25 Fevereiro 2022
A automação da fabricação nos EUA – robôs substituindo pessoas no chão de fábrica – está alimentando o aumento da taxa de mortalidade entre os adultos em idade ativa dos Estados Unidos, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores de Yale e da Universidade da Pensilvânia.
A reportagem foi publicada por Yale University, 23-02-2022. A tradução e edição são de Henrique Cortez.
O estudo, publicado na revista Demography, encontrou evidências de um nexo causal entre automação e aumento da mortalidade, impulsionado em grande parte pelo aumento das “mortes por desespero”, como suicídios e overdoses de drogas. Isso é particularmente verdadeiro para homens e mulheres com idades entre 45 e 54 anos, de acordo com o estudo. Mas os pesquisadores também encontraram evidências de aumento da mortalidade em vários grupos de idade e sexo por causas tão variadas quanto câncer e doenças cardíacas.
Políticas públicas, incluindo fortes programas de rede de segurança social, salários mínimos mais altos e limitação do fornecimento de opioides prescritos podem atenuar os efeitos da automação na saúde de uma comunidade, concluíram os pesquisadores.
“Durante décadas, os fabricantes nos Estados Unidos recorreram à automação para se manterem competitivos em um mercado global, mas essa inovação tecnológica reduziu o número de empregos de qualidade disponíveis para adultos sem diploma universitário – um grupo que enfrentou aumento da mortalidade nos últimos anos", disse o principal autor, Rourke O’Brien, professor assistente de sociologia na Faculdade de Artes e Ciências de Yale. “Nossa análise mostra que a automação afeta a saúde dos indivíduos tanto diretamente – reduzindo empregos, salários e acesso à saúde – quanto indiretamente, reduzindo a vitalidade econômica da comunidade em geral”.
Desde 1980, as taxas de mortalidade nos Estados Unidos divergiram das de outros países de alta renda. Hoje, os americanos, em média, morrem três anos mais cedo do que seus pares em outras nações ricas.
A automação é uma das principais fontes do declínio dos empregos industriais nos EUA, juntamente com outros fatores, incluindo a concorrência com fabricantes em países com custos trabalhistas mais baixos, como China e México. Pesquisas anteriores mostraram que a adoção de robôs industriais causou a perda de cerca de 420.000 a 750.000 empregos durante as décadas de 1990 e 2000, a maioria dos quais na fabricação.
Para entender o papel da automação no aumento da mortalidade, O’Brien e os coautores Elizabeth F. Blair e Atheendar Venkataramani, ambos da Universidade da Pensilvânia, usaram medidas recém disponíveis que mapeiam a adoção da automação nas indústrias e localidades dos EUA entre 1993 e 2007. Eles combinaram essas medidas com dados de atestados de óbito dos EUA no mesmo período para estimar o efeito causal da automação na mortalidade de adultos em idade ativa no nível do condado e para tipos específicos de mortes.
De acordo com o estudo, cada novo robô por 1.000 trabalhadores levou a cerca de oito mortes adicionais por 100.000 homens com idades entre 45 e 54 anos e quase quatro mortes adicionais por 100.000 mulheres na mesma faixa etária. A análise mostrou que a automação causou um aumento substancial de suicídios entre homens de meia-idade e mortes por overdose de drogas entre homens de todas as idades e mulheres de 20 a 29 anos, adultos em idade ativa durante o período do estudo. Os pesquisadores também descobriram evidências associando os empregos perdidos e os salários reduzidos causados pela automação com o aumento de homicídios, câncer e doenças cardiovasculares em grupos específicos de idade e sexo.
Os pesquisadores examinaram áreas de políticas que poderiam mitigar os efeitos nocivos da automação. Eles descobriram que programas robustos de rede de segurança social, como Medicaid e benefícios de desemprego, em nível estadual, moderaram os efeitos da automação entre homens de meia-idade, particularmente mortes por suicídio e overdose de drogas. As políticas do mercado de trabalho também suavizam os efeitos da automação em homens de meia-idade: os efeitos da automação foram mais pronunciados em estados com leis de “direito ao trabalho”, que contribuem para taxas mais baixas de sindicalização, e estados com salários mínimos mais baixos, de acordo com o estudo.
O estudo encontrou evidências sugestivas de que o efeito da automação nas mortes por overdose de drogas pode ser maior em áreas com maior oferta per capita de opioides prescritos.
“Nossas descobertas ressaltam a importância das políticas públicas no apoio a indivíduos e comunidades que perderam seus empregos ou viram seus salários reduzidos devido à automação”, disse Venkatarmani, coautor do estudo. “Uma forte rede de segurança social e políticas de mercado de trabalho que melhorem a qualidade dos empregos disponíveis para trabalhadores sem diploma universitário podem ajudar a reduzir as mortes por desespero e fortalecer a saúde geral das comunidades, particularmente aquelas no coração industrial de nossa nação”.
Os autores do estudo são membros do Opportunity for Health, um grupo de pesquisa que explora como as oportunidades econômicas afetam a saúde de indivíduos e comunidades. O estudo foi apoiado pela Administração de Segurança Social dos EUA.
Rourke O’Brien, Elizabeth F. Bair, Atheendar S. Venkataramani; Death by Robots? Automation and Working-Age Mortality in the United States. Demography 2022; 9774819. doi: link disponível aqui
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pesquisa nos EUA relaciona automação ao aumento da mortalidade por suicídios e overdoses de drogas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU