exemplo de VISA e Mastercard) opera em consórcio. A bandeira superior e que dá garantias ao sistema russo MIR é a operadora chinesa Union Pay.
Os russos também podem usar cartões bancários 'MIR' no exterior - nos países onde são aceitos. Atualmente existem dez países: Peru, Vietnã, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Ossétia do Sul e Abecásia.
O NPCS russo propôs o sistema chinês Union Pay como bandeira internacional de seu cartão. Assim, o cartão Mir-UnionPay, que é aceito na Rússia, também opera em outros 180 países. O China Union Pay é o sistema nacional de pagamentos da China, sendo que desde 2005, adquiriu status internacional. Ultrapassou a Visa e a Mastercard no volume de transações processadas em todo o mundo desde 2015, devido ao grande tamanho do mercado doméstico, onde os sistemas de pagamentos estrangeiros são praticamente ausentes.
O sistema não para no acordo com as instituições bancárias russas. Bancos asiáticos estão habilitando este cartão com bandeira dupla. Se projetarmos o modelo para praças financeiras volumosas, como Índia, Irã e Paquistão e está montado um sistema não sancionável e autárquico da Ásia.
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Alternativas eurasiáticas ao Sistema Swift e o controle dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU