08 Fevereiro 2022
“Ou somos irmãos ou tudo vai desmoronar. E esta não é meramente uma expressão literária digna de tragédia, não, é a verdade! Ou somos irmãos ou tudo vai desmoronar, vemos isso nas pequenas guerras, nesta terceira guerra mundial aos pedaços, como os povos são destruídos, como as crianças não têm o que comer, como a educação decai... É uma destruição. Ou somos irmãos ou tudo vai desmoronar”. É o que o Papa Francisco quis mais uma vez repetir na vídeo-mensagem por ocasião do segundo dia internacional da Irmandade humana, criada pelas Nações Unidas, para exortar o mundo a se opor à lógica do conflito e a se enraizar no que ele chama de "âncora de salvação para a humanidade".
A reportagem é de Stefania Falasca, publicada por Avvenire, 05-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para o Papa Francisco, a fraternidade é um dos valores fundamentais e universais que deveria estar na base das relações entre os povos, “para que aqueles que sofrem ou são desfavorecidos não se sintam excluídos e esquecidos, mas acolhidos e apoiados como parte da única família humana".
Um terreno que, nos últimos anos, encontrou compartilhamento com o grande imã Ahmed Al-Tayeb.
Em 4 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco, em sua viagem apostólica aos Emirados Árabes Unidos, assinou junto com o grande imã de al-Azhar o "Documento sobre a fraternidade humana em prol da paz mundial e a convivência comum". E hoje encontra expressão em um caminho comum, que o próprio Al Tayeb quis reiterar e divulgar em uma de suas vídeo-mensagens: "Esta celebração significa a busca de um mundo melhor em que prevaleça o espírito de tolerância, fraternidade, solidariedade e colaboração", afirmou.
Uma comemoração, explicou o grande imã sunita, que "indica também a esperança de fornecer instrumentos eficazes para enfrentar as crises e os desafios da humanidade", olhando em particular para "os vulneráveis: órfãos, pobres, deslocados, aqueles que sofrem pela dureza da vida, mas também àqueles cujos corações estão endurecidos por uma disponibilidade de riquezas com as quais exercem autoridade e poder”.
Palavras em plena sintonia com as do Papa, que recordou também as suas palavras no encontro inter-religioso em Ur dos Caldeus, no Iraque, há menos de um ano, e como o caminho da fraternidade é longo e difícil, mas representa a âncora de salvação para a humanidade. Por isso, “aos tantos sinais de ameaça, aos tempos sombrios, à lógica do conflito, contrapomos o sinal da fraternidade que, acolhendo o outro e respeitando a sua identidade, o convida a um caminho comum. Não iguais, não, irmãos, cada um com a sua própria personalidade, com a sua singularidade”.
A mensagem do Papa e aquela em vídeo do "caro irmão" de al-Azhar abriram assim a Mesa Redonda da Fraternidade Humana e da Aliança para a Tolerância Global, que com o Cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e os membros do Alto Comitê criado para promover os princípios do Documento assinado há três anos celebraram em Dubai esta segunda Jornada sobre o tema "Sob o mesmo céu" e o terceiro aniversário da assinatura do histórico Documento que em Abu Dhabi deu início ao caminho.
Ambos, depois, agradeceram a todos que trabalham pela paz apesar dos obstáculos da pandemia: em um mundo atravessado por conflitos, é mais do que nunca necessário que quem é chamado a tomar decisões em nível internacional persevere nesse compromisso. Afinal, a diretriz da fraternidade foi anunciada pelo Papa Francisco já em suas primeiras palavras pronunciadas logo após sua eleição ao trono de Pedro: “Rezemos pelo mundo inteiro para que haja uma grande fraternidade”.
Com essas palavras, no início do seu pontificado e com a escolha do nome, Francisco tinha de fato indicado imediatamente o seu programa: a fraternidade universal, a ser estendida não só a todos os seres humanos, mas também à terra e a todas as criaturas vivas. E com a encíclica Fratelli tutti, que se apoia sobre a pedra angular franciscana da fraternidade, pressupõe uma refundação cultural que dê sustentação ao desígnio da fraternidade, para que não se limite a considerá-la um instrumento ou um desejo, mas delineie uma cultura de fraternidade a ser aplicada às relações internacionais para superar os males e as sombras de um mundo destinado a implodir.
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O apelo do Papa ao mundo: ou somos irmãos ou tudo vai desmoronar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU