27 Janeiro 2021
No fim da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, olhamos para os destaques e as esperanças de progresso rumo à unidade cristã.
A entrevista é publicada por agência Lutheran World Information (LWI), 25-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O ano de 2020 foi desafiador para as Igrejas, mas especialmente para quem trabalha nas relações ecumênicas, que “dependem muito do encontro direto e espontâneo”.
Refletindo no encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o secretário geral adjunto da Federação Luterana Mundial (FLM) para as Relações Ecumênicas, Prof. Dr. Dirk Lange, relembra um ano de “consolidação e pensamento crítico”, enquanto compartilha esperanças e desafios para os próximos meses.
Entre os destaques esperados para 2021 estão o desenvolvimento de um primeiro guia de estudo dos cinco aderentes do grupo da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, um relatório do grupo internacional de diálogo luterano-pentecostal, um primeiro encontro com a liderança do Exército de Salvação e, neste ano de aniversário da excomunhão de Lutero, uma “Palavra Comum” de Genebra e Roma, traçando a jornada compartilhada “do conflito à comunhão”.
Como você e a FLM se adaptaram às dificuldades causadas pela pandemia do coronavírus?
Tentamos ser realistas e nos concentrar no trabalho que pode ser feito enquanto as reuniões presenciais não ocorrem. Houve uma disponibilidade real de manter o nosso trabalho ecumênico no caminho certo, consolidando ou lançando novas bases para o momento em que pudermos nos encontrar novamente pessoalmente. Também foi um tempo de pensar criticamente sobre como ampliar o marco interpretativo das nossas atividades. O nosso testemunho está alicerçado em uma generosa tradição de confissão, resumida na expressão: “Ser luterano é ser ecumênico”. Mas o que isso significa na prática? Como podemos expandir nossos modelos de discurso ecumênico para incluir a realidade global da Igreja e a sua ampla variedade de desafios pastorais e sociais?
Em que aspectos você espera ver um progresso significativo no próximo ano?
É difícil escolher um exemplo, porque cada evento tem a sua contribuição única para o objetivo ecumênico geral. Uma questão-chave é a da recepção: embora grandes acordos doutrinais tenham sido alcançados, a comunhão eclesial – em muitas situações – continua não realizada, de modo que é preciso encontrar uma ponte entre o acordo doutrinal e a sua implementação ou recepção. Por exemplo, sob a égide da recepção, a Comissão Internacional Luterano-Anglicana para a Unidade e a Missão (Alicum, na sigla em inglês) iniciou seu trabalho, reunindo-se pela primeira vez e dando início ao processo de seleção de regiões do mundo onde concentraremos nosso trabalho de cooperação mais profunda.
Outra prioridade é desenvolver, expandir, contextualizar e implementar a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, e as cinco autoridades ecumênicas (anglicana, católica, luterana, metodista e reformada) têm se reunido regularmente para discutir como será essa nova forma de cooperação multilateral em praça pública. Agora que todas as traduções da declaração e dos documentos que a acompanham foram disponibilizadas – inclusive em italiano – o nosso próximo passo será produzir um guia de estudo para ajudar as paróquias locais a se engajarem com os frutos desse documento. Também estamos planejando desenvolver um material litúrgico compartilhado e esperamos ter algo pronto para a Semana de Oração do ano que vem.
Vocês têm uma reunião com os seus parceiros ortodoxos em breve, não é?
Sim, somos gratos por esse diálogo com a Igreja Ortodoxa Oriental e, após o cancelamento do nosso encontro do ano passado, temos procurado ativamente manter o fogo aceso até que possamos nos encontrar novamente. Nosso diálogo está centrado no Espírito Santo e, durante o nosso encontro online em março, vamos nos focar na bênção como uma obra do Espírito Santo nestes tempos extraordinários.
Este ano é o 500º aniversário da excomunhão de Lutero. Conte-nos como vocês marcarão esse evento.
Esta década marca muitos aniversários significativos da Reforma, levando ao importante 500º aniversário da Confissão de Augsburgo, nosso documento fundacional que também foi um apelo ecumênico. Hoje, estamos em uma jornada juntos, e o nosso foco não é contar uma história diferente, como diz o documento “Do conflito à comunhão”, mas sim “contar essa história de forma diferente”. Neste ano, se a Covid-19 permitir, teremos um rito de oração ecumênico e uma “Palavra Comum” publicada pela FLM e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos no fim de junho. Uma equipe de estudiosos já está trabalhando nas intrincadas questões históricas, teológicas e canônicas concernentes à excomunhão, assim como na subsequente recepção de Lutero, apesar dessa excomunhão.
Muitas pessoas esperam que esse encontro de junho marque um passo adiante na recepção de Lutero no mundo católico. Como você responde a elas?
Como eu disse, estamos colocando esse significativo aniversário em um contexto ecumênico mais amplo. Cinquenta anos de diálogo nos permitiram abordar experiências dolorosas, não como pedras de tropeço, mas como experiências de aprendizagem. As condenações do passado não determinam as nossas ações hoje, como a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação deixou claro. O documento “Do conflito à comunhão” já demonstrou uma nova abordagem a Lutero e à sua recepção tanto do lado católico quanto luterano. Esse documento também serviu de base para a comemoração conjunta da Reforma, em Lund, na qual luteranos e católicos deram graças pelos dons recebidos e redescobertos por meio da Reforma. A oportunidade e o desafio agora são aprofundar o nosso engajamento no serviço conjunto e na proclamação conjunta nos próximos anos.
Você também tem alguns novos compromissos ecumênicos na sua agenda, incluindo uma reunião com líderes do Exército de Salvação?
Sim, o secretário-geral da FLM, Martin Junge, e eu nos encontraremos online com o general do Exército de Salvação e o oficial ecumênico no início de fevereiro. É emocionante conversar com eles, já que uma reunião planejada para o ano passado foi cancelada devido à Covid-19. Na reunião do ano passado das Comunhões Cristãs Mundiais (CWC, na sigla em inglês), todos nós agradecemos pelo testemunho do Exército de Salvação e pela forma como eles continuaram trabalhando com as pessoas mais pobres que perderam sua renda e seus empregos como resultado da pandemia.
Outro desdobramento importante que vocês estão esperando é um relatório final do diálogo com as Igrejas pentecostais. Pode nos contar algo mais?
Sim, esse diálogo foi único na forma como procurou integrar realidades eclesiais contextuais dos países onde o grupo se encontrou nos últimos cinco anos, ouvindo assim o testemunho de luteranos e pentecostais nas Filipinas, Alemanha, Chile e Madagascar. A equipe de redação trouxe essas experiências para o tecido do texto, junto com as reflexões teológicas, e esperamos realizar o nosso encontro conclusivo na Califórnia no fim deste ano.
Então, você vê muita esperança no horizonte para 2021?
Sim, e eu gostaria de terminar mencionando o nosso diálogo trilateral com católicos e menonitas, que é um maravilhoso caso de progresso na recepção. No relatório trilateral “Batismo e incorporação ao Corpo de Cristo, a Igreja”, recém-publicado na revista Mennonite Quarterly Review, de janeiro de 2021, cada parceiro se compromete a refletir sobre “convicções sustentadas, dons recebidos e desafios aceitos”, levando em consideração novamente as nossas posições historicamente assumidas.
Para os luteranos, isso significa aprofundar a nossa compreensão sobre o status das crianças não batizadas, conforme refletido na Confissão de Augsburgo. A outra área real de esperança para mim é o grupo da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, no qual estamos examinando juntos o modo como comunicamos o significado da justificação, o que o Evangelho é para a sociedade de hoje. Esse é um desafio enorme, mas emocionante para todos os cristãos!
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Parcerias ecumênicas em um mundo pós-pandêmico. Entrevista com Dirk Lange, da Federação Luterana Mundial – FLM - Instituto Humanitas Unisinos - IHU