28 Setembro 2021
"Compreendendo o amor à maneira de Deus, Lancellotti conclui dizendo que o amor alimenta a esperança", escreve Eliseu Wisniewski presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro Amor à maneira de Deus (Planeta, 2021, 160 p.).
Refletir sobre a vivacidade do amor de Deus. Esse é o escopo da obra Amor à maneira de Deus (Planeta, 2021, 160 p.), de autoria de Júlio Lancellotti. O referido autor é pedagogo e padre católico. É coordenador da Pastoral do Povo de Rua na cidade de São Paulo. Há mais de vinte e cinco anos (25), exercer a função de pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, Zona Leste de São Paulo. É referência nacional na defesa dos Direitos Humanos e dedica-se, há mais de trinta anos, à assistência à população marginalizada. Participou da fundação da Pastoral da Criança e na formulação do Estatuto da Criança do Adolescente (ECA) e tem atuado fortemente junto a menores infratores, detentos em liberdade assistida, pessoas carentes e em situação de rua, imigrantes sem-teto e refugiados. Em 2020, ganhou o 7º Prêmio Dom Paulo Evaristo Arns, de Direitos Humanos, pela Prefeitura da cidade de São Paulo, e o 17º Prêmio USP de Direitos Humanos, na categoria individual.
Capa do livro "Amor à maneira de Deus",
(Planeta, 2021, 160 p.), de autoria de Júlio Lancellotti.
(Foto: Editora Planeta)
Tendo em consideração a trajetória de sua vida pessoal e ministerial, Lancellotti deixa claro que o “Senhor não nos pede grandes discursos sobre o amor. Nem grandes espetáculos de amor. O amor se demonstra no pequeno gesto e se encontra no pequenino que estende a mão para recebê-lo” (p. 14). Não se trata, portanto de discorrer sobre o amor, mas vivenciá-lo e testemunhá-lo. Assim em meio às reflexões encontraremos “algumas histórias pessoais que ilustram o amor à maneira de Deus. Não é um guia, é como eu tenho me posicionado em resposta a esse amor na minha história” (p. 14).
A obra coloca o leitor diante das seguintes indagações: Deus me amou primeiro; como eu o tenho amado de volta? Como eu tenho transbordado esse amor para as pessoas que escolhi ter ao meu redor? Como respondo ao amor de Deus na vida pública, convivendo como pequenos e grandes? E, por fim, como o amor de Deus tem me marcado, e quais são as implicações dele na minha vida? As respostas dadas por Lancellotti a estas perguntas estruturam os cinco (5) capítulos do livro: 1) O escandaloso amor de Deus (p. 17-43), 2) Amor aos pequeninos (p. 45-69), 3) Amor as poderosos (p. 71-97); 4) Amor no seguimento de Jesus (p. 99-125), 5) As marcas do amor (p. 127-149).
Nestas páginas dentre muitos aspectos do amor, o autor ressalta que o amor tem implicações práticas para a nossa vida e consequências sociais: “A força do Reino de Deus está no amor, e a força do amor divino é a desordem”(p. 65). “O Deus da rua vai na contramão da história, que é orientada pelo poder. Não é o Deus do senso comum, que evita o conflito, a contradição, a contestação. O Deus da rua contesta, desordena, inverte, questiona”. Assim, reconhecer Jesus na rua é reconhecer um conflito” (p. 51). “O amor só fará sentido quando formos capazes de entender a gratuidade” (p. 41). “Ninguém ama por obrigação. Agimos com amor e gratidão livremente” (p. 38). “O que vai nos libertar é a força do amor, que não tem medo de lutar contra a tirania dos poderosos. Somos livres não porque carregamos uma arma escondida, mas porque não há arma nenhuma. Não queremos conquistar nada com arma nem com força” (p. 78). “Apenas o amor pode nos ajudar a caminhar em justiça” (p. 89). “O amor é engajamento transformador (p. 90). “Amar é uma palavra provocante, porque é um verbo de ação. É transformar, enfrentar mesmo com vulnerabilidade. Não é calar. Amar é se manifestar e defender. Isso é terrivelmente transformador” (p. 91) “O amor defende a vida, mas não faz sem critérios, sem fundamentação” (p. 116). “Amar dói” (p. 128).
Compreendendo o amor à maneira de Deus, Lancellotti conclui dizendo que o amor alimenta a esperança. Dai a necessidade de perseverar no amor (p. 155), sabendo que teremos o mesmo destino de Jesus: perseguições e incompreensões (p. 157).
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Sobre este livro que mostra claramente que o amor é um “verbo de ação” (p. 91), Luiza Erundina, assistente social e deputada federal diz que Padre Júlio é “um profeta do amor nos tempos modernos”. Por sua vez, Leonardo Boff qualifica o Pe. Júlio como um “pastor no seguimento do Bom Samaritano: cuida com desvelo daqueles que são esquecidos por um sistema perverso, que deixa milhares de pessoas caídas no caminho, doentes, famintas e abandonadas. Mas também é pastor: anuncia o amor humanitário, a solidariedade com os que padecem, especialmente o carinho aos invisíveis e esquecidos. Sente-se na palma da mão de Deus. Sabe que abraçando um empobrecido está abraçando o Cristo que nele se esconde”. O testemunho de vida de Pe. Júlio faz com que a leitura deste livro seja “um alento nos tempos difíceis que enfrentamos”, nas palavras de Luiza Erundina. E o seu testemunho é convincente...
A sensibilidade pastoral de Pe. Júlio Lancellotti levará não somente a refletir sobre a importância de amar à maneira de Deus, mas a meditação destas páginas será incentivo para que se passe para a vida quotidiana de cada pessoa na sua responsabilidade na prática de amar tornando crível o Evangelho.
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Amor à maneira de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU