09 Agosto 2021
Primeiro os nossos cidadãos, depois, talvez, quem sabe. Estados Unidos, França e Alemanha responderam "não" ao apelo da Organização Mundial da Saúde, que pediu o adiamento da distribuição de uma terceira dose de vacinas para facilitar a chegada dos medicamentos em países com menos recursos. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, havia lançado a proposta na quarta-feira, destacando que o empenho de proteger a população da variante Delta é "compreensível", mas que há uma injustiça por trás desse projeto. “É inaceitável que os países que já usaram a maioria das doses usem ainda mais, enquanto as populações mais vulneráveis permanecem sem proteção”.
A reportagem é de Giampaolo Cadalanu, publicada por La Repubblica, 08-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Washington, Paris e Berlim rejeitaram a ideia. O primeiro Não veio dos Estados Unidos: "Acreditamos que seja uma escolha errada: podemos fazer as duas coisas", disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, acrescentando que os EUA doaram mais doses do que qualquer outro país. De acordo com o ministro da saúde alemão, "devemos primeiro garantir que as categorias mais ameaçadas, como idosos ou pessoas com sistema imunológico debilitado, sejam protegidas". Para essas pessoas, o risco de declínio na proteção é alto. Berlim relançou a oferta de 30 milhões de doses até o final do ano para países onde até agora a campanha de imunização nem começou: 80% dessa doação será administrada pelo sistema global Covax. Em agosto, o governo federal renunciou às unidades de vacinas Johnson e Johnson destinadas à Alemanha em favor de outros países europeus.
A reação da França se limitou a uma mensagem nas redes sociais do presidente Emmanuel Macron, que lembrou que "uma terceira dose será necessária para os mais vulneráveis e os idosos".
A Comissão Europeia preferiu afastar-se do embate, lembrando que todas as decisões sobre o uso de vacinas dependem das autoridades nacionais e acrescentando que metade da produção europeia de vacinas foi exportada. A Comissão Europeia e os governos contribuíram com três bilhões de euros para a Covax, a iniciativa internacional para distribuir doses suficientes para imunizar pelo menos 20% da população de 92 países de baixa renda.
Mas é difícil não ver razões de justiça no apelo Ghebreyesus: o acesso às vacinas tem sido desequilibrado, com as nações economicamente mais fortes assegurando para si quatro quintos dos medicamentos, garantindo assim à população mais de 50% dos vacinados. Nos países pobres, por outro lado, pouco mais de 1% completou o ciclo de vacinação. E esse desequilíbrio fica ainda mais claro nas avaliações da Agência Europeia de Medicamentos, que parecem deixar filtrar algumas dúvidas sobre a necessidade da terceira dose. A EMA, em conjunto com o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, quis enfatizar que as vacinas aprovadas até agora "oferecem um alto nível de proteção contra o risco de doença grave ou morte devido ao vírus Sars-Cov-2, incluídas as variantes, como a delta”.
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Um tapa na cara dos países ricos à OMS: “Primeiro a terceira dose para nós, depois veremos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU