26 Outubro 2021
É uma evidente injustiça que os pobres não tenham alimentos na Índia, apesar de que o país os produza em abundância, afirma o jesuíta indiano Irudhaya Jothi, estudioso e promotor do direito à alimentação, analisando a situação da segurança alimentar no país e tocando o tema dos protestos dos agricultores.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 22-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O jesuíta comenta à Agência Fides: “A Índia está classificada em 101º lugar entre 116 países no Índice Global da Fome de 2021. No entanto, é uma terra de fartura. Em termos de reservas alimentares, temos muito mais do que precisamos para saciar a fome do mundo inteiro e todos poderiam se alimentar no país”.
No entanto, ele explica, “a comida não é distribuída proporcionalmente na Índia. O paradoxo é que o governo planeja enviar grãos de alimentos para a produção de etanol (um composto químico orgânico) porque há grãos demais. Mas, se assim for, o governo deve dar prioridade às pessoas que não têm comida e passam fome”, afirma o padre Jothi, que também é assistente social.
“A Índia está em um péssimo estado de distribuição de alimentos devido a políticas erradas, o país está nas mãos de grandes multinacionais. E as políticas adotadas pelo governo não são a favor dos pobres. É uma situação preocupante que nos deixa perplexos”, afirma.
O governo – continua o padre – não deve fazer concessões no que diz respeito à fome. “Procuramos nos projetar como um dos países mais brilhantes e avançados do mundo, enquanto milhões de pessoas carecem de comida”, diz o padre, destacando essa contradição.
Como dados e estudos recentes mostraram, a pandemia de covid-19 piorou o panorama da fome na Índia e em outras partes do mundo em desenvolvimento. “O Movimento pelo Direito à Alimentação conduziu a pesquisa sobre a fome em muitos estados da Índia. Os resultados desta pesquisa foram apresentados ao governo, mas o governo não deu atenção a isso”, disse o padre Jothi, falando de famílias que ele conhece pessoalmente e que estão sofrendo com a fome.
“A fome é uma coisa séria na Índia. Isso é o que diz o Índice Global da Fome 2021. Temos que pressionar o governo para corrigir seu programa de apoio às grandes empresas engajando-se com os pobres. Exigimos que o governo distribua imediatamente os cereais aos pobres. É um chamado urgente”, diz ele.
O padre Jothi também expressa sua preocupação por ocasião do “Dia Mundial da Alimentação”, celebrado em 16 de outubro, no qual muitos organismos internacionais se concentram nos problemas da pobreza e da fome. De acordo com as estatísticas sobre a fome no mundo, 785 milhões de pessoas em todo o mundo (uma em cada nove) não têm alimentos suficientes para levar uma vida saudável. A maioria deles vive em países em desenvolvimento.
O Dia da Alimentação na Índia se cruzou com o mais longo protesto dos agricultores da história do país, que começou em 26 de novembro de 2020 em Nova Delhi e ainda está em andamento. Após o fracasso das primeiras mesas de negociação, o governo indiano se recusou a ouvir as demandas dos fazendeiros.
“As leis anti-agricultura devem ser revogadas para proteger a agricultura indiana e milhões de agricultores pobres da absorção completa pelas grandes empresas”, disse Rakesh Tikait, líder do Bharatiya Kisan Union, um dos principais sindicatos do setor.
Em setembro de 2020, o Parlamento indiano aprovou uma ampla reforma agrária por meio de três projetos de lei separados, entregando o setor a grandes empresas agroalimentares internacionais. Os agricultores indianos, muitos analistas e ONGs veem um grande risco de implementar um sistema que leva a um empobrecimento ainda maior (e, portanto, a uma crise alimentar) dos agricultores.
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“A Índia se projeta brilhante e avançada, mas vende a fome da população às multinacionais”, afirma o jesuíta Irudahaya Jothi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU