23 Agosto 2021
“Minha feliz descoberta no início de meu aprendizado a rezar foi que a espiritualidade que eu estava aprendendo é uma espiritualidade muito inteligente – embora também simples – das mudanças de humor. Cada mudança de humor pode nos dominar, nos distrair, nos levar a problemas. No entanto, para não permitirmos que isso nos controle, rezemos para que o Espírito nos encontre nas oscilações e desvios de humor, e então acolhamos a calma da paz de Deus quando ela chegar”, escreve o jesuíta australiano Michael Kelly, em artigo publicado por La Croix International, 20-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A vida tediosa infligida pela tentativa de prevenir a disseminação do coronavírus é também uma oportunidade para muitas outras coisas que não são entediantes.
Sim, nós podemos gastar muito tempo apenas esperando por uma mudança e lamentando pelo confinamento, restrições e aborrecimento que vêm por tentar prevenir a disseminação do vírus para nós e através de nós.
Mas também há benefícios chegando se decidirmos procurá-los.
Incluem aumento do tempo para estar com as pessoas mais próximas (mesmo que virtualmente), leitura, exercícios, perder peso e também algo que nem sempre é considerado – renovar uma vida de oração como uma pessoa contemplativa.
A contemplação pode não ser algo que consideramos muito na época em que vivíamos pobres vidas em um ritmo frenético em nossas vidas pré-pandêmicas.
Mas, na verdade, descobri que podemos começar uma tentativa de ser mais contemplativos a partir do momento em que abrimos os olhos pela manhã.
Minha mãe me ensinou isso quando eu era criança. Ela me encorajou a fazer uma oração quando acordava pela manhã. Ela sugeriu que eu rezasse: “Obrigado, Senhor, por me trazer a este novo dia”.
Isso permite um foco consciente em me encontrar e me envolver com Deus, enquanto aguardávamos a voz mansa e delicada de Deus responder à oração de gratidão e apreciação.
Foi assim que aprendi, ainda criança, a discernir como a presença de Deus na minha vida seria e como a sentiria. Desenvolvi o gosto pela presença de Deus e aprendi a saber quando poderia ter certeza de que estava realmente na presença de Deus.
Estar na presença de Deus não é realmente difícil de descobrir. O objetivo de toda oração é estar e viver cada vez mais profundamente na presença de Deus.
Mais tarde na vida, aprendi que acolher a presença enriquecedora e fortalecedora de Deus em minha vida consciente era permitir que a experiência de “consolação” tomasse conta de mim.
E foi um grande encorajamento para mim saber que a principal pessoa em cuja tradição de oração eu estava aprendendo como jesuíta – a de Santo Inácio de Loyola – apreciava a consolação, acima de tudo como meio de crescimento espiritual.
A consolação, ensinava Santo Inácio, é o objetivo da oração. Mas isso não é algo que podemos simplesmente apertar um botão e sermos abençoados depois de apertá-lo.
O que precisamos fazer é pedir ao Espírito que nos leve até lá, e então nos abrirmos e esperarmos pacientemente até que Deus nos conceda nossa prece. Pode chegar até nós rapidamente ou muito lentamente. Não depende de nós e não se desenrola de acordo com o nosso tempo.
Mas Deus não nos deixa sozinhos quando pedimos ajuda divina. E na oração, isso vem como consolo – alegria, paz, perdão, transformação espiritual.
Mas isso não é tudo o que podemos sentir, e minha feliz descoberta no início de meu aprendizado a rezar foi que a espiritualidade que eu estava aprendendo é uma espiritualidade muito inteligente – embora também simples – das mudanças de humor. Cada mudança de humor pode nos dominar, nos distrair, nos levar a problemas.
No entanto, para não permitirmos que isso nos controle, rezemos para que o Espírito nos encontre nas oscilações e desvios de humor, e então acolhamos a calma da paz de Deus quando ela chegar.
Então, temos uma nova oportunidade de encontrar Deus, deixar o Espírito tomar conta de nós e encontrar nosso caminho para a alegria, paz, perdão e transformação espiritual que vem com a conversão autêntica.
Esta transformação cura e renova tanto em tempos de profunda turbulência, conflito, mágoa e surpresa indesejável, quanto no tipo de tempo que vivemos agora – tedioso, repetitivo e aparentemente infinito.
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Rezando em meio à opressão do tédio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU