28 Setembro 2021
Definitivamente, os fiéis voltaram à Praça São Pedro depois da pandemia. Milhares de peregrinos se aproximaram da praça para rezar, junto ao Papa Francisco, o Angelus deste domingo, no qual Bergoglio advertiu a tentação, tão presente em nossa Igreja, de “exibir nosso ‘carnê de fiel’ para julgar e excluir”. E onde também teve um gesto de “proximidade e solidariedade” para os que “foram atingidos pela erupção do vulcão na ilha de La Palma, forçados a abandonar seus lares”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 26-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Na Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado, muitos dos presentes eram símbolo dessa Igreja, dessa sociedade, que não exclui, que acolhe. “Todos estamos chamados a vigiar nosso coração, para não sucumbir ao mal e escandalizar os demais”, explicou o Papa, comentando o Evangelho de Jesus, que continha uma tentação e uma exortação.
“A tentação é de se fechar. Os discípulos queriam impedir uma obra de bem apenas porque quem a realizava não pertencia a seu grupo. Pensam que tem ‘a exclusividade sobre Jesus’ e que são os únicos autorizados a trabalhar pelo Reino de Deus”, lamentou. Algo que continua ocorrendo, hoje. A postura que considera a si mesmo “prediletos e consideram os outros como estranhos, até se converter em hostis com eles”.
“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto – como sabemos – é a raiz de tantos males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra aqueles que são diferentes”.
Frente a isso, é necessário “estarmos vigilantes sobre o fechamento na Igreja”, porque “o diabo é o divisor – isto é o que significa a palavra ‘diabo’ – sempre insinua suspeitas para dividir e excluir”. Assim, “tenta com astúcia, e pode ocorrer como a esses discípulos, que chegam a excluir inclusive aqueles que haviam expulsado o próprio diabo”.
“Às vezes também nós, em vez de sermos comunidade humilde e aberta, podemos dar a impressão de ser ‘os primeiros da classe’ e ter os outros à distância, em vez de tratar de caminhar com todos, podemos exibir nosso ‘carnê de fiel’ para julgar e excluir”, alertou o Papa, que pediu “a graça de superar a tentação de julgar e de catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do ‘ninho’, que nos faz custodiar zelosamente um pequeno grupo que se considera bom: o padre e seus fiéis, os trabalhadores pastorais fechados entre eles para que ninguém se infiltre, os movimentos e as associações no próprio carisma particular, etc.”.
“Tudo isso corre o risco de fazer das comunidades cristãs lugares de separação e não de comunhão. O Espírito Santo não quer se fechar; quer abertura, comunidades acolhedoras onde tenha lugar para todos”, destacou.
Finalmente, a exortação: “Em vez de julgar tudo e todos, estejamos atentos a nós mesmos! De fato, o risco é o de ser inflexível para os outros e indulgentes para nós mesmos”. Nisto, “Jesus é radical, exigente, porém pelo nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e frutificar no amor. Perguntemo-nos então: O que há em mim que contrasta com o Evangelho? O que quer Jesus, em concreto, que eu corte de minha vida?”, finalizou o Papa que pediu à Virgem “para que nos ajude a sermos acolhedores para os outros e vigilantes sobre nós mesmos”.
Depois da oração do Angelus, o Papa recordou a jornada de hoje, pedindo para “caminhar juntos, sem preconceitos, sem medos, colocando-nos ao lado dos mais vulneráveis: migrantes, refugiados, vítimas de tráfico, descartados... estamos chamados a construir um mundo cada vez mais inclusive, que não exclui ninguém”, frisou, saudando os representantes de distintas raças reunidos em Roma, e a todas as instituições.
“Antes de deixar a praça, convido-lhes a visitarem aquele monumento, onde está o cardeal Czerny, a barca com os migrantes, e a se deterem aos olhares dessas pessoas, e acolher a esperança que está nos olhos de cada migrante para recomeçar a viver. Se aproximem, não fechemos a porta à esperança dos migrantes”.
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Papa Francisco alerta sobre a tentação de “exibir nosso ‘carnê de fiel’ para julgar e excluir” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU