29 Janeiro 2021
Os quatro anos do governo Trump revelaram muitas coisas sobre muitas pessoas. Sobre a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos, eles revelaram um grupo incapaz de representar toda a amplitude do ensino católico e inábil em agir em nome dos católicos e católicas estadunidenses.
Publicamos aqui o editorial do jornal National Catholic Reporter, 28-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No dia 6 de janeiro, quando uma revolta armada incitada pelo então presidente Donald Trump entrou no Capitólio dos Estados Unidos, ameaçou a segurança dos legisladores do país e causou a morte de pelo menos cinco pessoas, o arcebispo de Los Angeles, José Gomez, presidente da Conferência dos Bispos dos EUA, emitiu uma declaração de 124 palavras.
A declaração não mencionava Trump, não condenava a supremacia branca que obviamente animou muitos dos manifestantes nem a desprezível campanha de desinformação eleitoral de Trump, e não ia além de um nível de trivialidade.
No dia 20 de janeiro, quando Joseph Biden tomou posse como o 46º presidente da nação, o mesmo Gomez emitiu um comunicado de 1.250 palavras. Depois de dispensar os comentários de congratulação, ele prometeu que haverá áreas de “forte oposição” dos bispos em relação ao governo Biden. Em seguida, identificou pelo menos seis questões de desacordo, expondo-as longamente.
Se a intenção era de alguma forma envergonhar o segundo presidente católico do país pelas suas posições políticas, talvez seja um consolo que a vergonha não atingiu bem o alvo pretendido. Em vez disso, graças a uma repreensão pública sem precedentes do cardeal de Chicago, Blase Cupich, Gomez foi exposto ao se desviar dos procedimentos normais da Conferência e ao não ter dado a outros prelados o tempo necessário para revisar a mensagem a Biden.
“Imprudente” foi como Cupich chamou a declaração de Gomez. Um resumo adequado para toda a operação equivocada da Conferência dos Bispos dos EUA.
É hora de o Papa Francisco ordenar uma visitação apostólica para investigar o que deu errado com uma organização que começou durante a Primeira Guerra Mundial como um modelo de cooperação e de audácia nacional, e agora é um símbolo de divisão e de constrangimento nacional.
Os quatro anos do governo Trump revelaram muitas coisas sobre muitas pessoas. Sobre a Conferência dos Bispos dos EUA, eles revelaram um grupo incapaz de representar toda a amplitude do ensino católico e inábil em agir em nome dos católicos e católicas estadunidenses.
Declaração após declaração elogiando Trump, o homem que separou crianças refugiadas de suas famílias e as prendeu em gaiolas na fronteira com o México, pelos seus esforços “pró-vida”.
Embora as várias comissões da Conferência também emitissem declarações criticando Trump sobre a pena de morte e algumas outras questões, nenhuma delas teve o alcance do selo de aprovação “pró-vida”. E as críticas invariavelmente não mencionavam Trump pelo nome, fazendo apenas referências oblíquas ao “governo”.
Enquanto isso, os bispos demoraram quatro dias para dizer algo sobre o horrível assassinato de George Floyd pela polícia no dia 25 de maio, e, então, apenas os presidentes das comissões se pronunciaram. Gomez esperou ainda mais dois dias.
Pior ainda, Gomez e outras autoridades da Conferência participaram de uma teleconferência com Trump em abril, na qual o (ex-) mentiroso-chefe se autodefiniu como o “melhor [presidente] da história da Igreja Católica”. Também estavam na ligação o cardeal de Nova York, Timothy Dolan – o mesmo Dolan que, em 2010, passou por cima de um longo precedente e aceitou a presidência da Conferência no lugar do então vice-presidente, o agora aposentado bispo Gerald Kicanas, de Tucson, Arizona.
Não faz muito tempo que dois escritórios vaticanos decidiram lançar investigações separadas e prolongadas de irmãs católicas nos EUA. Embora o NCR provavelmente tenha sido o meio de comunicação que cobriu mais de perto essas investigações, ainda não temos certeza do que se tratava.
Aparentemente, a Leadership Conference of Women Religious (LCWR) exigiu a nomeação de um bispo supervisor em 2012 para garantir que a investigação se conformasse mais com “os ensinamentos e a disciplina da Igreja”. E comunidades individuais de irmãs precisaram passar por visitas de investigadores vaticanos a partir de 2009 por causa do medo da infiltração de “uma certa mentalidade secular”.
Infiltração de uma “certa mentalidade secular”: uma descrição apropriada para uma Conferência Episcopal que não poderia deixar de elogiar repetidamente o presidente mais perturbado e destrutivo da história. Francisco deveria investigar a fundo a organização, descobrir onde ela deu errado e implementar mudanças substanciais para que ela possa começar a falar novamente por todos os católicos e católicas estadunidenses.
Se a liderança da Conferência se encontrar em dificuldade para decidir a melhor forma de receber a visitação, talvez eles possam pedir conselhos a algumas irmãs.
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É hora de o Vaticano investigar a Conferência dos Bispos dos EUA. Editorial do jornal National Catholic Reporter - Instituto Humanitas Unisinos - IHU