25 Novembro 2021
O bispo alemão Heiner Wilmer, que é amplamente considerado como um “bispo de Francisco”, disse que o papa quer “virar a Igreja de cabeça para baixo”.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippit, publicada por La Croix International, 24-11-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O bispo alemão Heiner Wilmer, que é próximo do Papa Francisco, reclamou que a Igreja Católica “jogou fora toda a confiança das pessoas na instituição” devido à negligência na crise de abusos sexuais.
“Proteger a instituição e os perpetradores sempre foi o fato mais importante para a Igreja. Proteger as vítimas, por outro lado, simplesmente não ocorria”, disse o bispo Wilmer, de 60 anos, chefe da Diocese de Hildesheim, no norte da Alemanha.
Ele fez seus comentários a cerca de 200 representantes de grupos religiosos, sociais e políticos que se reuniram para uma recepção anual patrocinada pela diocese em Hannover.
O bispo estava substituindo o cardeal Reinhard Marx, que teve de cancelar sua participação depois de testar positivo para o coronavírus.
Wilmer, cujo discurso se intitulou “SOS – Não é menos importante que salvar nossas almas”, alertou que a Igreja Católica já não poderá ter um papel dominante na sociedade.
“A Igreja como instituição encolherá e será muito mais modesta. Será apenas uma voz entre muitas se oferecendo para explicar o sentido da vida na terra”, disse ele.
“Embora seja menor, será ecumênica. Nossa fé abrangerá uma área menor, mas crescerá em profundidade e em suas raízes bíblicas”, previu.
Heiner Wilmer estava completando seu terceiro ano como superior geral mundial dos Dehonianos (Sacerdotes do Sagrado Coração) em 2018 quando o papa o escolheu para ser bispo de Hildesheim.
E muitos na Alemanha dizem que o ex-chefe dos dehonianos é verdadeiramente “um bispo de Francisco”.
Ele se concentrou em três questões-chave durante seu discurso em Hannover: Quanto os bispos ainda têm a dizer hoje? O que as pessoas procuram? E as Igrejas ainda têm alguma utilidade hoje?
Dom Wilmer disse que os tempos em que os bispos podiam tratar as pessoas com condescendência “desde cima” de maneira patronal, “quanto mais de se considerarem acima da lei”, acabaram.
“Hoje em dia, as pessoas confiam mais em um vendedor de carros usados do que em um bispo”, disse ele.
Ao mesmo tempo, argumentou ele, as pessoas estão, mais do que nunca, em busca de orientação e estabilidade. Ele disse que a pandemia do coronavírus e as mudanças climáticas exacerbaram essa sensação de estar perdido.
Mas o bispo lamentou que, no exato momento em que as pessoas buscavam um ponto de referência, a Igreja Católica se deparasse com um monte de ruínas.
No entanto, ele reconheceu que ainda havia uma demanda para que a Igreja atuasse como mediadora e construtora de pontes quando os interesses se chocassem em questões ecológicas ou sociais.
Quando dom Wilmer abriu a fase diocesana do processo sinodal em 23 de outubro, ele disse aos católicos de Hildesheim que o papa queria “virar a Igreja de cabeça para baixo”.
O bispo insistiu que a distribuição de poder dentro da Igreja deve mudar.
“Deve haver um fim de cima a baixo da maneira clerical usual”, enfatizou Wilmer.
“É necessária uma nova visão da sexualidade e devemos pensar novamente sobre o papel do sacerdócio”, disse ele. “Precisamos de uma justa participação de gênero na Igreja”.
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Dom Heiner Wilmer, surpreende com a sinceridade: “A Igreja é um estilhaço do que já foi” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU