Na próxima quarta-feira, 13-10-2021, a biblista Anne-Marie Pelletier abordará a crise do cristianismo na perspectiva das mulheres, no XX Simpósio Internacional IHU – Cristianismo, Sociedade, Teologia. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transformação
A declaração da biblista francesa Anne-Marie Pelletier em entrevista a Lorenzo Fazzini, publicada no sítio Avvenire no início deste ano e reproduzida na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, pode soar um tanto estranha em um mundo em que as mulheres não são apenas um ator social em destaque, mas reivindicam tal papel, especialmente se for lida apressadamente: "Eu acabo perdendo um pouco a paciência quando ouço as pessoas repetirem que 'precisamos dar lugar às mulheres' quando, em vez disso, a primeira coisa a fazer é reconhecer o lugar que elas ocupam nas paróquias, na catequese, nas missões. Sem elas, a Igreja já teria desaparecido". Entretanto, para quem acompanha as reflexões de Anne-Marie Pelletier, o comentário é bastante pertinente e demonstra seu esforço por um entendimento diferente acerca do protagonismo que as mulheres exercem dentro da Igreja, que também se deixa contaminar pela guerra entre os sexos.
Profa. Dra. Anne-Marie Pelletier. Foto: Site pessoal
A declaração da teóloga também expressa sua compreensão sobre a Igreja e o papel das mulheres na instituição. "A Igreja não é primeiramente a sua hierarquia, mas antes de tudo um corpo, que essa hierarquia tem a função de servir. Esse corpo é composto por homens e mulheres que, nos seus diversos estados de vida, se reconhecem convocados pela palavra de Cristo. Esse povo de batizados doa carne e presença ao Evangelho no mundo, muitas vezes em silêncio, mas de maneira autêntica. E é preciso admitir que as mulheres, nesse corpo, ocupam um lugar eminente, aliás dominante, porque, em muitos lugares e circunstâncias, são o rosto e a mão da Igreja para os nossos contemporâneos", constata.
Na próxima quarta-feira, 13-10-2021, às 10h, Anne-Marie Pelletier participará do "XX Simpósio Internacional IHU – Cristianismo, Sociedade, Teologia. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transformação", promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU. O tema da conferência é "A crise do cristianismo hoje. Uma abordagem na perspectiva das mulheres". O evento será transmitido na página eletrônica do IHU, no Canal do IHU no YouTube, nas redes sociais e também com a opção bilíngue pela plataforma Zoom. Para garantir certificação de participação, é necessário realizar inscrição e acompanhar as informações para o registro de presença nos chats das atividades.
Nomeada pelo Papa João Paulo II para atuar como observadora no Sínodo dos Bispos de 2001 e, mais recentemente, em abril deste ano, nomeada pelo Papa Francisco para integrar a nova Comissão de Estudo sobre o Diaconato Feminino, Anne-Marie diz que "desde a década de 1960, o magistério tem prestado uma atenção inédita às mulheres. Nunca antes houve tanto elogio à mulher por parte das autoridades da Igreja. Ainda assim, na Igreja Católica, as mulheres - em grande número - continuaram a se sentir marginalizadas, vendo-se designadas a cargos secundários, tratadas com condescendência, às vezes desprezadas por um mundo clerical que arroga a si toda decisão". Apesar disso, sublinha, "o ponto central é que nós, homens e mulheres, estamos juntos na responsabilidade pelo Evangelho e na missão da Igreja".
Em janeiro deste ano, Anne-Marie também comentou a carta apostólica na forma de Motu Proprio Spiritus Domini, publicada pelo Papa Francisco em 11-01-2021. Em entrevista a Sophie Lebrun, publicada na revista La Vie, e reproduzida no sítio do IHU, ela manifestou sua opinião sobre a decisão do Papa de abrir o ministério instituído do leitorado e do acolitado, até então reservado aos homens, também às mulheres. A mudança, afirma, "tem um valor simbólico indiscutível na medida em que permite que as mulheres tenham acesso aos ministérios instituídos, os quais só os homens podiam reivindicar. É aí que reside a novidade. Já não se trata apenas de vislumbrar e permitir uma participação extraordinária das mulheres na ação litúrgica, como se faz amplamente. É a realidade de um ministério instituído que é legitimado. Canonicamente, transpomos uma fronteira. E isso é muito feliz. Estamos deixando para trás uma certa fobia em que as mulheres deveriam ficar à margem do institucional, para que a ordem clerical não fosse questionada".
Ao ser perguntada especificamente sobre o seu protagonismo dentro da Igreja, a partir de sua participação na nova Comissão de Estudo sobre o Diaconato Feminino, Anne-Marie foi direta, em entrevista a Céline Hoyeau, publicada no La Croix no ano passado e reproduzida no sítio do IHU: "Segundo a tradição católica, a pessoa é chamada a um cargo de responsabilidade; ninguém se candidata a ele. Em segundo lugar, não é certo que a melhor forma de renovar a instituição Igreja seja disputando espaço ou as funções existentes. A mulher deve ocupar os lugares institucionais, certamente, mas não necessariamente conquistando as formas existentes de poder".
Questionada também sobre o desejo de algumas mulheres de aspirarem ao sacerdócio e a discussão acerca da ordenação de mulheres na Igreja, ela foi pontual: "Se um dia a mulher aceder ao sacerdócio ministerial – hipótese atualmente excluída –, então que seja diferente, sendo vivido e praticado de forma um pouco diversa, com mais vida. Caso contrário, será só uma questão de poder e competição". E advertiu: "Há muitos espaços onde as mulheres precisam ser mais ativas, hoje, no exercício da autoridade e para inspirar novas formas de governança. Espaços como a paróquia, conselhos episcopais, os conselhos papais. Por que não?"
Em artigo publicado em 2018, a teóloga francesa também fez um apelo para repensarmos radicalmente nossa visão e atuação na Igreja e pela Igreja. Em comunhão com o Papa Francisco, ela também reitera um ponto central do Evangelho, que tem sido uma marca do pontificado de Francisco: a misericórdia. "Ele é também a pessoa que insistiu com vigor que a misericórdia é toda a mensagem do Evangelho, o que permitiu que o seu discurso transcendesse as fronteiras da Igreja. Portanto, a misericórdia é o que devemos implementar em nossa relação com o mundo em lugar de uma estreiteza moralizante que desfigura a mensagem do mundo católico. Não é uma questão de entrar na lógica das relações de poder, que de fato está muito ativa dentro da Igreja. Pelo contrário, significa que nós, como cristãos, devemos conhecer o que demandamos da instituição, a fim de cumprir fielmente a missão confiada por Cristo".
Anne-Marie Pelletier é licenciada em literatura moderna e possui doutorado em Estudos da Religião. É professora emérita da Université Paris-Est-Marne-la-Vallée. Suas publicações se concentram na hermenêutica bíblica (D’âge en âge, les Écritures, Lessius, 2004) e na antropologia (Questions éthiques et sagesse biblique, 2018). Há vários anos, ela também busca uma reflexão sobre o feminino sob o prisma da revelação bíblica (Le christianisme et les femmes, 2001 ; Le signe de la femme, 2006 ; L’Église, des femmes avec des hommes, à paraître au Cerf en septembre 2019).
No dia 09-11-2021, Alec Ryrie, pastor anglicano e professor visitante de História da Religião do Gresham College, Inglaterra, ministrará a palestra "Valores cristãos, valores seculares e por que eles precisarão uns dos outros na década de 2020", às 10h. Ele é Bacharel em História pela Cambridge University, Mestre em Estudos da Reforma pela University of St. Andrews e Doutor em Teologia pelo St. Cross College, de Oxford, Inglaterra. Sua tese foi publicada em formato de livro com o título "The Gospel and Henry VIII". Ele é presidente da Sociedade de História Eclesiástica, editor do The Jorunal of Ecclesiastical History. É autor dos livros "Private and Domestic Devotion in Early Modern Britain" (Ed. Routledge, 2016), "Unbelievers: An Emotional History of Doubt (Ed. Harvard University, 2019).
Prof. Dr. Alec Ryrie. Foto: Gresham College | Flickr CC
Para assistir à palestra de abertura do XX Simpósio Internacional IHU - A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transformação, intitulada "Presença fragmentada. O mal-estar pós-moderno do Cristianismo", ministrada pelo Prof. Dr. Armando Matteo, acesse o vídeo abaixo.
Em 11 de junho, foi ministrada a conferência "A Igreja e união de pessoas do mesmo sexo: o Responsum e seus impactos pastorais", pelo Prof. Dr. Michael G. Lawler e o Prof. Dr. Todd A. Salzman, que também integram a programação do Simpósio. A palestra está disponível no vídeo abaixo.
A conferência do Prof. Dr. Charles Taylor, intitulada "Secularização e o papel do cristianismo hoje. Desafios e perspectivas", foi ministrada no dia 17-06-2021, e está disponível a seguir.
Também integra a programação do Simpósio a conferência A Igreja e a união de pessoas do mesmo sexo. O Responsum e a possibilidade de novas abordagens, ministrada pelo Prof. Dr. Andrea Grillo em 21 de junho, disponível abaixo.
No dia 17-08-2012, Todd Salzman, professor na Creighton University, EUA, ministrou a palestra "O magistério moral da Igreja no contexto do pontificado do Papa Francisco: desafios e perspectivas", disponível no vídeo abaixo.
Em setembro foram realizadas duas conferências. No dia 02-09-2021, a teóloga Tina Beattie, especialista em questões de ética e de feminismo, membro da direção da revista católica britânica The Tablet, ministrou a palestra intitulada "Mulheres na vida da Igreja. Avanços e obstáculos no Pontificado de Francisco". No dia 09-09-2021, Felix Wilfred, professor Emérito da Universidade Estadual de Madras, tratou sobre "O cristianismo em face das grandes questões do mundo atual. Desafios e Perspectivas". Ambas estão disponíveis abaixo.
Na semana passada, 07-10-2021, o teólogo italiano e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, Andrea Grillo, abordou "A crise do cristianismo e o futuro da fé cristã. Desafios e possibilidades para a teologia hoje". A conferência está disponível a seguir.
XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição
Logo do Ano Inaciano.