Manaus (AM) – No centro histórico de Manaus, as praças construídas para serem espaços de lazer ganham uma nova função para aqueles que não têm onde dormir: a de moradia. Entre os moradores de rua estão Francisco Cleomar, 58, e Neia Bentes, 56, casados há três décadas. O casal mora na rua há quase dois anos. Os dois são vítimas do desemprego causado pela pandemia da Covid-19.
A reportagem é de Wérica Lima, publicada por Amazonia Real, 12-08-2021.
Foi na Praça da Matriz, onde a reportagem da Amazônia Real encontrou o casal, que Francisco enfrentou o coronavírus. Teve febre, sentiu calafrios e os demais sintomas da doença, além de fome. “Eu quase vou”, ele disse referindo-se à dor e ao sentimento de proximidade da morte que sentiu na época em que estava com a doença. Neia, sua esposa, precisou cuidar dele no banco da praça até conseguir ajuda para a internação hospitalar.
A refeição diária do dia é o “resto de comida” que eles encontram nas latas e caçambas de lixo. Foi revirando as sacolas de lixo e comendo “o que tinha” que Francisco adquiriu cisto e pedra no rim. Ele tem também um cisto na parte de trás do ombro. “Sinto muita dor. Quando a pandemia chegou foi pior ainda. A fome vem atacando. Juntamos coisas do chão para ir comendo. A gente não teve auxílio, não sabia como se cadastrar”, conta.
Naturais de Eirunepé, no interior do Amazonas, os dois chegaram a Manaus há cinco anos com a expectativa de mudar de vida. “Viemos de lá para a rua”, lamenta. Antes da pandemia, ele fazia diárias no porto de Manaus. “Emprego? Nunca vi emprego. Trabalhava por conta própria, juntando latinha, em carrinho de lancha, carregando. Chamavam para ajudar e eu ajudava e foi daí que eu peguei a Covid”, explica.
Francisco não faturava nem R$ 300 por semana e precisava pagar um aluguel de R$ 600. O casal nunca teve casa própria. “Quero voltar [à cidade natal], mas cadê recurso? E é caro. Aqui eu vendi tudo que tinha. Para sobreviver e pagar aluguel vendi geladeira, vendi fogão”.
O casal, além da fome e dos problemas de saúde, sofre diariamente com a violência da área onde fica a moradia improvisada. “Aqui todos nós somos humilhados, tudo querem pisar em cima da gente. Sofremos violência. Já teve gente que queimou mendigo em banco ali na área da Igreja dos Remédios [no centro antigo de Manaus]. A gente vê. Ontem mesmo a gente viu um homem atacando um mendigo ali. A gente ainda é roubado. Já meteram a mão no meu bolso, mas vão roubar o quê? Roubaram agora há pouco o carrinho que meu amigo usa para catar latinha. Eu tomei de volta. Poxa, é sacanagem o que fazem com a gente”.
O casal sem-teto Francisco Cleomar e Neia Sombra, que veio de Eirunepé, e dorme na Praça da Matriz, no centro de Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Francisco e Neia não foram os únicos a perder tudo na pandemia. Iva dos Santos, 39, precisou vender objetos pessoais para sobreviver. Chegou a catar latinha, mas o retorno financeiro era pouco e ela não conseguia mais pagar aluguel. Agora, Iva dorme na Praça dos Remédios. “O momento que mais marcou foi quando vim morar na rua. Cheguei sozinha. O meu desejo de todos os dias é sair da rua e arranjar emprego, pois é muito ruim viver assim. Hoje, por exemplo, já vai chover e a gente não sabe para onde vai, molha tudo, lençol e não tem onde lavar roupa, tomar banho, tem que tomar banho com roupa. Para se trocar tem que segurar um papelão. Tem que fazer as necessidades no chão”.
Iva recebe as últimas parcelas do Auxílio Emergencial de R $150. O dinheiro não cobre as necessidades de alimentação e higiene. Para ir ao banheiro, ela e outros moradores precisam pagar R$ 1 para usar o vaso sanitário e R$ 2 para tomar banho em um estabelecimento próximo à praça.
“Às vezes tem roubo também. A gente pega chuva, sol e ainda roubam. Já fui roubada várias vezes”, diz. A moradora, que já foi diversas vezes assediada por homens que passam no local, conheceu o namorado desempregado também nas ruas. Aldenor Oliveira, 37, está há seis meses dormindo nas praças do centro.
“A gente nunca espera ficar nessa situação. Perdi meu emprego, trabalhava com transbordo de carga, ia ser promovido, aí fui demitido na pandemia. Faço um bico aqui e ali às vezes”, afirma.
O casal que hoje está em situação de rua, Iva Vieira dos Santos e Aldenor Oliveira, na distribuição de sopa no centro (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
E quando a fome chega, o jeito é pedir. Carlos Costa, 29, vive na rua com a esposa e duas filhas, uma de 2 e outra de 4 anos. A solução encontrada para sobreviver é fazer uma placa e ir para a frente dos supermercados pedir ajuda e doação. É juntando moedas de 50 centavos e um real que o pai consegue alimentar a família.
“Ver meus filhos assim dá tristeza porque eu vim de uma família pobre, né? Todo pai de família tem o sonho de dar a seu filho uma boa roupa, uma boa comida. E eu por não ter emprego e uma condição financeira boa vejo minhas filhas nessa situação. Dá um desânimo, um desgosto, porque eu não queria que elas ficassem na beira de uma praça comendo comida que os outros trazem. Eu queria que elas tivessem as coisinhas delas”, resume.
Carlos era ajudado por entidades religiosas, mas na pandemia acabou indo morar na rua. “Eles falaram que iam me ajudar e na hora não ajudaram”, lembra. A preocupação atual é com os estudos das filhas. A mais velha já tem idade para ir à escola. “Mas como é que eu vou comprar material escolar para ela se eu não tenho trabalho?”, questiona. A filha menor, de 2 anos, não possui nenhuma documentação. O acesso à saúde também é limitado e as crianças estão com a vacinação atrasada.
Aline da Costa e Carlos Costa Jr, com as filhas Ana Vitória, 2 anos e Eloá Beatriz, 3 anos, na Praça dos Remédios (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
“Às vezes, a gente fica aqui na [praça] dos remédios ou na Matriz. A gente não tem lugar fixo. As vezes faço bico na Manaus Moderna [área do porto principal da capital amazonense], mas nem os conhecidos meus que eram pedreiros chamam. Com a pandemia diminuiu o trabalho”, relata “Eu não quero que minhas filhas passem pelo que eu passei, mas é difícil achar uma pessoa que diga ‘eu vou te ajudar’. Era só isso que eu queria”.
Foi no prédio Alcir Matos, localizado no centro de Manaus e onde moram pessoas vulneráveis retiradas da ocupação Cidade das Luzes em 2016, que Maria Terezinha da Silva conseguiu um espaço para dormir durante a pandemia. Atualmente o espaço abriga 18 famílias em situação de desemprego. Terezinha entrou no prédio após a pedagoga da escola de seu filho conhecer sua história e falar sobre o local.
Antes, Terezinha dormia em uma voadeira (pequena embarcação rápida) cedida por um amigo, com os dois filhos, que na época tinham 7 e 9 anos de idade, no porto do centro de Manaus. A família viveu assim durante três anos, desde que ela fugiu do apartamento onde morava por sofrer violência doméstica.
Terezinha precisava fazer vigília no barco devido ao medo da violência das ruas. Ela ficou sem ter onde dormir quando a voadeira afundou, no mesmo período em que a pandemia começou. Na época, Terezinha conseguia de R$ 20 a R$ 30 ticando peixe, o suficiente apenas para comprar o jantar dos filhos que costumavam fazer as demais refeições na escola.
Com a pandemia, ela ficou sem nenhuma fonte de renda e conseguiu um quarto no prédio Alcir Mato. “O tempo foi passando e a gente foi ficando [na ocupação]. Aqui a gente é feliz, foi o paraíso vir para cá pois meus filhos podem continuar estudando”, conta.
Atualmente, ela sobrevive por meio da doação de cestas básicas e do Auxílio Emergencial de R$ 375, além de fazer diárias como empregada doméstica. Após um ano e oito meses na ocupação, o maior medo é perder o lugar onde vive, pois as ameaças de despejo são constantes.
Em julho passado, a Prefeitura de Manaus retirou 22 famílias do local e prometeu um auxílio aluguel de R$ 300 por um ano, período que pode ser prorrogado por até seis meses. Maria faz parte de uma das 18 famílias que se recusaram a deixar o local. No entanto, ela teme ficar novamente sem ter onde morar, pois o prédio deve ser reformado. De acordo com a mãe de duas crianças, o valor do auxílio da prefeitura não é suficiente para viver em outro lugar.
“Isso aqui é tudo para mim. Eu não me sentiria bem em receber esse auxílio. Tem gente que saiu daqui com nove filhos, como é que vai alugar um quarto? Tem gente morando em galpão, pois com R$ 300 não dá para o aluguel”.
Simone Campos Castro, 26, é mãe solo de duas crianças de 5 e 2 anos. Ela está há seis meses no prédio ocupado, desde que perdeu o emprego de empregada doméstica devido a pandemia. “Eu estou sobrevivendo”, afirma. Ela depende do Auxílio Emergencial de R$ 375. “Me sinto desamparada. O pessoal da Semasc (Secretaria da Mulher, Assistência Social e Cidadania) não quer que a gente fique e é muita pressão para cima da gente. Tenho fé na reforma do prédio. Não consigo me ver em outro lugar, minha família não é daqui e estou sozinha com as crianças”.
Liderança na ocupação, a integrante do MMUM (Movimento de Mulheres Unidas por Moradia), Sebastiana Lopes, 57, já teve dois terrenos tomados anteriormente pela prefeitura e afirma que isso aconteceu mesmo ela tendo pagado por eles. “Eles que deveriam nos defender, não defendem. A gente quer se sentir amparado. Eu não me sinto amparada pela prefeitura. Nós ganhamos esse prédio para habitação. Tem muita gente por trás querendo transformar o prédio em outra coisa”.
Sebastiana está desde o início da ocupação lutando pelo direito de moradia. Ela afirma que os quartos desocupados na reintegração de posse foram lacrados para que não fossem mais habitados. “Já vieram muitos engenheiros aqui e disseram que o prédio está bom. A gente sabe que o prédio tem infiltrações, mas ele está seguro. Eu não entrei aqui para receber auxílio, entrei aqui com muita luta. Dormíamos em frente ao Ministério Público. Tem família chorando arrependida, mas a gente não pode fazer nada, pois já assinaram [o documento de desocupação]”.
Ao ser procurada, a assessoria da Semasc, responsável por retirar as famílias, informou que “não pode fazer acompanhamento contínuo em espaço ocupado de forma irregular porque senão é incentivada a permanência das pessoas em local de risco”.
Apesar da prefeitura ter emitido uma nota oficial de reintegração de posse do prédio em 20 de julho, o imóvel é cedido para fins de habitação de interesse social e mostra-se viável para moradia e sem probabilidade de desocupação, conforme a portaria Nº1.232 de 12 de fevereiro de 2018 da Secretaria de Patrimônio da União (SPU).
Em nota oficial, a prefeitura disse que a reintegração pôs fim ao drama das famílias retiradas e que a ação ocorreu “diante do grave risco à vida dos ocupantes por conta da precariedade do prédio”.
De acordo com a publicação do Fórum Nacional de Reforma Urbana a respeito da reintegração e do prédio, a Defensoria Pública da União esclarece que “os moradores estão adotando mecanismos para afastar os riscos e as irregularidades, e que os ocupantes se encontram seguros para permanência no local”.
Grupo de voluntários da Sopaterapia se reúne em uma casa no centro de Manaus para cozinhar e distribuir sopas e cestas básicas (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Deborah Lira Fonseca, 29, contou parte de sua história à reportagem enquanto aguardava a preparação da sopa distribuída por voluntários do projeto Sopaterapia no centro de Manaus. Ela está desempregada, tem cinco filhos e perdeu o padrasto e o avô que a ajudavam nas despesas. Precisou vender objetos que possuía para pagar dívidas.
“Imagine cinco crianças com fome dentro de casa sem nada para comer e chorando. A gente, adulta, até que aguenta, mas criança não. Compro lata de conserva por R$ 2,50, salsicha. Eu nunca tinha passado por isso, quando trabalhava eu comprava frango, carne. Não é fácil a situação. No começo até que não passei por tanta necessidade por causa do Auxílio Emergencial, mas agora R$ 375 não dá para nada. A gente tem que comprar o gás que está 120”, diz.
A respeito da Sopaterapia, Deborah destaca o cuidado do grupo com os moradores de rua. “Eles não olham a gente pelo jeito que nós somos. Tem gente que ajuda e olha dos pés à cabeça. Não é toda pessoa que é viciada em droga e bebida nessa situação. Tem gente que precisa mesmo. Não é fácil não”.
Déborah Lima Farias, desempregada, com as filhas Maria Vitória, 1 ano e Ana Clara de 5 anos, na fila da sopa no centro de Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Jucy Frank, 56, vive nos arredores da Praça dos Remédios. É morador de rua há 35 anos e depende de projetos como a Sopaterapia para sobreviver. Às vezes vigia carros para conseguir algum dinheiro. Os dias mais difíceis de alimentação são domingo e segunda-feira. Apesar de estar há tanto tempo na rua, ele conclui nunca ter visto algo igual.
“Em 35 anos na rua nunca vi uma situação como essa que estamos vivendo na pandemia. O desemprego está aí. Eu estou sentindo na pele que estamos sendo desprezados, não só os moradores de rua, mas as outras pessoas também que fazem o capital girar, o pessoal do comércio aqui, eles não estão sendo vistos pelas autoridades”.
Mesmo com as dificuldades, o morador busca pelos seus direitos. “Ano de eleição eu estou lá apertando aquela tecla [urna eletrônica] para dar meu voto. Quando as autoridades se elegem, esquecem do povo brasileiro que colocou elas lá em cima na Câmara, no plenário. Passam o dia sentados. Eu fico revoltado de ser manauara e ser desprezado porque as nossas autoridades não estão nem aí para esse tipo de pessoas”, protesta.
Jucy já foi agredido por não aceitar trabalhar apenas por comida e um lugar para dormir. “O tempo de escravidão já passou há muito tempo, estamos vivendo em outra época e eu não aceito isso. Eu quero trabalhar e ter meus direitos”.
O morador de rua Jucy Frank de Almeida na praça dos Remédios no centro de Manaus, tomando a sopa da Sopaterapia (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Beneficiada pelo projeto, a moradora de rua Iva Santos elogia a distribuição de alimentos para quem precisa. “Isso é muito bom, uma coisa divina. Hoje eu estava com fome e não tinha dinheiro para comprar comida. Aí eu estava pensando como que a gente ia se alimentar. Graças a Deus que apareceu. Todo dia a gente fica esperando a salvação”.
“Esse período de pandemia foi difícil demais. É muito difícil sobreviver. A Sopaterapia é ótima. É uma esperança. Às vezes tenho que pedir [comida], fico acompanhando onde tem distribuição”, conta João Paulo, mulher transgênero de 41 anos. Mais conhecida como babalu, a mulher enfrenta a homofobia nas ruas do centro e as tentativas de estupro.
A Sopaterapia surgiu em 2016 a partir de um grupo de amigos diante da necessidade de atender as pessoas em situação de rua. No início, de 20 a 30 sopas eram distribuídas semanalmente no centro de Manaus, sempre às terças-feiras. Com a chegada de imigrantes venezuelanos a média semanal de sopas distribuídas saltou para 700. Durante a pandemia, a equipe passou a distribuir apenas 160 pratos de sopas devido à queda no apoio dos doadores que apoiavam o preparo das refeições.
“A gente ficou com medo, muita gente deixou de participar, só que a gente viu que aquelas pessoas estariam totalmente desassistidas, porque muitos projetos sociais pararam. Então a gente continuou com todo respeito e cuidado diante da situação”, diz Paula Campos, advogada e uma das coordenadoras do projeto.
Além da distribuição de sopas, o projeto inclui a arrecadação e distribuição de cestas básicas, roupas e ração para os animais de rua. “A Sopaterapia é uma atividade importante também para a galera que participa. A gente percebeu que esse projeto acabou se tornando uma terapia para muitos que chegavam estressados, cansados. A gente já teve casos de amigos em depressão profunda que começaram a frequentar o projeto e foram se reerguendo, se libertando e até recebendo a cura”, ressalta Paula.
Zenide Costa, 67, participa da preparação das refeições há algum tempo com o marido. “Para nós é realmente uma terapia. A gente vem mais cedo, corta os legumes e é maravilhoso, faz um bem danado. O que mudou depois da Sopaterapia é a vontade de ajudar as pessoas, sabe? A gente busca entender as pessoas que não têm nada e vê que às vezes a gente tem tudo e reclama”.
Zenilde Costa, aposentada, do grupo de voluntários da Sopaterapia (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Atualmente, a sopa é preparada em uma casa cedida pela mãe de Paula. A preparação começa toda terça-feira, às 17h, e termina por volta das 21h. Às 21h30 o grupo sai para distribuir o alimento em uma rota fixa.
Estigmatizadas, estas pessoas sofrem com falta de políticas públicas que as atendam integralmente. Os dados sobre este grupo ainda são superficiais nas estruturas das instituições públicas.
Ao procurar as autoridades, a Amazônia Real identificou que tanto o governo do Amazonas quanto a prefeitura de Manaus não possuem levantamento atualizado da população de rua na capital amazonense. Ambos os entes deram um número aproximado entre 800 a 900 pessoas nesta condição, mas apenas as que são cadastradas em serviços de assistência social e de acolhimento, o que indica que o número pode estar defasado. Também não há dados de contágio e óbitos por Covid-19 nesta população.
A prefeitura não criou ações específicas para o período da pandemia. Segundo o Executivo municipal, manteve “projetos existentes antes da pandemia pela Secretaria Mulher, Assistência Social e Cidadania (SEMASC)”, tais como guarda de pertences, higiene pessoal e alimentação.
“Atualmente, a prefeitura possui 882 pessoas cadastradas nos equipamentos municipais (Centro Pop, Serviço de Acolhimento Institucional Amine Daou Lindoso e Abrigo Gecilda Albano). O Município ainda dispõe de dois abrigos para indígenas venezuelanos Warao, que não atende especificamente população em situação de rua, mas evita que essa população entre nessa condição”, diz nota da prefeitura.
O governo do Amazonas tem uma Gerência de Políticas à População em Situação de Rua (GPOP), vinculada à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc). Segundo o governo, o objetivo é “articular, formular e coordenar políticas voltadas para a população em situação de rua, buscando sua reinserção ao mercado de trabalho e buscando reativação ao vínculo familiar, bem como sua plena cidadania”.
Em fevereiro de 2021, foi inaugurado um abrigo emergencial temporário para atender população de rua. Em cinco meses, atendeu 190 pessoas. Francisco Cleomar foi uma das pessoas abrigadas, mas não por muito tempo, e a experiência não foi positiva. “Chegaram a levar a gente ali para o sambódromo. Foi só para fazer ‘enxame’. Depois botaram todo mundo para a rua. Deram um colchão para a gente dormir, passamos uns dois, três meses e depois falaram que tinha que sair todo mundo dali porque ia ter jogo”, disse ele a respeito do abrigo instalado na área de concentração do Centro de Convenções de Manaus, Sambódromo.
Um levantamento de um ano atrás feito pelo governo do Amazonas estima em 800 pessoas em situação de rua na capital amazonense. Deste então, o número não foi atualizado, apesar do estado ter passado por uma segunda onda da covid-19, ainda mais severa, no início do ano, e colapso na atenção à saúde.
No Brasil, a população em situação de rua cresceu 140% de setembro de 2012 a março de 2020, chegando a quase 222 mil brasileiros desabrigados. Os dados publicados no estudo “Estimativa da população em situação de rua no Brasil” pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) é o único a respeito. Não há no Brasil uma contagem oficial da população de rua em nível nacional, conforme explica o autor Marco Natalino, no estudo.
Morador de rua na avenida Sete de Setembro no centro de Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)